Mãos solidárias reconstroem casa para vítima de violência doméstica
Iniciativa nasceu de um apelo nas redes sociais e transformou-se rapidamente numa luz de esperança para uma jovem mãe vítima de violência doméstica. Uma vivenda em Salvaterra de Magos está a ser recuperada com a solidariedade de muitos para ser o seu novo lar.
Saiu de casa há mês e meio com um filho na barriga, outro de dois anos pela mão e um saco de plástico na outra. Sentiu-se perdida, desamparada, com medo de acabar a viver debaixo de uma ponte, mas consciente que o risco maior morava dentro de casa. Apresentou queixa à polícia e a Cruz Vermelha Portuguesa encontrou-lhe uma pensão. Não bastava. Lançou então um apelo nas redes sociais e a resposta que procurava chegou de Salvaterra de Magos. Eram cinco da manhã quando Ângela Duarte se meteu no carro e foi a Lisboa buscar a jovem de 27 anos, vítima de violência doméstica.
“Podia estar a mentir-me, podia estar a meter-me em problemas, mas não pensei duas vezes. Tinha que ajudar aquela mulher”, conta, a O MIRANTE, Ângela Duarte que abrigou em sua casa a jovem grávida e o seu bebé.
Numa tentativa de ajudar esta vítima de violência doméstica, cujo nome não divulgamos para sua própria protecção, Ângela Duarte lançou, por sua vez, um apelo solidário nas redes sociais. De Salvaterra difundiu-se rapidamente para o concelho vizinho de Benavente e por aí fora. “O plano foi, desde o início, encontrar uma casa para ela morar e poder reconstruir a sua vida, mas para isso precisávamos de uma casa, de mobílias e electrodomésticos”. E foi assim que a solidariedade entrou em acção.
Casal de empresários ajuda na recuperação do futuro lar
Na pequena vivenda, caiada de branco, as obras de requalificação avançam. Se a obra continuar a este ritmo a jovem deverá estrear a casa remodelada em meados de Abril. E o próximo passo já está decidido: ajudá-la a encontrar trabalho para que consiga sustentar-se a si e aos seus filhos.
“Temos trabalhado todos os dias, para que fique pronta o mais rápido possível. Já temos material, estamos a arranjar o que falta e, felizmente, já conseguimos através de doações uma cama, berço, sofás e alguns electrodomésticos”, explica Ângela Duarte com um brilho nos olhos e restos de tinta a sarapintarem-lhe as mãos e braços.
Às suas mãos juntam-se as de Cristina e Hélio Bento, um casal de empresários da construção civil que resolveu associar-se a este projecto solidário. “Quando entrei dentro desta casa deu-me vontade de voltar para trás”, confessa Cristina Bento que praticamente todos os dias, depois do trabalho, vai rebocar paredes, pintar, substituir telhas, mosaico e azulejos para a vivenda branca que Ângela Duarte arrendou por 200 euros.
Quando lhe perguntamos porque o fez, a resposta sai sem hesitação. “Imagino que seja difícil vermo-nos sem saída, com um filho nos braços e sem outra alternativa senão ir para debaixo da ponte”, diz a construtora civil da freguesia do Granho. Depois acrescenta: “Se saio daqui estourada? Saio, mas vou para casa de coração cheio”.
Outras empresas e particulares têm ajudado na compra de materiais de construção ou simplesmente doam o que têm lá por casa sem utilização, o que “já é uma grande ajuda”, salienta Ângela Duarte. Também o proprietário da habitação que estava em muito mau estado ajudou na compra de material.