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Tatiana Bond é um exemplo na luta contra o cancro e o Estado
Tatiana Bond é natural do Cartaxo e é um exemplo na luta contra o cancro e na procura de medicamentos que lhe prolonguem a vida

Tatiana Bond é um exemplo na luta contra o cancro e o Estado

Tatiana Bond trava batalha contra um cancro incurável. Tinha 26 anos quando lhe foi diagnosticado o primeiro cancro, na mama. Cinco anos depois, já casada e com filhos, aparece novo cancro. Desta vez metástases no fígado. Deram-lhe seis meses de vida mas já passaram cinco anos. A farmacêutica de profissão precisa de um medicamento que lhe pode prolongar a vida por mais um tempo mas o Infarmed recusou a utilização de uso excepcional. Aos 37 anos garante que vai lutar até ao fim para viver o máximo de tempo possível com a família.

Tatiana Bond vivia em Inglaterra, em 2011, quando foi diagnosticada com cancro de mama. Tinha 26 anos e casamento marcado para dali a uns meses. Apesar da tristeza avassaladora, quando soube do diagnóstico lutou e ultrapassou a doença. Disseram-lhe que não podia ter filhos mas três meses depois a natureza provou que os médicos estavam enganados. Isaac nasceu em Dezembro de 2014 e Verena nasceu um ano depois. Natural do Cartaxo, Tatiana sabe que, no seu caso, o cancro é hereditário uma vez que existem muitos casos na família.
Seis meses depois da filha mais nova nascer, em 2016, foi-lhe diagnosticado novo cancro. Desta vez metástases no fígado. O oncologista disse-lhe que desta vez a doença era incurável e que não tinha mais de seis meses de vida. “O médico disse-me para ir aproveitar o tempo que me restava a criar memórias com a minha família. Não sou capaz de explicar o que senti naquele momento. A primeira reacção é de muita tristeza, desespero e impotência. Fui-me muito abaixo nessa altura porque os meus filhos eram bebés e não me passava pela cabeça morrer”, recorda.
Foi o marido, Mark Bond, que não desistiu e puxou pela esposa. Decidiram regressar a Portugal e em menos de uma semana estavam no Cartaxo. Tatiana passou a ser acompanhada pelo serviço de Oncologia do Hospital Distrital de Santarém e diz que tudo mudou. “Salvaram-me a vários níveis. Não só com o tratamento do cancro mas também com a minha saúde mental. Disseram-me que o cancro era incurável mas que não ia morrer já amanhã e que havia vários tratamentos para fazer”, conta a O MIRANTE.
Farmacêutica de profissão, Tatiana lembra-se que durante o primeiro tratamento uma enfermeira lhe disse umas palavras que lhe transmitiram uma força e coragem enormes. “Disse que via que já tinha desistido de mim própria, mas que nem a minha família, nem os meus amigos, nem a equipa médica, iam desistir de mim. Ainda hoje me lembro destas palavras porque foram fundamentais para lutar pela minha vida”, confessa.
Tatiana Bond tem realizado vários tratamentos que quando deixam de fazer efeito passam para outro. Recentemente, o médico pediu ao Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) a utilização de uso excepcional do medicamento Olaparib que tem tido bons resultados nos pacientes, sobretudo porque só actua ao nível das células tumorais. No entanto, o Infarmed recusou. “Tentei pedir mais informações sobre o motivo da recusa, mas o que recebi foi praticamente uma resposta automática a dizer que não analisam casos individuais e que o medicamento não era aprovado porque há alternativas terapêuticas”, relata.
A partir daí Tatiana tem lutado. Criou uma petição pública online que tem mais de onze mil assinaturas, o número necessário para o assunto ser debatido na Assembleia da República. O medicamento está disponível mas custa 7.500 euros por mês. E garante que não vai desistir. Quer viver o máximo de tempo possível embora se recuse a fazer planos.
“A minha doença vai sempre existir. Tento não pensar muito na esperança a longo prazo porque tudo o que for uma esperança de futuro pode ser doloroso quando não se concretizar. Fazer planos de vida para um mês já é muito tempo. Vivo um dia de cada vez. Não nos atrevemos a sonhar muito mais do que isso. Luto o máximo de tempo possível com a minha família”, garante.

A luta pelo acesso a um medicamento é a luta pela vida

Depois de uma tumorectomia e de vários tratamentos de radioterapia e quimioterapia, Tatiana Bond depositou no Olaparib a sua nova esperança. As alternativas terapêuticas sugeridas pelo parecer do Infarmed são a quimioterapia tradicional, que não é uma terapêutica dirigida para o tumor de Tatiana. “Traz muitos efeitos secundários. A qualidade de vida diminui muito com este tipo de tratamentos. Já fiz esta quimioterapia duas vezes. A outra sugestão que me fizeram foi terapia hormonal, mas eu também já a fiz e deixou de funcionar”, explica. “O Olaparib, sendo uma terapêutica dirigida, terá à partida menos efeitos secundários e acima de tudo dar-me-ia tempo de vida. Para mim este medicamento é vida. O Olaparib é dar-me vida, literalmente. Quero poder fazer bolos com os meus filhos, ir ao parque brincar com eles e ver o mar. Não quero ser uma mãe que está sempre na cama por causa dos efeitos secundários dos tratamentos”, realça. Tatiana Bond endereçou uma carta a Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed, e partilhou-a nas suas redes sociais. “Quero chegar aos ouvidos de quem tem poder de decisão e reverter esta decisão. Gostaria que aprovassem o meu tratamento, mas acima de tudo gostaria de desbloquear o acesso a este fármaco para que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) o possa financiar, porque o medicamento tem autorização de introdução no mercado. Há vários relatórios disponíveis no site do Infarmed que concluem que o medicamento funciona e tem uma excelente relação custo-benefício”, explica.

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