Mas todos sabemos como vai acabar
Esta verdadeira Irmandade da Ganância foi fundada, discretamente, durante o governo do Bloco Central que tomou conta da Administração Pública e pariu os grandes grupos económicos portugueses, que cresceram à sombra do Estado e se confundiram com ele. Quando as leis são feitas precisamente por aqueles que as leis deviam perseguir, a Estratégia contra a Corrupção resume-se sempre em fingir que se combate a corrupção, ao mesmo tempo que se abre a saca para arrecadar os novos fundos.
Devemos ao 25 de Abril a entrada na União Europeia, o que nos garante a Democracia, a Liberdade e uma sociedade de bem-estar a que não teríamos qualquer hipótese de aceder de outra forma, tendo em conta o contexto iliberal, conformista e conservador (no mau sentido) em que os portugueses cresceram e foram educados, mais vocacionado para a pedinchice, a lamúria e a sabujice do que para liderar, agir e fazer. Todas as instituições do Estado Novo chegaram ao dia 25 de Abril totalmente envelhecidas e corrompidas, incapazes de esboçar uma reacção, ainda que ligeira, ao movimento dos capitães.
No entanto, o poder político saído do 25 de Abril, em vez de ter arrancado pela raiz as instituições herdadas do Estado Novo, limitou-se a fazer-lhes a poda, o que levou a que estas voltassem a ganhar raízes e a florescer ainda com maior pujança e carregadas dos seus piores vícios: o centralismo, o caciquismo, o servilismo, o maniqueísmo, a corrupção, a cunha, o compadrio, a subserviência, a inveja, o respeitinho, a censura e a cultura iliberal de rebanho e de funil.
Parafraseando Fernando Pessoa, também podemos dizer que, com o 25 de Abril, “cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez”, mas ainda falta cumprir-se Portugal.
Com efeito, as convulsões do período revolucionário, o saneamento em massa das pessoas mais competentes e qualificadas, o assalto das instituições por gente sem qualificações, nem escrúpulos, e a bancarrota que se lhe seguiu, criaram as condições objectivas para a tomada do poder por uma Associação de Malfeitores, a que eufemisticamente se baptizou de Bloco Central de Interesses, cujo único objectivo era o saque e a pilhagem dos fundos comunitários. Esta verdadeira Irmandade da Ganância foi fundada, discretamente, durante o Governo do Bloco Central que tomou conta da Administração Pública e pariu os grandes grupos económicos portugueses, que cresceram à sombra do Estado e se confundiram com ele.
E, quando as leis são feitas precisamente por aqueles que as leis deviam perseguir, a Estratégia contra a Corrupção resume-se sempre em fingir que se combate a corrupção, ao mesmo tempo que se abre a saca para arrecadar os novos fundos.
Vejamos o caso do processo Marquês. Segundo o juiz de instrução, os crimes de corrupção estão todos prescritos, com base no acórdão n.º90/2019 do Tribunal Constitucional que decidiu fixar o início da contagem do prazo de prescrição na promessa de corrupção e não no final do pagamento do suborno, como seria lógico. E quando saiu este Acórdão? Por coincidência (há cada coincidência!), uma semana após a abertura da instrução?!... Até parece que foi de propósito… E, segundo já li em qualquer lado, isto “Só agora começou”… Basta, aliás, olhar para a cara e para as pernas dos camaradas do animal feroz para constatar isso: as perninhas tremem que nem varas verdes e os rostos revelam uma angústia extrema como se as suas sólidas carreiras políticas estivessem depositadas e a vencer juros na caixa forte do Dono-Disto-Tudo. Cuidado, camaradas! Que isto “Só agora começou…”
Mas a irmandade pode dormir descansada, porque todos sabemos como isto vai acabar… ainda que eu já não esteja cá para ver.