Gameiro apresenta e retira candidatura a Ourém em 5 dias
O deputado do PS António Gameiro está a ser investigado a propósito de um negócio da venda de um terreno em Monte Gordo onde há indícios de corrupção. A notícia surgiu dois dias depois da sua apresentação a líder da lista do PS à Câmara de Ourém. O embaraço na família socialista é notório com a distrital do PS e a coordenadora nacional para as autarquias a evitarem falar no assunto.
A coordenadora nacional do PS para as autarquias e a distrital do partido não se querem envolver no embaraço causado pelo deputado e candidato à Câmara de Ourém, António Gameiro, que retirou a candidatura cinco dias depois de a apresentar. Os socialistas ainda não estavam refeitos da machadada nas últimas eleições, em que tiveram de escolher um candidato substituto à pressa por causa da insolvência de Paulo Fonseca, perdendo a autarquia para o PSD. E agora têm de lidar com uma situação mais prejudicial para o partido, já que estão em causa suspeitas de corrupção. Maria da Luz Rosinha e Hugo Costa chutam a bola para o deputado, dizendo que a retirada da candidatura e a demissão da concelhia do PS foi uma decisão pessoal de Gameiro, na qual não tiveram qualquer influência.
O presidente da distrital, Hugo Costa, responde às perguntas como um disco riscado: “Acredita que o PS de Ourém apresentará a melhor solução”. A coordenadora para as autarquias, Maria da Luz Rosinha, também não se alonga, dizendo que é prematuro fazer considerações e lamentando a situação porque entendia que “era um bom candidato”. Mas o historial de António Gameiro já tem uma mancha com uma condenação por ter ficado com dinheiro de uma emigrante na venda de um apartamento quando acumulava a função de advogado com a de deputado. Um caso que teve o episódio caricato de Gameiro ter viajado para a Austrália com uma mala com dinheiro alegadamente para fazer contas com a cliente.
António Gameiro, que foi também presidente da distrital, demitiu-se de todos os cargos políticos, menos do de deputado, sendo substituído na presidência da concelhia pela vereadora Cília Seixo, que há quatro anos foi substituir à última hora o cabeça-de-lista Paulo Fonseca e que agora está a ser pressionada para tapar mais este buraco.
Gameiro está a ser investigado pela Polícia Judiciária no âmbito de um negócio imobiliário no Algarve, no qual foi consultor, e que levou à detenção e renúncia ao mandato da presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, Conceição Cabrita (PSD). Gameiro associa a necessidade de se demitir da concelhia e de retirar a candidatura de afastar o partido e Ourém deste caso, o que contrasta com a manutenção do cargo de deputado por, conforme diz, acreditar na presunção de inocência.
A operação da Judiciária a 13 de Abril, por suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem e abuso de poder, levou à detenção de quatro pessoas, tendo já a polícia pedido o levantamento da imunidade parlamentar de Gameiro, o que este já disse aceitar. Os inspectores fizeram buscas às suas duas casas e ao escritório onde é consultor, mas o deputado garante que não encontraram provas da prática de qualquer crime e que a sua ligação ao processo “é de natureza estritamente profissional, como consultor de um escritório de advogados”. O negócio imobiliário envolveu a venda de um terreno em Monte Gordo por 5,6 milhões de euros.
À margem
PS de Ourém ou tem azar ou está perdido
O PS deu o primeiro tiro no pé há quatro anos quando insistiu numa candidatura que se previa ser recusada pelo tribunal pelo facto de o presidente Paulo Fonseca ter entrado em insolvência. A recandidatura foi até perto das eleições com recursos judiciais mas os juízes não deram hipóteses às teses dos socialistas, sem força para contrariar o espírito da lei. E o PS perdeu a oportunidade de encostar a um canto o PSD, que sempre tinha gerido a autarquia e que a recuperou após dois mandatos socialistas. Os social-democratas têm o trabalho facilitado por culpa da acção do PS ou do azar do partido. À falta de outros quadros os socialistas agarram-se ao homem que sempre dominou o partido em Ourém e que é, como o próprio admite, um facilitador na Assembleia da República para ajudar quem precisa. O facto de escolherem um candidato com uma imagem negativa pela condenação num caso em que a justiça diz ter enganado uma cliente, revela que o PS de Ourém precisa de arrumar a casa.
O que está a acontecer agora é que há falta de pessoas disponíveis para serem candidatas à presidência do município e o partido tem como hipótese voltar a queimar a vereadora Cília Seixo, se esta gostar muito do PS ou se não puder dizer que não.