José Eduardo Carvalho alerta para a escassez de apoios às empresas
Presidente da Associação Industrial Portuguesa defende que se devem manter as moratórias, os diferimentos de pagamentos de impostos, o lay-off e as linhas de financiamento atendendo à contracção histórica do PIB.
O presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP) defende que têm de continuar as moratórias, os diferimentos de pagamentos de impostos, o lay-off e as linhas de financiamento para se evitar o agravamento da crise. José Eduardo Carvalho realça que, da mesma forma que a pandemia está longe de ser debelada, é importante manter as medidas de apoio e resiliência das empresas. O dirigente sublinha que há uma “contracção histórica do PIB (Produto Interno Bruto) como não houve desde 1945 (-7,6%)”.
Numa comparação entre Dezembro de 2020 e o mesmo mês de 2019, segundo o presidente da AIP, houve uma quebra nas exportações de 19% e no investimento de 5%. “No que se refere à dimensão empresarial verificamos que a taxa de desemprego só cresceu 0,3%, correspondendo a mais 20 mil desempregados. As insolvências desceram em 2020 (-8%) e as dissoluções permaneceram praticamente iguais. Mas temos de concluir que, perante este quadro, a combinação das medidas do Governo até Dezembro de 2020 foram eficazes e aguentaram a situação”, referiu.
José Eduardo Carvalho explica que começa a sentir-se a escassez de apoios às empresas e dá exemplos: “O valor per capita das medidas de apoio às empresas em Portugal foi de 23.636 euros. Na Europa, com apoios inferiores, só ficaram três países: República Checa, Eslováquia e Croácia”. Para o dirigente deviam existir conferências de imprensa para aferir da saúde da economia, tal como existem sobre saúde quinzenalmente.
José Eduardo Carvalho defende que são necessários projectos “com aplicações no chão de fábrica com implicações directas na produtividade”, acrescentando que também se deve apostar em alterações significativas na dimensão das empresas. “Só haverá alterações significativas na produtividade, na inovação, na intensidade exportadora e nos salários se a dimensão das empresas escalar. Vamos precisar de conceber e dinamizar instrumentos de financiamento. Veja-se o exemplo do fundo de investimentos criado pela Câmara do Fundão e a Portugal Ventures”, sublinha.
A AIP está a trabalhar na emissão de obrigações grupadas para PME e para o seu presidente os desafios que se colocam às estruturas associativas passam pela digitalização do tecido produtivo, criação e de estruturas de mediação e arbitragem, dinamização da procura nos processos de fusões e aquisições. O presidente da AIP deixa claro que “face ao brutal choque de selecção que vai haver no tecido empresarial vão existir fundos de reestruturação de empresas” e reafirma que as associações empresariais “têm de participar para dinamizar a procura e para aumentar a capacidade negocial das PME na aquisição de energia e outras utilities, agregando consumos e leiloá-los”.
José Eduardo Carvalho considera ainda que “o core das associações empresariais está a ser actualmente invadido por uma sobreposição de entidades e actores”, como as fundações, confederações, comunidades intermunicipais, clusters, universidades e outros organismos públicos. O dirigente diz-se surpreendido pela resignação da maioria das associações empresariais face à sobreposição daquelas entidades relativamente à internacionalização, inovação, gestão dos incentivos regionais, capacitação de empresário e técnicos e empreendedorismo. O presidente da AIP refere que algumas daquelas instituições têm acesso a subvenções para assistência técnica, formação dos seus colaboradores e para investimento, enquanto “as associações empresariais estão há 25 anos sem terem acesso directo a qualquer subvenção para qualificarem os seus recursos humanos e para se renovarem tecnologicamente”.