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Mona é uma criadora de bonecos que fazem a história da televisão
Simone Martins diz que o Ribatejo a ensinou a respirar e a viver com mais qualidade (foto DR)

Mona é uma criadora de bonecos que fazem a história da televisão

Simone Martins, ou Mona, como se recorda de ser tratada desde criança, é o rosto por detrás de muitas das máscaras e mascotes que chegam até ao público através da televisão. É em Vila Nova da Barquinha que encontra inspiração para muitas das suas criações.

Com 52 anos, uma vida cheia de energia, Mona é a criadora de personagens como o Panda, Crocs, Riscas, Juba e Kinkas, que fazem as delícias das crianças; os animais da selva de Um Bongo; Pico, o cão da Chocapic; a Vaquinha Mimosa; a Águia Vitória, do Sport Lisboa e Benfica; entre tantos outros que fazem parte do imaginário de pequenos e graúdos.

Nem só de mascotes se resume o trabalho desta artista. Mona faz grandes produções como foi o caso do trabalho que realizou para o programa “A Máscara” da estação SIC. “Poder fazer todo o guarda-roupa de uma pessoa é algo de que também gosto bastante, assim como dirigir e criar eventos, acções de marketing para espectáculos ou emissões televisivas”, diz, acrescentando que acabou de fazer isso mesmo para um programa de uma televisão francesa.

Como nasce cada boneco

As técnicas para produzir os bonecos são diversas e Mona continua a fascinar-se por cada uma delas. Os materiais variam entre o papel, a esponja, madeira, pelúcia, tecido e outros que podem parecer menos óbvios como o gesso, a resina de fabricação naval, ou mesmo materiais utilizados pelos dentistas para os moldes. Tudo pode ser utilizado desde que cumpra o seu objectivo final: humanizar um personagem.

A funcionalidade, leveza e durabilidade de cada fato é das coisas mais importantes para Mona. Conjugar tudo isto é trabalhoso. Cada mascote, desde a criação do desenho à produção tridimensional, demora, em média, entre um a dois meses. Tudo sai das mãos da artista que, contando apenas com mais uma pessoa na sua equipa, se sente a mãe de cada boneco.


A terra à beira Tejo que já sente sua

Vila Nova da Barquinha foi a terra que Mona escolheu para viver e que já não troca por outra. Chegou em 2012, depois de transferir o ateliê que tinha em Lisboa e de trazer consigo os clientes da sua empresa.

Conhecia a Barquinha de passagem. Já nessa altura tinha ficado encantada com tudo o que viu e sentiu pela terra e pelas suas gentes. “Vim para aqui e encontrei uma calma que não tinha. É uma inspiração. Tenho a tranquilidade e a estabilidade que são imprescindíveis. O Ribatejo ensinou-me a respirar”, assume.

Num trabalho onde tudo envolve prazos apertados, o stress pode tomar conta do dia a dia. Por isso, Mona diz ter aprendido muito com a terra e as gentes de Vila Nova da Barquinha. Inicialmente fechou-se no seu espaço de trabalho. Com o tempo foi aprendendo a ouvir a sua própria respiração e a música que vem das margens do Tejo ou da charneca.

Mona integrou-se na comunidade de uma forma que considera admirável e surpreendente. Por isso compra sempre que pode os materiais para o seu trabalho aos comerciantes da terra e da região. Foi conhecendo um a um conforme as necessidades e o que cada loja tem para oferecer. Mona ajuda os que estão próximos de si para ter de volta a hospitalidade das gentes da vila e os ensinamentos das tradições e da história dos locais.

A proximidade já fez com que Mona colabore em acções de voluntariado em várias instituições do concelho, como a Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova da Barquinha, levando até aos idosos mascotes que alegram as épocas festivas; a Fundação Dr. Francisco Cruz, onde anima crianças e idosos; e integra, ainda, o grupo de cantares Barquinha Saudosa.

“Sinto-me em dívida com tanta coisa boa que me dão aqui. Sou tão ousada que até o Tejo eu já chamo de meu”, diz Mona que no entanto não esquece as memórias da casa da avó, a infância e o aconchego desses tempos.

Uma vida de acasos

Portugal é hoje a sua pátria e a do seu filho. Nem sempre foi assim. Mona nasceu em São Paulo, onde viveu até 2006, altura em que decidiu rumar à Europa. Nunca gostou de grandes planos. Tudo aconteceu de forma tão natural. Como se estivesse sempre no sítio certo à hora exacta.

Ainda em criança encontrou aquilo que a apaixonava. Difícil não foi saber o que queria para o resto da vida; foi explicar à família que queria seguir as artes. “Venho de uma família em que todos são trabalhadores da administração pública. Quando disse que queria ser artista, acharam que estava louca”, conta com um sorriso.

Seguiu os seus sonhos sem olhar para trás e mostrou a todos que, afinal, as artes também são um emprego sério. Ainda na escola os professores foram-se apercebendo daquilo que Mona era capaz de fazer. “Eu estava metida em tudo; no tetaro, na decoração da festa de Natal ou da Páscoa, na pintura…tudo!”, relembra.

Foi ao longo dessa caminhada, sem planos, que entrou no Colégio de Artes Carlos de Campos, ainda no Brasil. “Foi naquele lugar que me encontrei com a minha alma. Apercebi-me que gostava mesmo era da parte técnica, dos figurinos, do cenário. Quando dei por mim já era assistente de alguns grandes cenógrafos, como José de Anchieta”, conta.

Chegou a trabalhar no Carnaval, depois de Jofe dos Santos a ter desafiado para criar uma escultura com mais de 10 metros de altura, em espuma. “Nem consigo explicar o quanto aprendi durante aqueles anos”, assume. Tudo foi aprendizagem. Ao longo dos anos nunca deixou de se apaixonar por cada nova técnica, por cada descoberta de um novo material.

Foi essa paixão pelo saber que a fez continuar os estudos e viajar para Portugal para conseguir um mestrado. Durante esse tempo fez pela vida; telefonou para várias marcas, apresentou propostas de mascotes e figurinos e o mundo do trabalho começou a dar frutos. Em pouco tempo já trabalhava para a Nestlé, o canal Panda, o Zoomarine, a PSP, a KidZania e tantos outros. Apaixonou-se cada vez mais pelas gentes e pelo país. Nasceu no Brasil mas hoje a sua pátria é Portugal e a sua terra preferida é Vila Nova da Barquinha.

Mona é uma criadora de bonecos que fazem a história da televisão

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