uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Consequências cardiovasculares da epidemia SARS-CoV2
Vítor Paulo Martins

Consequências cardiovasculares da epidemia SARS-CoV2

Sequelas cardíacas independentes de compromisso cardíaco pré-existente e da gravidade da doença Covid-19.

No momento atual temos perto de 2,5 milhões de pessoas em Portugal vacinadas. Cerca de 1 milhão já teve Covid e tem imunidade temporária. Isto explica em parte que o desconfinamento atual não levou a um aumento dos internamentos e do número de casos diários.

O momento atual é de recuperação do tempo perdido porque todos os indicadores nos dizem que temos hoje mais problemas de saúde em relação ao período pré-pandemia.

Os doentes com Covid-19 morrem sobretudo por insuficiência respiratória por destruição dos alvéolos pulmonares, mas as complicações cardíacas ocorrem nalgumas séries até 15% dos doentes levando muitas vezes à morte.

Pode ainda haver agravamento de doenças cardíacas preexistentes ou ocorrer novas situações de cardiopatia. Também medicamentos usados no tratamento da Covid-19 podem levar a arritmias malignas.

As consequências cardiovasculares em doentes Covid-19 têm que ver com o efeito direto do vírus nas células do coração, mas igualmente com efeitos indiretos relacionados com a resposta inflamatória e imunitária.
Dentro das complicações cardíacas mais frequentes salientam-se:

- Insuficiência cardíaca aguda com quadro de choque presente em 50% dos falecidos e em cerca de 15% dos sobreviventes previamente internados; - Enfarte agudo do miocárdio pela hipercoagulabilidade sanguínea e pela rotura de pequenas placas ateroscleróticas não obstrutivas; - Miocardites agudas diagnosticadas em 17% dos doentes internados em Enfermaria, 22% em doentes de Cuidados Intensivos e 60% dos falecidos; - Arritmias cardíacas malignas como evento final em Cuidados Intensivos.

Nos doentes aparentemente curados da Covid-19, alguns sintomas persistem. O cansaço é o mais frequente e estes casos podem traduzir envolvimento cardíaco e pulmonar que necessita de acompanhamento e aconselhamento.

Estas sequelas cardíacas são independentes de compromisso cardíaco pré-existente e da gravidade da doença Covid-19. Mesmo doença Covid ligeira pode deixar atingimento sintomático e estrutural futuro. O médico tem ao seu dispor alguns exames de diagnóstico de âmbito cardiovascular dos quais se salientam:
- Ecocardiograma modo MM, 2D e Doppler;
- Eletrocardiograma de 24 horas (Holter);
- Prova de Esforço;

Assim após Infeção por SARS-CoV2 deve ser feita uma avaliação clínica cuidadosa que poderá necessitar de alguns exames complementares de modo a programar um regresso seguro ao nosso quotidiano.

No entanto ainda mais grave, serão todos os outros pacientes que não tiveram Covid, mas deixaram de ter acompanhamento médico por razões variadas. Se a falta de disponibilidade dos médicos (envolvidos em outras atividades em equipas Covid) foi uma constante, foi sobretudo o medo de recorrer às instituições de Saúde que levou ao afastamento dos utentes desses mesmos cuidados. É imperioso mudar esta situação para termos novamente indicadores de saúde semelhante à era Pré-Covid.

*Médico Cardiologista e Arritmologista; Diretor Clínico da Clínica do Coração de Santarém; Diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital de Santarém.

Consequências cardiovasculares da epidemia SARS-CoV2

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido