A subida à colina dos tachos em elevador partidário, os áchetágues e a demolição da língua
Verdejante Serafim das Neves
Concordo com a tua proposta de um concurso televisivo de talentos das juventudes partidárias e acho que, depois da tua investigação sobre o Tiago Preguiça de Santarém e o Toni Gameiro Texugo, de Ourém, para além de outros jovens trepadores aqui da região, até devias fazer parte do júri.
Como o novo contrato de concessão do serviço público da RTP não permite a transmissão de touradas, um programa tipo “Jotas Got Talent - Portugal” vinha mesmo a calhar. Ocupava espaço, dava emprego a comentadores e analistas e permitia que as meninas que balançam as pernocas e abanam os rabiosques nas actuações dos cantores pimba tivessem umas folgas.
Anda muita gente entusiasmada a dizer que chegou a Portugal aquela coisa com um nome muito vanguardista, que já cá está há anos. É o tal #metoo, rabisco impronunciável, que o pessoal evoluído diz ser muito importante para as artistas de telenovela que foram assediadas ou abusadas. E é para artistas e outras estrelas porque, para as não artistas, já há a PSP, a GNR, os tribunais e uma data de comissões e associações.
Não sei se avance neste e-mail ou se pare por aqui até conseguires ler o tal palavrão. E não te preocupes se não conseguires porque isso acontece muita vez a muita gente, a começar pelas vítimas dos tais assédios, piropos rascas e propostas foleiras e abrutalhadas.
Ainda fui à internet pesquisar e fiquei a saber que #metoo é uma hashtag. Ou seja, fiquei a saber o mesmo, mas agora tenho duas coisas impronunciáveis. Sinto-me cada vez mais estrangeiro aqui na parvónia. E quando ligo a televisão não percebo mesmo nada.
Aquilo é de áchetágue para cima. Até fico com ou ouvidos a zunir e com os olhos tortos a tentar ler os rodapés áchetaguianos dos telejornais e as legendas dos filmes que, de há um tempo para cá, para além de semearam pontapés na gramática e palavras absurdas, pretensamente escritas segundo o novo acordo ortográfico, aderiram à moda das siglas.
O nosso Ribatejo também já começa a estar infestado de áchetágues. Mais uma praga para juntar às vespas asiáticas e às bestas autóctones. E até já há pulítikus que conseguem usar em simultâneo a tralha dos áchetagues e o acordo ortográfico adulterado.
Por falar nas máscaras elas estão a dividir a sociedade portuguesa. Uns recusam-se a usá-las e há outros que as usam até a tomar banho. E a atitude dos governantes, que tanto usam máscara como não usam, numa mascarada intermitente, não ajuda nada. E nos jornais são mais as fotografias de gente mascarada do que de gente de cara destapada. Um carnaval permanente mas sem sambistas gerado por uma comunicação institucional em que todos falam e são cada vez mais a falar, desde políticos, directores, militares de camuflado, virologistas amadores e outros papagaios.
Um abraço pré-pandémico
Manuel Serra d’Aire