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Trabalho e migrantes
P. N. Pimenta Braz

Trabalho e migrantes

Os políticos ribatejanos que concorrem às eleições autárquicas deste ano, bem poderiam reformular os seus programas eleitorais e abrangerem decididamente a integração e o acolhimento de trabalhadores migrantes sob pena de termos de verter muitas lágrimas de crocodilo num futuro próximo.

Vivemos numa região iminentemente agrícola e com uma substancial componente agroindustrial. Ainda bem. Importa, pois, desenvolver estas áreas de eleição, não descurando, obviamente, outra tipologia de investimento que permita diversificar o tecido produtivo e a oferta de trabalho - p.e., cheira por aí que a maior loja “online” do mundo poderá querer instalar um grande entreposto em Portugal: com “sagesse” Srs. Presidentes, esqueçam as rotundas e, por favor, dêem “corda aos sapatos”...

Bom, mas é uma evidência que a mão-de-obra lusitana escasseia, não apenas nos campos, mas também nas indústrias, o que não deixa de ser um paradoxo, quer face ao desemprego, quer à crise social que se vive. Só que este paradoxo é apenas aparente, dado que a sociedade responde a estímulos concretos e aqueles que têm sido dados não premeia a procura de trabalho: por um lado, algumas empresas oferecem salários deveras caricatos e, por outro, o Estado insiste numa política de emprego errada que não fomenta o trabalho.

Tudo isto a propósito da fresca, intempestiva e inacreditável descoberta que a nossa elite política fez sobre a existência de trabalhadores migrantes em condições indignas, condições essas que nos recordam, pungentemente, as “bidonville” de Portugueses nos arredores de Paris no século passado.

Mas eu posso avivar memórias encantadoramente deslembradas: existem, na verdade, milhares de trabalhadores estrangeiros nos campos deste pequeno País e, em particular, no Ribatejo. São muitos e vão ser cada vez mais! Aliás, vivemos numa época do ano em que vão chegar às ranchadas para as operações culturais que se avizinham. Nada contra, antes pelo contrário.

Neste contexto, julgo que os Municípios têm o dever de contribuir para assegurar as condições mínimas de salubridade das habitações de tantos trabalhadores. Assim, não devem esperar por tragédias para então actuar reactivamente, mas serem sim proactivos, implementando medidas estruturais que previnam episódios deploráveis.

Para a resolução destas situações, os Municípios têm a obrigação e o dever de intervir em conjunto, convocando as associações empresariais - que não podem alijar responsabilidades - e as associações sindicais - que não devem apenas proteger quem lhes paga cotas. Só uma acção integrada será sinónimo de sucesso.

Ora, essa actuação não pode demorar. Justamente, urge agir! Amanhã será tarde demais. Caso contrário, num futuro próximo irão brotar no Ribatejo antagonismos raciais contra pessoas diferentes de nós, apenas pelo facto de se apresentarem com outras pigmentações, fisionomias, culturas ou religiões. Não olvidar que, além da dignidade humana que lhes é devida, os trabalhadores migrantes são cada vez mais necessários, visto que nós, os Portugueses, desgraçadamente, já não nos dispomos a realizar certos trabalhos.

Os políticos ribatejanos que concorrem às eleições autárquicas deste ano, bem poderiam reformular os seus programas eleitorais e abrangerem decididamente a integração e o acolhimento de trabalhadores migrantes na nossa região, sob pena de termos de verter muitas lágrimas de crocodilo num futuro próximo.Mais do que o “glamour” de postiças cimeiras europeias sobre pilares sociais, importaria antes trabalhar com seriedade.

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