Sete inspectores da PJ estiveram na Chamusca, no dia 5 de Maio, a trabalhar numa investigação que envolveu os documentos referentes à compra da casa ao vereador socialista Manuel Romão e à antiga casa de família de José Salter Cid. O presidente da autarquia, Paulo Queimado (PS), acabou a confirmar a situação à agência Lusa depois de O MIRANTE ter dado a notícia em primeira mão ainda na manhã desse dia. Mas Paulo Queimado não contou tudo à Lusa. Segundo O MIRANTE apurou logo no dia seguinte, junto de fontes próximas da vice-presidente Cláudia Moreira, a acção da PJ foi desencadeada devido a um projecto de obras de um milhão de euros para a casa comprada ao vereador do PS.

Conforme O MIRANTE foi dando notícia, ao longo dos últimos dias, os inspectores levaram vária documentação em formato digital. A presença dos inspectores no edifício dos Paços do Concelho gerou um burburinho que fez com que a maior parte dos serviços não funcionasse a cem por cento. Os inspectores ocuparam grande parte do staff do presidente da câmara que, ao longo do dia, foi prestando informações de acordo com as perguntas dos inspectores da PJ.

A vice-presidente da autarquia, Cláudia Moreira, que é quem cada vez mais manda na câmara, já desabafou no Facebook o seu desagrado pelo trabalho editorial dos jornalistas de O MIRANTE atribuindo ao jornal a culpa pela visita dos inspectores da PJ. Paulo Queimado terá perguntado aos inspectores a que se deveu a visita e a resposta terá sido a de que a inspecção teria sido desencadeada pelas notícias publicadas na comunicação social.

O que os inspectores não disseram, e aparentemente toda a gente procura ignorar, é que a grande razão da visita dos inspectores prende-se com um projecto de obras de quase um milhão de euros para a casa comprada ao vereador Manuel Romão, que custou 80 mil e fica situada na rua principal, entre semáforos, num lugar onde é quase proibido circular a pé.

O MIRANTE só soube do caso na manhã desse dia por um funcionário que saiu à rua para nos ligar de telemóvel pessoal. No outro dia soubemos da existência do projecto de cerca de um milhão de euros pela mesma fonte, que se diz cansada de trabalhar numa autarquia gerida por “políticos incompetentes e arrogantes que mal sabem ler”.
Recorde-se que o edifício em causa, uma casa de habitação antiga e degradada, foi adquirida para a instalação do arquivo municipal, uma decisão polémica e que causou grande surpresa no meio chamusquense. A autarquia é dona de um edifício devoluto de grande volume, a poucos metros da casa do vereador, dona de um espaço de grandes dimensões onde em tempos esteve instalado o Centro Regional de Artesanato, que entretanto fechou, para além de outros edifícios e instalações. A casa do vereador foi ainda comprada sem qualquer estudo prévio atestando que o espaço tinha condições para esse fim.

Curiosamente, o anúncio da compra do prédio ao vereador foi feito precisamente na reunião de câmara em que Manuel Romão participou pela primeira vez em regime de substituição do vereador Rui Ferreira, por este se encontrar de férias. Embora o vereador não tenha participado na decisão, não deixa de ser uma situação caricata que demonstra falta de ética do executivo e do próprio vendedor do imóvel. O enxovalho público a que Manuel Romão se sujeitou ainda estará para durar tendo em conta os episódios que se adivinham, a confirmar-se o projecto milionário para a adaptação da sua antiga casa a arquivo municipal.

Apesar das notícias, e do alarme causado pela presença da PJ na autarquia, o executivo não fez qualquer esclarecimento à população nem respondeu às notícias de O MIRANTE confirmando ou desmentindo a existência de matéria criminal que levou à busca da PJ.