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“O serralheiro carrega calos nas mãos  e os jovens hoje preferem carregar livros” 
José Morais gere a sua serralharia no Pinheiro Grande há 22 anos

“O serralheiro carrega calos nas mãos  e os jovens hoje preferem carregar livros” 

Trocou os livros pelo ferro aos 13 anos porque queria trabalhar para poder comprar uma bicicleta. José Morais tem 47 anos e gere há 22 a sua serralharia no Pinheiro Grande. Nunca teve outra profissão e férias só as teve quando andava na escola.

Na oficina de serralharia de José Morais, no Pinheiro Grande, Chamusca, a cada cinco minutos o ruído da máquina de soldar sobrepõe-se ao da música que sai das colunas do pequeno rádio que está sempre a tocar. São três da tarde e o serralheiro, de 47 anos, só faz intenção de largar o serviço que o ocupa até perto das 21h00. Tem um prazo de entrega para cumprir e “não há-de ser desta” que vai falhar.

Serralheiro civil desde os 13 anos, porque nunca foi grande entusiasta dos livros, José Morais exerce actualmente uma das profissões cada vez menos procurada pelos jovens. O serralheiro “mestre” da Carregueira que o ensinou a trabalhar o ferro já se reformou e “não há por aí quem apareça para trabalhar”. O motivo? “O serralheiro carrega calos nas mãos e os jovens de hoje preferem carregar livros”, diz a O MIRANTE enquanto pega numa régua de escala que encosta ao desenho para saber a medida exacta do comprimento do ferro que vai precisar para fazer um gradeamento em treliças.

Para José Morais ganhar calos nas mãos e dores musculares no braço direito de tanto bater no ferro com um martelo de três quilos tinha na sua adolescência um sentido manifestamente positivo. Significava poder vir a ter acesso a coisas palpáveis, como uma bicicleta, uma motorizada ou as chaves de uma casa própria. Era com isso que sonhava e para isso que trabalhava com motivação o jovem aprendiz com o sexto ano de escolaridade que ao final do mês levava no bolso pouco mais de 50 euros.

Aos 19 anos já tinha passado por várias empresas de serralharia, uma delas em Oeiras que não lhe permitia ir a casa durante a semana. Já nessa altura o “objectivo era aprender o mais que conseguisse para poder abrir e gerir o seu próprio negócio”; meta que alcançou aos 25 anos, depois de casar e ter tido um filho meses antes. A oficina continua a funcionar, desde 1999, na pequena garagem que herdou do seu pai. “Tem sido uma vida dura de trabalho. Quem me ouvir pode não acreditar, mas as únicas férias que tive foi andar na escola”, conta.

“Qualquer dia ninguém sabe o que faz um serralheiro”

José Morais sabe que o seu percurso profissional é o oposto daquilo que querem os jovens de hoje. “Muitos vão experimentar várias e a maior parte, com 18 anos, ainda nem sequer aprendeu uma profissão”; e a que escolherem “dificilmente será a de serralheiro”. Não é o caso do seu filho, João Morais, de 23 anos, que resolveu seguir-lhe as pisadas e ainda se revelou uma mais valia a trabalhar a contabilidade da empresa. “É que teclados e computadores não são comigo”, explica.

Para que houvesse mais jovens como João, defende, o sistema de ensino devia ter mais cursos técnicos acompanhados de incentivos do Estado. “Qualquer dia ninguém sabe o que faz um serralheiro, como já muitos não sabem de onde vêm os ovos. Estamos a desaparecer aos poucos”, atira acrescentando que o que aparece por aí é mão-de-obra barata e sem qualidade vinda de países de Leste.

“O serralheiro carrega calos nas mãos  e os jovens hoje preferem carregar livros” 

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