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População de Parceiros de Igreja  dorme à porta do posto de saúde 
Utentes da extensão de Parceiros de Igreja estão sem médico de família desde Janeiro

População de Parceiros de Igreja  dorme à porta do posto de saúde 

Dezenas de pessoas passam a madrugada à porta da extensão de saúde de Parceiros de Igreja, Torres Novas, desde que o único médico de família se aposentou. ACES Médio Tejo admite que o número de consultas por dia é insuficiente e diz estar a tentar resolver o problema.

Os cerca de 2.800 habitantes da União de Freguesias de Brogueira, Parceiros de Igreja e Alcorochel, no concelho de Torres Novas, estão há cerca de quatro meses sem médico de família. Devido à aposentação do único clínico afecto às duas extensões de saúde, o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Médio Tejo colocou duas médicas a atender sete horas por semana, em cada posto, que são insuficientes para dar resposta à procura. É por isso que sempre que alguém precisa de ir ao médico se vê obrigado a pernoitar à porta do edifício, e mesmo assim a vaga não está garantida.

“Tem que ser ou arriscamo-nos a voltar para casa sem sermos atendidos”, diz Vitória Feio, 82 anos, já conhecida na aldeia por ser sempre a primeira a chegar à extensão de saúde de Parceiros de Igreja. Se de uma competição se tratasse muito provavelmente seria a recordista pois uma vez esteve das 21h00 às 8h00 do dia seguinte sentada no banco ao lado da porta do posto, para assegurar senha para a consulta.

A 14 de Maio, quando O MIRANTE esteve no local, pelas suas contas eram 03h30 da madrugada quando se fez ao caminho com uma manta metida num saco. A acompanhá-la no percurso de meia hora pela beira da estrada foi a vizinha Fernanda Neto, que depois de quatro vezes sem apanhar consulta quis garantir o seu lugar. “Isto aqui é uma vergonha”, atira a mulher residente em Parceiros de São João, localidade vizinha que fica a cerca de um quilómetro da extensão de saúde.

O atendimento funciona exclusivamente por ordem de chegada e, em média, sempre que é dia de consulta entre 20 a 30 pessoas tentam a sua sorte. “Hoje foram embora umas dez”, conta Luís Jeremias, que só vai ser atendido porque a médica ao serviço abriu uma excepção e deixou-o ficar com a décima sexta senha. Entre os que esperam é um dos mais indignados com a situação que se arrasta desde o início deste ano, “quando deixou de haver médico e ninguém avisou”, obrigando, primeiro, os utentes, na maioria idosos, a deslocarem-se a outras unidades de saúde e agora a uma longa espera. “Estamos cansados de reclamar e ninguém fazer nada”, diz.

Por ali também há quem se canse de ficar tantas horas de estômago vazio. Por isso, depois de conseguirem senha para a consulta, muitos regressam a casa ou ao café mais próximo para tomar o pequeno almoço. António Romão é daqueles que se sacrifica e vai na vez da esposa, antes das seis da manhã, garantir lugar. Depois regressa a casa e só volta a sair perto das 8h30 para levar a idosa de carrinha até à porta do posto. José Marques, de 72 anos, vai na vez da sogra, de 94 anos, e com diagnóstico de demência. E só à quinta tentativa conseguiu a consulta antecipando em uma hora a sua chegada. “Em vez de vir às 5h00 desta vez eram 4h00”, conta o morador de Resgais.

ACES pretende aumentar número de horas médicas

O Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Médio Tejo explica que além de não ter sido ainda possível a colocação de um novo clínico, a “recente aposentação de mais dois médicos de Medicina Geral e Familiar da Unidade de Cuidados de Saúde Primários de Torres Novas (em Abril)”, agravou ainda mais o problema obrigando à redistribuição dos “recursos médicos por várias extensões de saúde”.

A direcção executiva do ACES Médio Tejo refere ainda, em resposta a O MIRANTE, que têm “consciência que as horas médicas existentes - tanto na extensão de Parceiros de Igreja como na de Alcorochel - não são suficientes”, mas que juntamente com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo estão a “envidar todos os esforços para aumentar o número de horas de modo a ultrapassar estes constrangimentos o mais breve possível”.

Projecto municipal para ajudar nos cuidados de saúde

O presidente da Câmara de Torres Novas reconhece que o concelho está a atravessar uma fase complicada devido à falta de médicos de família referindo que ao longo dos anos os governos não tiveram o cuidado de tentar fazer o equilíbrio entre os médicos que se aposentam e os que se formam anualmente. “Sei que em Maio estão a acabar as novas licenciaturas e que irão ser colocados oficialmente, na pior das hipóteses, em Setembro”, diz Pedro Ferreira.

Entretanto, o município prepara-se para apresentar o projecto EVA – Equipa para uma Vida Activa. A autarquia vai abrir concurso para contratação de uma empresa que forneça serviços de médico e enfermagem e elabore também o Plano Municipal de Saúde. A ideia é criar brigadas móveis que se desloquem às aldeias do concelho e façam acompanhamento das pessoas com mais de 70 anos. Pedro Ferreira refere que não se pretende substituir os médicos de família mas sim colaborar com eles, complementando a sua acção.

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