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A bola voltou a rolar no futebol de formação
Equipa de iniciados B da Associação Académica de Santarém durante um treino no campo de futebol da Escola Superior Agrária.. Equipa de iniciados A do Clube Amador de Desportos do Entroncamento treina com novo ânimo agora que foram retomadas as competições. Tiago Reis e Paulo Eira do Grupo Desportivo de Samora Correia

A bola voltou a rolar no futebol de formação

O ambiente é alegre e de muita concentração, mas vive-se com menos jovens e patrocínios. No regresso do futebol de formação, O MIRANTE entrou em campo com a Associação Académica de Santarém, o Clube Amador de Desportos do Entroncamento e o Grupo Desportivo de Samora Correia.

Numa altura em que todos os escalões do futebol de formação já regressaram aos treinos e competições, ainda nem tudo voltou à normalidade. Há medições de temperatura à entrada, pontos de higienização e balneários interditados. O equipamento veste-se em casa ou na escola e os pais ficam à porta. No campo de futebol da Escola Superior Agrária de Santarém, onde treina a Associação Académica de Santarém, “o regresso dos treinos tem sido motivo de alegria”, embora se faça “a um ritmo e intensidade menores”. Mas há uma preocupação maior: “Nas camadas mais jovens sente-se a perda de atletas”, alerta o vice-presidente e coordenador técnico, Fernando Santos.

O motivo foi mesmo “a perda de interesse pelo futebol” causada pela ausência de treinos e competições entre Janeiro e Maio, devido às restrições da pandemia de Covid-19. “Alguns, sobretudo atletas das camadas mais baixas, voltaram com excesso de peso e notaram que já não conseguiam acompanhar. Será a nova pandemia que virá depois desta: a obesidade provocada pelo sedentarismo”, diz Fernando Santos a meio de um treino da equipa de iniciados B.

Antes da pandemia, a Académica de Santarém tinha 18 equipas dos vários escalões e mais de 300 atletas. Agora rondam os 280, “após uma acção forte de divulgação junto das escolas” que tem permitido uma subida do número de crianças e jovens a conta-gotas. Fernando Santos é da opinião que houve um “zelo superior no regresso ao futebol de formação”, ao ser obrigatória a realização de testes de Covid-19 através de zaragatoa.

Diogo Pombo, capitão da equipa de iniciados B, confessa a ansiedade que tinha de voltar a pisar as quatro linhas. Sem “os amigos e a bola”, o central de 14 anos conseguiu cumprir alguns dos treinos que lhe foram dados pelo clube para fazer em casa, “mas era difícil manter a motivação”.

Ausência de público reflecte-se no treino e nas contas

No estádio municipal do Entroncamento vive-se “o retomar do normal, do desporto e da vida” que aconteceu, na opinião do presidente do Clube Amador de Desportos do Entroncamento (CADE), “no tempo certo, para evitar que o futebol fosse o mau da fita desta pandemia”, que causou estragos. Onde mais se notam é nos treinos de captação aos sábados que juntavam mais de 120 crianças, não passando agora das 60.

Gonçalo Moita e Tomás Veríssimo, ambos de 14 anos, ansiavam voltar aos relvados. Entre toques de bola, durante o treino da sua equipa, os iniciados A, concordam um com o outro: os treinos e a adrenalina da competição são o que os faz feliz e ajuda a manter o foco na escola.

A proibição de público nos campos de futebol estende-se ao futebol de formação, impedindo os pais de assistirem aos jogos e treinos dos filhos, pelo menos de perto. No parque do Bonito, à volta do campo, dezenas de pais espreitam entre a vedação. “Percebo que seja difícil, mas para o treino até é melhor. Havia pais que se metiam em cima da linha e, como é natural, os mais novos reagiam melhor a um impulso do pai do que do treinador, gerando, por vezes, contra-informação”, explica o coordenador técnico do CADE e treinador dos iniciados A, Luís Grácio.

No futebol de formação os pais são também fonte de receita de cada clube no final de um treino ou jogo. No CADE, o “Lata Bar” era um sucesso que se reflectia no orçamento do clube, que também saiu afectado desta crise pandémica que não permitiu a realização do torneio internacional pela altura da Páscoa e ainda afastou os patrocinadores. Uma realidade transversal à Académica de Santarém e ao Grupo Desportivo de Samora Correia.

GD Samora Correia perdeu 15 por cento dos atletas

Foi no campo de futebol da Murteira, em Samora Correia, que se disputou o primeiro jogo do regresso da 1ª divisão distrital de seniores da Associação de Futebol de Santarém, no domingo, 2 de Maio. A equipa da casa impôs uma goleada de 7-0 que teve um gosto especial, fazendo lembrar um início de época após uma paragem não programada. Não jogavam desde Dezembro, mas os treinos caseiros permitiram que “não houvesse quebras físicas nem lesões”, dá conta o coordenador técnico, Paulo Eira.

“Em todos os escalões houve uma tentativa clara de manter os jovens ligados ao clube e à actividade física durante a paragem, para que acreditassem que mais tarde ou mais cedo iriam voltar”, explica. Alguns não deixaram cair essa crença, outros esqueceram o futebol. Paulo Eira tem, por isso, a “convicção que, por muito que os clubes tenham feito, o futebol vai perder jovens”, por causa de uma “paragem terrível que não permite voltar atrás e trazer de volta o miúdo que tinha 10 anos”.

Ao mesmo tempo que acredita que “há jovens que correm sérios riscos da inactividade física porque se habituaram, durante o confinamento, a estar parados em casa”, olha para a realidade do clube e tem certezas: “Há jovens que perderam o interesse porque deixaram de jogar e já não sentem falta. O grande desafio deste e de outros clubes vai ser conseguir trazê-los de volta”.

No dia em que O MIRANTE visitou o campo do GD Samora Correia ainda era cedo para fazer o balanço total, alertou o presidente do clube, Tiago Reis, mas a perda já se mostrava significativa. “Perdemos entre 10 a 15 por cento dos atletas, mas onde se vai notar mais é na retoma dos escalões mais baixos”, explica, compreendendo “o medo dos pais em trazer as crianças” e sujeitá-las a um teste Covid-19, quando não tiveram de o fazer para voltar à escola.

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