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“Amigo Carneiro, andamos todos ao mesmo” é todo um programa político

Ovante Serafim das Neves

A pré-campanha eleitoral para as eleições autárquicas de Outubro já começou e está bem animada. Há buscas da Polícia Judiciária em várias câmaras municipais e adivinham-se mais.


O Ministério Público e os tribunais, principalmente os que já pareciam estar extintos, também voltam a expelir sentenças ao fim de sete, oito, nove anos, como se fossem pequenos Etnas mas com menos chamas que esse expelidor de lava siciliano.


É só fumaça, como diria um pragmático Almirante Pinheiro de Azevedo nos tempos abagunçados que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. E é uma fumaça que se dissipa depois da contagem dos votos mas que volta a cada ano eleitoral,


Em Benavente foi por causa da compra de bicicletas; em Torres Novas por causa de um contrato com empresa que colou cartazes do PS nas autárquicas de há quatro anos; na Chamusca por causa de um projecto de mais de um milhão de euros para fazer obras numa casinha comprada a um camarada vereador, por uns singelos oitenta mil; em Ourém e Fátima por casa do licenciamento de pedreiras. É uma animação maior do que nas arruadas que metem cabeçudos e bombos de Lava-Colhos.


Se o povo não se anima e se os candidatos só nos fazem bocejar com as habituais insignificâncias, alarvidades e idiotices, temos sempre a Pê Jóta e o Éme Pê para animar a malta e as redes sociais e as suas extensões, para dar palco à dança e atear fogos virtuais de proporções bíblicas com coros de uivos e exigência de guilhotinas.


O Tribunal Administrativo de Leiria concluiu, ao fim de nove anos, que um antigo chefe de gabinete de um ainda mais antigo presidente de Câmara de Torres Novas, chamado Rodrigues, foi admitido para um lugarzinho na senhora câmara, através de um concurso viciado. Nove anos para anunciar ao mundo o que o mundo tinha ficado a saber nove dias depois do tal concurso.


Mas, lá está, agora a novidade é oficial e a sua divulgação calha dias depois do ex-autarca ter anunciado que quer voltar a ser autarca, provavelmente para admitir mais algum chefe de gabinete, mas desta vez sem falhas. Mesmo que seja online a pré-campanha promete mais peixeiradas do que quando os candidatos aos salários e mordomias da política andavam nos mercados a dar beijinhos às peixeiras.


A mim sempre me diverte saber que há quem se finja indignado com estas insignificâncias. Ao fim de tantos anos quem é que não sabe que os políticos se extinguiriam se não tivessem umas benesses e uns empregos para dar aos amigos e umas isenções, autorizações e viabilizações para os patrocinadores do bem estar dos cidadãos?


No filme A Canção de Lisboa, numa cena filmada na zona dos macacos do Jardim Zoológico, o Vasco Santana, estudante de medicina, a quem o tratador confundiu com o veterinário, faz as contas ao que vai receber das falsas consultas e quando o outro, admirado com tamanha lata lhe chama macacão, ele em vez de se ofender, diz a famosa frase que se tornou fonte de inspiração de políticos, candidatos a políticos, funcionários e tachistas em geral. “Amigo Carneiro, andamos todos ao mesmo”. E riem-se os dois a bandeiras despregadas.


Saudações realistas Manuel Serra d’Aire

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