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A bola educa e deseduca 
Santana-Maia Leonardo

A bola educa e deseduca 

A bola tanto pode educar como deseducar. Qualquer desporto assente na cultura do fair play, do respeito pelo outro, da superação e do mérito não só educa como é absolutamente essencial na formação dos cidadãos. Desafio o leitor a fazer um pequeno teste para avaliar o seu grau de portuguesismo nesta matéria.

A bola tanto pode educar como deseducar. Qualquer desporto assente na cultura do fair play, do respeito pelo outro, da superação e do mérito não só educa como é absolutamente essencial na formação dos cidadãos. Por outro lado, qualquer desporto assente na cultura da ganância, da batota, do ganhar de qualquer jeito (nem que seja com um golo com a mão e em fora-de-jogo), do fanatismo e do espírito de cruzada não só impossibilita a formação do indivíduo como cidadão como o transforma numa besta. Desafio, por isso, o leitor a fazer um pequeno teste para avaliar o seu grau de portuguesismo, nesta matéria.

Numa corrida de Corta-Mato, o queniano Abel Muttai, que estava a poucos metros da meta, pensou que já havia concluído a prova, quando ainda faltavam alguns metros. O espanhol Iván Anaya, que vinha em segundo lugar, apercebendo-se do erro do queniano, começou a gritar para que o queniano continuasse a correr, mas Muttai não entendia o que o colega dizia. O espanhol, em vez de o ultrapassar e vencer a corrida, resolveu empurrar o queniano para a vitória. No final, um jornalista perguntou a Iván por que razão deixou ganhar o queniano. E Iván respondeu-lhe: “Eu não o deixei ganhar, ele ia ganhar.” O jornalista insistiu: “Mas o senhor podia ter ganhado!” E Iván respondeu-lhe aquilo que devia ser óbvio para toda a gente: “Mas qual seria o mérito da minha vitória? O que é que a minha mãe iria pensar se eu ganhasse dessa forma?” Escolha agora apenas uma das quatro hipóteses:

(1) O espanhol Iván Anaya agiu correctamente e eu fazia o mesmo. (2) Apesar de valorizar o comportamento ético do espanhol Iván Anaya, eu não iria perder a oportunidade de vencer a corrida. O etíope enganou-se, paciência! A culpa não era minha. (3) O espanhol é um tótó. Eu fazia o mesmo, mas era o caraças! (4) Eu fazia o mesmo, mas era o caraças! Mas, neste inquérito, vou dizer que escolho a primeira hipótese para pensarem que eu sou uma pessoa íntegra e honesta. Resultado do teste:

Se escolheu a hipótese (1), não é português de certeza absoluta. Pode ter nascido em Portugal, mas, nas suas veias, não corre uma gota de sangue lusitano. Se escolheu a hipótese (2), é um português aculturado. Ou seja, é descendente de estrangeiros que se fixaram em Portugal e se adaptaram aos nossos costumes. Se escolheu a hipótese (3), muitos parabéns: é um português dos pés à cabeça. E, nessa cabecinha, todas as células foram fabricadas made in Portugal e com materiais genuinamente portugueses. Se escolheu a hipótese (4), é um português de corpo inteiro nascido para a vida política. E se quer chegar ao mais alto cargo do Estado, deve começar já a treinar em casa a pôr condecorações em série, ao mesmo tempo que repete, em frente do espelho e sem se deixar rir, que os portugueses são os melhores dos melhores.
Santana-Maia Leonardo.

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