O abandono a que tem estado votada a Colónia Balnear da Nazaré, propriedade da Associação de Municípios do Vale do Tejo, é uma história com muitos anos e que tarda em ter fim. E o que se perspectiva com o projecto de requalificação previsto também não é o desejável, pelo menos para alguns dos autarcas do distrito de Santarém.

É o caso do presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos, que afirmou na última reunião do executivo que a “expectativa era que houvesse uma intervenção robusta e capaz de dar condições e dignidade ao espaço”. O autarca diz que “houve um recuo nos últimos tempos para não fazer um grande investimento, mas um investimento de maquilhagem para colocar as instalações capazes de acolher a sua função”, acrescentando que tem estado expectante quanto ao início das obras que ainda não arrancaram.

O assunto veio a lume com a intervenção do vereador do Bloco de Esquerda, Armindo Silveira, a lamentar que o projecto de requalificação da Colónia Balnear continue na gaveta enquanto o edifício se degrada. O vereador quis ainda saber qual a posição do autarca de Abrantes sobre este impasse, tendo em conta a posição tomada publicamente em reunião da Câmara de Alcanena pela presidente desse município, Fernanda Asseiceira, que se mostrou desiludida com o impasse do projecto.
“Aquilo que a presidente Fernanda Asseiceira diz também me deixa incomodado a mim e aos outros municípios que fazem parte desta associação”, respondeu Manuel Valamatos, comprometendo-se a abordar o assunto numa próxima reunião da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo.

Autarcas não se entendem

Em Março de 2020, recorde-se, o presidente da Associação de Municípios do Vale do Tejo, Paulo Queimado, que também é presidente da Câmara da Chamusca, criticou os seus colegas autarcas, dizendo que se as coisas tivessem sido feitas como ele defendeu o problema já estaria resolvido. O que defendia eram precisamente pequenas obras de requalificação do espaço, classificando as ideias dos presidentes das restantes autarquias como “não exequíveis”.

Para evitar que a Câmara da Nazaré tomasse posse administrativa da propriedade, a associação liderada por Paulo Queimado chegou a realizar uma intervenção paliativa para assegurar a preservação da estabilidade do edifício, antes de uma vistoria realizada a 5 de Fevereiro de 2020.

A Colónia Balnear da Nazaré foi inaugurada a 8 de Junho de 1941. O edifício já teve várias utilizações, tendo servido de alojamento aos chamados “retornados” das ex-colónias, no pós 25 de Abril de 1974 e até 1980. Depois foram feitas diversas reparações e ampliações para servir para a Ocupação de Tempos Livres, conferindo-lhe uma vertente de solidariedade social e de reinserção social para crianças e idosos carenciados do distrito de Santarém. O edifício está degradado e sem utilização há vários anos.

À margem

Uma vergonha para os nossos autarcas

A Colónia Balnear da Nazaré foi doada por um filantropo para benefício das crianças carenciadas do distrito de Santarém. Propriedade da Associação de Municípios do Vale do Tejo, constituída em Novembro de 2014 e que sucedeu à extinta Assembleia Distrital de Santarém, anterior dona desse património, esse complexo é hoje uma mancha na paisagem.
Deixar degradar as instalações ao ponto de, há um par de anos, levar a Câmara da Nazaré a ameaçar tomar posse administrativa do edifício se a Associação de Municípios do Vale do Tejo não o entaipasse demonstra bem o estado a que chegou o desleixo e a inércia da associação liderada por Paulo Queimado e que agrega 19 municípios do distrito de Santarém. Já é tempo de ganharem vergonha.