uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Câmara de Santarém compra espólio valioso de Alexandre Herculano 
Alexandre Herculano viveu na Quinta de Vale de Lobos, perto de Santarém, cidade onde tem uma estátua evocativa

Câmara de Santarém compra espólio valioso de Alexandre Herculano 

Aquisição, pelo valor de 30 mil euros, destina-se a enriquecer o arquivo municipal. Alexandre Herculano, figura relevante da nossa cultura, viveu a fase final da sua vida na Quinta de Vale de Lobos, perto de Santarém, onde morreu em 1877. Em depoimento a O MIRANTE, o jornalista e investigador António Valdemar pergunta para quando um Centro de Estudos Herculanianos em Santarém?


A Câmara de Santarém adquiriu o lote do espólio do escritor Alexandre Herculano, leiloado no dia 24 de Maio, uma compra que esteve condicionada ao exercício do direito de preferência por parte da Biblioteca Nacional num prazo de oito dias, o que acabou por não se verificar.

O presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, disse que a aquisição, pelo valor base de 30 mil euros, destina-se a enriquecer o arquivo municipal “com um espólio de grande relevância, de um dos maiores vultos do século XIX, para muitos a maior personalidade intelectual desses anos”. O autarca recorda que Alexandre Herculano (1810-1877) escolheu viver a fase final da sua vida na Quinta de Vale de Lobos, em Santarém, onde permanece o quarto que o acolheu nos últimos dez anos de vida.

A propósito desta aquisição, o jornalista e investigador António Valdemar considera: “É evidente que não se trata de um manancial de inéditos. Nem vão alterar a visão de conjunto registada pela história e a crítica. Mas vão permitir uma revisão das edições e obras de Herculano; vão esclarecer alguns aspectos da intervenção literária e política de Herculano e revelar a vida íntima em família. Encontram-se, portanto, reunidas condições para se constituir, em Santarém, um Centro de Estudos Herculanianos”.

Para António Valdemar esta decisão da Câmara de Santarém “merece louvor”, pois “Herculano é uma personalidade emblemática de historiador, escritor e cidadão, cuja vida e obra permanecem ligadas a Lisboa e a Santarém”. O escritor e historiador oitocentista nasceu na capital de Portugal, onde viveu grande parte da sua vida e fez carreira como homem de letras e figura maior da nossa cultura.

“Em Lisboa frequentou a aula de diplomática na Torre do Tombo. E depositou na Torre do Tombo documentação fundamental para sistematizar, o Portugaliae Monumenta Historica que lhe foi solicitado pela Academia das Ciências; e, também, para elaborar a História de Portugal que desencadeou uma das mais ruidosas polémicas com a igreja, por não admitir o Milagre de Ourique. Esteve à frente da revista Panorama que definiu a defesa e valorização do património edificado e do património imóvel”, descreve António Valdemar.
Ainda na capital, “Alexandre Herculano dirigiu a Biblioteca da Ajuda e enquanto ali residiu estimulou a formação intelectual e cívica de D Pedro V; e manteve uma tertúlia com os seus mais notáveis contemporâneos. Ficou pormenorizada nas Memórias de Bulhão Pato”.

António Valdemar considera também que “a relação de Herculano com Santarém tornou-se outra referência obrigatória”, após ter comprado em Azoia de Baixo a Quinta de Vale de Lobos. “Os dez anos em Vale de Lobos (1867/1877) e que coincidiram com o início do casamento de Herculano com Mariana Meira não se resumiram ao interesse pela agricultura e a produção de azeite, em circunstâncias que se ignoravam e passaram a ser utilizadas”, sublinha o jornalista com a carteira profissional número 1 emitida pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

“A tranquilidade de Vale de Lobos foi interrompida com visitas de amigos, de discípulos e de figuras como Madame Ratazi e o Imperador do Brasil. Era, contudo, o ambiente propício para se concentrar, reflectir e escrever. Manifestou, por exemplo, o apoio às Conferências Democráticas do Casino e a indignação e protesto em face do encerramento pelo Governo do Duque de Ávila”, destaca António Valdemar.

Acervo contém diário e correspondência

O lote adquirido pela Câmara de Santarém inclui manuscritos anotados de obras do escritor, projetos e notas de investigação, correspondência pessoal e oficial, e parte de um diário íntimo onde narra as circunstâncias do exílio em França e nos Açores por causa da opressão miguelista.
Segundo informação da leiloeira, são “centenas de folhas manuscritas com rascunhos e anotações de obras concluídas e de projetos que Herculano empreendeu ao longo da vida e as correspondências dirigidas ao mesmo, que vão desde o século XIX e se estendem por mais ou menos cem anos depois da sua morte até ao século XX, já que os seus herdeiros foram correspondendo com editoras, vários académicos e investigadores”.

À Margem

Herculano e o espólio que restava

O espólio adquirido pela Câmara de Santarém pertenceu a Herculano Galhardo, sobrinho de Herculano, que não teve filhos do seu casamento com Mariana Meira. O espólio tem uma longa história que se pode contar desde que Vitorino Nemésio foi nomeado para ser, junto dos editores da Bertrand, “vigilante das obras do Mestre”. Por enquanto fica sem resposta a questão sobre se estes são os últimos documentos que os herdeiros possuíam, se o espólio contém a correspondência integral e completa com Mariana Meira, com quem Herculano só viria a casar, tinha, então, 57 anos, a 1 de Maio de 1867.

Câmara de Santarém compra espólio valioso de Alexandre Herculano 

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido