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Há um aumento brutal de crianças e adolescentes com patologias do foro psicológico
David Lito é o coordenador de Pediatria do Hospital CUF Santarém

Há um aumento brutal de crianças e adolescentes com patologias do foro psicológico

David Lito, coordenador de Pediatria do Hospital CUF Santarém.

As consequências do confinamento nas crianças, as questões do desporto de alta competição, a má alimentação, os pais que não querem vacinar os filhos, são temas explicados pelo médico pediatra David Lito, que coordena a Pediatria do Hospital CUF Santarém.

As crianças passam mais tempo em casa. Isso de alguma forma terá alguma influência no seu desenvolvimento futuro?

Durante a fase de confinamento estiveram mais tempo em casa e aquilo que notamos é que em termos sociais e do que é o contacto social as crianças, principalmente as mais pequenas, que ainda não ingressaram no infantário, são aquelas em que notamos mais diferença porque não estão habituadas a estar com outras pessoas.

E qual é a diferença?

Ficam mais agitadas. Não reagem tão bem à presença de pessoas desconhecidas. Do próprio desenvolvimento, em termos de aquisição de linguagem e aprendizagem de regras, também se nota, principalmente nas crianças que nunca andaram na escola, e que são aquelas que ficaram tendencialmente mais tempo em casa.

Isso acaba por ter implicações na sua evolução emocional, de conhecimentos...

Acabaram por ficar numa bolha. Há pouco tempo tive uma criança que ficou com os avós. Os avós e os pais compreendem-na bem, compreendem a sua linguagem, mas os professores ou os médicos não entendemos o que elas querem dizer. Mas não dramatizaria, diria que estes miúdos têm tendência a recuperar.

As crianças têm uma grande capacidade de se adaptarem e vão conseguir superar as situações…

As crianças antes da idade escolar têm uma grande capacidade de adaptação às adversidades e acabam por conseguir recuperar. A nossa preocupação vai para as crianças em idade escolar e os adolescentes. Os adolescentes viveram esta fase com grande sofrimento e quando voltam à escola mostram patologias do foro emocional. Estamos com um aumento brutal de crianças e adolescentes com patologias do foro psicológico, psiquiátrico ou transtornos emocionais.

Provavelmente até deixaram de ser vacinadas...

Houve alguns atrasos, mas eu diria que os enfermeiros têm uma grande preocupação em não atrasar os esquemas de vacinação. Se houve área que não tenha sido tão afectada foi a vacinação.

O que acha dos pais que não querem vacinar os filhos?

Essa moda anti-vacinas é sobretudo evidente em alguns nichos do núcleo urbano e os pediatras têm vindo a preparar-se para saber responder a essa situação. Globalmente, todos os pediatras são a favor da vacinação. As vacinas são seguras e erradicaram doenças como a varíola, por exemplo, ou a poliomielite.

Há crianças que já fazem desporto de alta competição. Isso tem implicações?

Ter, tem. Mas se forem bem acompanhadas na medicina desportiva não têm complicações. Mas há que ter em atenção que são crianças com uma grande exigência, grande grau de stress, com grande necessidade de mostrarem resultados e às vezes a competitividade levada ao extremo pode ser prejudicial.

As crianças estão tendencialmente a comer pior?

Estamos a chegar a dois extremos e está a ser difícil encontrar o meio-termo. Há famílias que levam as regras ao extremo. Há outro grupo que faz uma alimentação bastante má. É frequente termos uma família que não come sopa, que desculpa o facto de os filhos não gostarem de fruta, que cede aos snacks açucarados. Isso traz problemas de obesidade, cardiovasculares, diabetes...

O que pensa das dietas vegans ou vegetarianas?

À partida é possível suprir as necessidades nutricionais nesse tipo de alimentação, mas geralmente as crianças e todas as pessoas que utilizam esse tipo de alimentação deviam ser seguidas por um nutricionista ou pelo menos por um médico que tenha conhecimentos. Porque existem dietas demasiado restritivas e podem causar défice de micronutrientes, a vitamina B12, o ácido fólico, por exemplo.

As tecnologias devem ser dos maiores problemas com que se confrontam os pediatras.

Um bebé de seis meses já quase que vem a olhar predominantemente para os telemóveis e para os tablets. Devemos evitar ao máximo a exposição aos ecrãs e pomos uma regra: não antes dos dois anos e a partir dos dois anos o máximo de meia hora, o que é quase impossível para a maioria das famílias.

O problema são as tecnologias ou a falta de outras actividades?

As tecnologias podem estimular mais a agressividade, reduzir a actividade física, entre outros. Mas o que mais nos preocupa é a qualidade do sono e a concentração, que ficam altamente comprometidos. Depois do jantar nenhuma criança deve utilizar ecrãs porque naturalmente vai dormir pior.

Quais são as patologias mais frequentes nas crianças?

Temos vindo a encontrar cada vez mais crianças com perturbações do desenvolvimento em geral, que não estamos a perceber muito bem. Também aparecem muitas com patologias do espectro do autismo, que são doentes crónicos e temos de os acompanhar até aos 18 anos. Na CUF Santarém estamos a criar uma unidade de desenvolvimento para acompanhar estas situações.

Estas situações estão a provocar mudanças na organização dos serviços de saúde?

Absolutamente. O problema é que não há especialistas e profissionais suficientes. Por exemplo, estamos a tentar criar uma unidade de obesidade da família porque tratar a obesidade de uma criança envolve tratar a sua família.

A hiperactividade é uma patologia muito presente ou é uma desculpa para crianças mal-educadas?

Não podemos falar de hiperactividade numa criança de três anos agitada, porque isso não tem critério, as coisas não estão catalogadas. O problema é quando queremos atribuir tudo a uma doença, mas também quando queremos desvalorizar tudo. Há pais e professores a dizer: “este menino é hiperactivo, mediquem-no”, mas é apenas uma criança mal-educada, sem regras, irrequieta. Depois há o lado de pais que recusam admitir que o filho é hiperactivo. A doença tem de ser encarada como tal, tem de ser bem diagnosticada e bem orientada pelos técnicos.

Consulta de Reumatologia Pediátrica

Nas consultas de pediatria muitas vezes abordam-se as “dores do crescimento” - dores resultantes do esforço que se faz a correr, saltar, caminhar ou trepar, apesar de incômodas têm resolução espontânea e não estão associada a qualquer patologia. Mas quando persistentes e ligadas a outros sintomas, requerem uma avaliação mais específica, muitas vezes passando pela consulta de reumatologia pediátrica. As crianças com doenças dos ossos, articulações, músculos e tendões, de causa não traumática/mecânica passam agora a poder ser diagnosticadas e tratadas na região de Santarém, com a recente criação da Consulta de Reumatologia Pediátrica no Hospital CUF Santarém. Além das doenças inflamatórias das articulações, a reumatologia pediátrica faz o seguimento de doenças ósseas metabólicas, doenças inflamatórias crónicas e autoimunes sistémicas.

Primeira equipa da região em Neurodesenvolvimento

O Hospital CUF Santarém acaba de criar a primeira equipa multidisciplinar de Neurodesenvolvimento da região de Santarém. Desta equipa fazem parte pediatras, psicólogos, terapeutas da fala e técnicos de psicomotricidade, neurologia, entre outros, que, de uma forma integrada, se dedicam às dificuldades de aprendizagem e às perturbações do desenvolvimento e do comportamento das crianças e adolescentes.

CUF Santarém integra Programa Nacional de Vacinação

O Hospital CUF Santarém passou recentemente a integrar o Programa Nacional de Vacinação, contribuindo para ampliar a capacidade de resposta de cuidados de saúde da região, em particular nesta altura de pandemia, em que se colocam vários desafios, entre os quais, a resposta à diminuição do número de crianças vacinadas, em consequência do receio de deslocação às unidades de saúde e, também, da necessidade de reorganização de espaços de saúde, no âmbito da pandemia, que levou a que a capacidade de resposta de vários locais de vacinação tivesse diminuído.

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