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Combater o preconceito é a principal luta de quem é obeso
Pedro Carvalho, natural de Vila Franca de Xira, diz que o mundo não está adaptado a quem tem excesso de peso

Combater o preconceito é a principal luta de quem é obeso

Pedro Carvalho, natural de Vila Franca de Xira, chegou a pesar 227 quilos. Uma cirurgia e muitas aulas de ginásio permitiram-lhe baixar para os 165. A maior luta, diz a O MIRANTE, não é contra a balança mas sim contra o preconceito de algumas pessoas. Diz que falta maior atenção ao problema da obesidade e desmistifica a ideia de que os gordos só comem doces e fast-food.

Reconhecer que se tem um problema e pedir ajuda e aconselhamento médico é o primeiro passo a dar para quem sofre de obesidade, diz Pedro Carvalho, vilafranquense de 42 anos, que desde criança sofre com a doença. Pedro lamenta que o Estado não comparticipe na medicação associada ao combate ao excesso de peso e alerta também para uma luta que é maior e mais complexa do que os números da balança: o preconceito. “Muita gente pensa que somos gordos porque comemos muita comida rápida e muitos doces, mas não é verdade. O nosso metabolismo não ajuda e, no meu caso, desde pequeno que sou gordinho”, confessa a O MIRANTE.
Pedro não tem vergonha de contar a sua história na esperança que possa inspirar outras pessoas na mesma condição a pedirem ajuda e a perderem a vergonha que muitas vezes invade a mente de quem tem peso a mais. “Aprendi com o tempo a relativizar o olhar que os outros têm sobre mim. Os mais jovens começam a ter uma postura diferente em relação à doença, mas junto dos mais velhos o problema persiste. O importante é o doente pedir e deixar que o ajudem”, refere.

Pedro nasceu e vive em Vila Franca de Xira. Não é costume cair na tentação da comida rápida, até porque não gosta, mas confessa que não diz que não a uma pizza de vez em quando. Trabalha na junta de freguesia da cidade há 21 anos, mas antes de conseguir lá entrar sentiu na pele as dificuldades de encontrar emprego. “Podes ter um bom currículo mas se fores gordo não te dão trabalho”, critica. Depois de trabalhar na portaria do parque de estacionamento da junta passou a exercer outras funções que o obrigam a ter mais mobilidade, nomeadamente na lavagem de ruas e desmatações.

Pedro Carvalho pesa actualmente 165 quilos, mas já chegou a pesar 227. Vive num segundo andar com elevador, mas sobe sempre pelas escadas. Até a pandemia aparecer ia ao ginásio várias vezes por semana, mas foi obrigado a reduzir a assiduidade, embora tenha compensado com algumas caminhadas ao ar livre. Comprar roupa é outro problema que apenas consegue resolver recorrendo a algumas lojas e por vezes por encomenda. “O mundo não está adaptado para quem é gordo”, desafaba.

Pedro Carvalho não tem namorada e é à sua afilhada que vai buscar as energias positivas que precisa; é ela que lhe dá a força e a coragem para não baixar os braços e continuar a lutar por mais qualidade de vida. Há dois anos fez, por aconselhamento médico, uma cirurgia “sleeve”, que consiste na cozedura de parte do estômago para reduzir o seu diâmetro e, consequentemente, o apetite. A solução fez com que perdesse peso rapidamente, mas a pandemia veio atirar todo o esforço por água abaixo. Pedro vai agora ter de ser operado novamente e, desta vez, parte do estômago vai mesmo ser cortado para sempre. Confessa não ter problemas de saúde associados à obesidade, como a diabetes ou problemas cardíacos, embora reconheça que é importante continuar a lutar contra o seu problema.

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