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Joana e Tiago Barbosa são um exemplo de proximidade na relação com os doentes  
Joana e Tiago Barbosa são um casal de enfermeiros que cuidam dos utentes da UCC da Chamusca

Joana e Tiago Barbosa são um exemplo de proximidade na relação com os doentes  

Joana e Tiago Barbosa são o rosto da enfermagem no concelho da Chamusca. Integram a equipa da Unidade de Cuidados Continuados local desde que o projecto se iniciou, há cerca de uma dezena de anos.

A proximidade e a disponibilidade são duas das características que melhor definem a sua relação com os utentes. Em entrevista a O MIRANTE, falam da família, da ligação à terra e apontam o dedo ao Governo por não investir o suficiente na rede de cuidados continuados.

No dia em que Joana e Tiago Barbosa se conheceram não imaginavam que, cerca de 15 anos depois, iam ser dos enfermeiros mais acarinhados e reconhecidos do concelho da Chamusca. O casal integra uma equipa de meia centena de pessoas que, há cerca de uma dezena de anos, iniciou o projecto da Unidade de Cuidados Continuados (UCC), gerido pela Misericórdia da Chamusca e que recebe cerca de uma centena de doentes por ano.

Os pacientes são de média e longa duração e apresentam patologias diversas, principalmente relacionadas com AVC (acidente vascular cerebral) e fracturas do colo do fémur. A unidade acolhe também vários casos sociais. Uma das críticas que os enfermeiros fazem à actuação do Estado na rede de cuidados continuados prende-se com a falta de investimento que pode inviabilizar o funcionamento das instituições. Nos últimos 10 anos o Governo pouco ou nada fez para que as UCC consigam lidar com os custos que aumentam de ano para ano, afirmam.
Joana e Tiago, 36 anos, conheceram-se na universidade, em Lisboa, porque foram os únicos, num universo de mais de uma centena de alunos, a chumbar à disciplina de Psicologia. Concordaram em estudar juntos e a partir daí a paixão desenrolou-se. “Estudámos mais do que psicologia; também fizemos um curso intensivo em anatomia humana”, conta Tiago, em jeito de brincadeira. Joana confirma a história, acrescentando que a motivação para o estudo aumenta quando se está apaixonado.

A conversa com O MIRANTE decorre num domingo à tarde, no quintal da casa da família Barbosa, na Chamusca. Na plateia, os filhos Francisco, Sofia e Frederico, assistem à conversa ao mesmo tempo que brincam e obrigam os pais a levantarem-se sempre que se portam menos bem. A vinda do casal para a Chamusca não foi pacífica. Joana é natural de Setúbal e a vila, de onde Tiago é natural, parecia-lhe “demasiado parada” para a sua personalidade enérgica. O marido conseguiu convencê-la utilizando como argumento que o meio rural é o melhor sítio para constituir família. “Foi a melhor opção da nossa vida. O espírito de comunidade que se vive nesta terra é muito importante para a forma como queremos educar os nossos filhos”, afirma Joana.

A implementação da nova UCC, onde Tiago assume o cargo de enfermeiro-chefe, também foi um aliciante para a mudança do casal. O facto de Tiago ser chefe não belisca a relação íntima que mantêm. “Sou uma pessoa muito refilona e às vezes tenho de respirar fundo para não me chatear com ele, mas acabo sempre por respeitar as suas decisões”, garante. O marido sorri perante a afirmação e acrescenta que, no seu caso, trabalhar com a mulher dá-lhe uma motivação extra para encarar o dia-a-dia.

As unidades de cuidados continuados foram implementadas para aliviar a pressão provocada pelo excesso de ocupação de camas nos hospitais e pretendem fazer a transição do doente entre hospital e domicílio. Os enfermeiros consideram que a proximidade, disponibilidade e compaixão pelos utentes são as características que melhor os definem. “Somos um elemento estabilizador e que tem na compreensão um factor indispensável para realizar um bom trabalho. Temos de estar à cabeceira das pessoas 24 horas por dia e para fazer isso é preciso ter um dom”, sublinha Tiago.

Os enfermeiros assumem que ‘levam’ os doentes consigo para casa porque é impossível esquecer a dor e a angústia por que passam todos os dias. “A relação que estabelecemos é profissional, mas também é de amizade e confidência e por isso não dá para fechar a porta do gabinete, desligar o telemóvel e esquecer que existem”, reforçam. O luto pela perda de um paciente também é difícil de ultrapassar. A dedicação às pessoas traz desilusões quando as coisas não correm bem e, nessas alturas, dizem, é preciso levantar a cabeça e olhar pelos doentes que ainda estão com eles e por aqueles que estão para chegar.

A dificuldade em captar novos profissionais

A equipa que abriu a UCC é a mesma que hoje tenta a todo o custo segurar o barco. A O MIRANTE, os clínicos não escondem a dificuldade que existe em captar novos profissionais para integrarem uma equipa que está há demasiado tempo desfalcada. “Estas unidades são o parente pobre da saúde em Portugal. É fundamental que o Governo aposte na melhoria das condições das unidades e dos profissionais de saúde. A pandemia está a demonstrar que se não houver saúde, não há economia e, consequentemente, não há país”, reforçam.

A situação alarmante que o concelho da Chamusca vive, relacionada com a falta de profissionais de saúde também merece a preocupação dos clínicos. Na sua opinião, a construção de um novo centro de saúde, prometido há mais de três anos, é fundamental para conseguir captar novos profissionais para o concelho. “A saúde precisa de inovar e modernizar constantemente e, nesses aspectos, a Chamusca está longe do que seria expectável”, vincam.

“O meu pai era um ser de luz”

Filho de Artur Barbosa, médico muito acarinhado pela população do concelho da Chamusca, que faleceu em 2014, Tiago não esconde que o pai foi o principal “obreiro” da profissão e da vida que escolheu. Em criança, acompanhava-o noite fora nos dias em que estava de banco, no centro de saúde, e nas visitas ao domicílio onde tinha de realizar tarefas específicas, como segurar no soro ou colocar Betadine nos doentes. Também era frequente, nas urgências, observar vítimas de acidentes ensanguentadas e com membros do corpo partidos. “Cresci neste meio e devo ao meu pai o homem que sou. Se educasse os meus filhos como ele me educou já alguém mos tinha tirado”, afirma com um sorriso no rosto.

A maior parte dos doentes de Artur Barbosa recorda-o como um médico sempre disponível que não se importava de sacrificar o seu descanso para atender quem precisava. Tiago recorda-se de vários dias em que mal via o pai, mas não lhe guarda mágoa porque todos os dias o lembram da importância que teve na vida de muitos chamusquenses. “O meu pai era um ser de luz. Em 57 anos tocou na vida de muita gente e isso deixa-me eternamente orgulhoso. O maior desafio da minha vida é continuar o seu legado e garantir que os meus filhos vão ser educados com base nos valores e princípios que ele nos ensinou a ter”, sublinha com emoção.

Uma aventura na política

Tiago Barbosa vai aventurar-se pela primeira vez como cabeça-de-lista à União de Freguesias da Chamusca e Pinheiro Grande. A sua ligação à política começou em 2017 quando integrou a lista do Partido Socialista (PS) à assembleia municipal. Questionado por O MIRANTE sobre as suas motivações, diz que tem uma dívida de gratidão pelas localidades que fizeram dele “um homem” e que a quer pagar com a força do seu trabalho e os conhecimentos que adquiriu ao longo da vida. “Abracei o projecto porque sei que tenho competências para contribuir para o desenvolvimento da Chamusca e do Pinheiro Grande. Vivi 18 anos em cada localidade, conheço muito bem as pessoas e quero fazer a diferença nas suas vidas”, reforça.
Tiago Barbosa também sabe que, caso seja eleito, vai ter de abdicar de uma boa parte do tempo disponível para a família. “Quero trabalhar em prol do desenvolvimento da Chamusca. Era mais fácil chegar a casa, calçar as pantufas e deitar-me no sofá, mas essa postura não faz parte da forma como encaro a vida. A minha família está comigo a 100 %”, sublinha.

Joana e Tiago Barbosa são um exemplo de proximidade na relação com os doentes  

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