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Ricardo Ferreira é invisual mas quer uma sociedade mais informada 
Ricardo Ferreira tem 18 anos e é invisual mas isso não o impede de ter uma vida independente

Ricardo Ferreira é invisual mas quer uma sociedade mais informada 

Ricardo Ferreira é invisual e frequenta a Escola Secundária do Entroncamento, que integra o Agrupamento de Escolas de Referência no Domínio da Visão.

Ao longo do seu percurso escolar percebeu que gostava de aprender mais sobre o braile e poder contribuir para que outros invisuais tenham acesso à informação escrita. Dar oportunidades iguais a todos e mostrar que os invisuais não podem ser esquecidos são os objectivos do jovem.

Ricardo Ferreira tem 18 anos e é invisual. Ler e escrever em braile é dos seus maiores prazeres e, por isso, quando chegou a altura de poder estagiar fora da escola quem o acompanha não teve dúvidas: Ricardo poderia contribuir para o enriquecimento da informação disponibilizada em braille à comunidade invisual.
A proposta foi apresentada à Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, no Entroncamento, que prontamente aceitou o estágio com a condição de Ricardo ir transcrevendo para braile alguma da informação disponibilizada na junta.

O primeiro trabalho surgiu pela vontade de Ricardo conhecer mais sobre a história do Entroncamento e da freguesia que estava a apoiar a sua integração na sociedade. Assim transcreveu a “Gazeta da Freguesia”, uma publicação anual editada pela junta que integra os acontecimentos considerados mais importantes daquele ano na freguesia.

Apesar de ter sido bastante trabalhoso o jovem garante que não foi nada difícil pois foi algo que teve muito gosto em fazer. E foi este trabalho que lhe abriu portas para o que tem agora em mãos: passar para braile a ementa de um restaurante do Entroncamento.
A oportunidade surgiu no dia em que foi apresentada a transcrição da “Gazeta”, no aniversário da junta de freguesia em 2019. “O proprietário de um restaurante aqui do concelho estava presente e achou que seria uma mais-valia poder ter a ementa em braile”, conta Ricardo orgulhoso.

A transcrição das ementas está a demorar mais do que o previsto, mas Ricardo faz questão de salientar que não é por estar a fazer um mau trabalho, mas sim devido à Covid-19 que veio atrapalhar o seu estágio. A escola parou, o estágio também e o acesso às máquinas e ao apoio que necessita para o seu trabalho ficou condicionado. No entanto, agora que já é possível escrever novamente, o entusiasmo e a motivação mantêm-se e Ricardo tem o seu trabalho quase completo.

Para já é apenas um restaurante que vai ficar com as ementas acessíveis em braile, no entanto Ricardo, e todos os envolvidos no projecto, esperam que seja algo que se estenda a mais estabelecimentos.

“Estas pessoas não podem continuar escondidas”

Este tipo de trabalhos só é possível de realizar com a colaboração que existe entre a escola e a junta de freguesia. “Todos os materiais para a escrita em braile são muito caros, já para não falar das máquinas”, alerta Isabel Delgado, professora de Educação Especial, que acompanha o Ricardo.

Apoiar estes jovens e dar-lhes a hipótese de fazerem trabalhos na comunidade é essencial para o seu desenvolvimento. “Estas pessoas não podem continuar escondidas e os outros não podem fingir que elas não existem”, alerta a professora.

Uma das maiores preocupações de quem acompanha o Ricardo é precisamente a continuidade desse apoio. Pois com 18 anos e com o estágio a menos de um mês de terminar é necessário pensar como vai ser num futuro próximo. A escola e a mãe de Ricardo, Fátima Ramos, estão já a analisar alternativas, a estudar cursos que possam dar resposta ao que este jovem gosta de fazer: escrever. Há, no entanto, a noção de que as saídas são muito limitadas. “Eu sei que não vai ser fácil, mas sei que quero continuar a poder escrever, a sair e a ser independente”, revela Ricardo.

Centro de Apoio à Vida Independente é um projecto diferenciador

Ricardo foi um dos primeiros destinatários a integrar o projecto-piloto do Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI) sediado na Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima. O projecto, que tem como objectivo dar assistência pessoal a pessoas com deficiência ou incapacidade, veio dar a resposta que a família de Ricardo precisava: mais tempo de acompanhamento ao jovem, após as aulas, principalmente numa vertente que muitas vezes fica esquecida que é o lazer.
“Agora já posso passear na rua, fazer actividades fora da escola, estar com amigos. Passei até a frequentar a natação graças ao acompanhamento do meu assistente pessoal”, conta Ricardo, claramente feliz.

O CAVI tem actividades delineadas para inserir as pessoas que apoia na comunidade evitando a sua institucionalização. Por isso apoiam a pessoa no trabalho, na escola, na cultura, no lazer e no desporto, entre outras valências disponibilizadas.
Os assistentes pessoais são atribuídos mediante a análise de alguns critérios e o destinatário tem sempre o direito a escolher a pessoa que o acompanha. O Centro onde Ricardo está integrado surgiu na sequência de uma candidatura do CERE – Centro de Ensino e Recuperação do Entroncamento ao projecto-piloto que surgiu em 2019 em alguns pontos do país. Actualmente apoia 28 pessoas podendo ir até 39.

O CAVI, sendo um projecto-piloto, tem uma data de conclusão. Mas a equipa que o compõe - Inês Palmeiro, Cátia Estrela e Andreia Brás - está confiante que após 30 de Junho de 2022 possam continuar o trabalho desenvolvido. Até porque os resultados têm sido bastante positivos.

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