Universidades seniores são um bálsamo contra o isolamento e a solidão
As consequências do confinamento imposto pela Covid-19 são uma das maiores preocupações de quem lida com a questão do envelhecimento. As universidades seniores são fontes de estímulo importantes para os mais velhos e O MIRANTE foi tentar perceber o impacto destas instituições na vida dos seus utentes.
Maria Emília Castro, Olinda Simões e Alice Tenreiro são alunas da Universidade Sénior do Entroncamento. Para estas mulheres, entre os 69 e os 80 anos, o ponto alto do dia é quando saem de casa para irem até à universidade.
O tempo que estiveram sem poder frequentar as aulas foi difícil, chegam mesmo a dizer que foi frustrante. “A minha sorte foi ter a minha neta comigo, caso contrário teria dado em doida”, confessa a O MIRANTE uma das alunas que vem de Vila Nova da Barquinha para poder conviver com as suas colegas.
Sentadas na mesa do bar da universidade, enquanto aguardam a hora da aula, professora e alunas vão partilhando histórias. A reportagem de O MIRANTE deixa-as ainda mais entusiasmadas e querem contar aquilo que sentiram quando souberam que podiam regressar às aulas. O entusiasmo é geral.
Mais do que a aprendizagem em si, que também existe, aquele é um momento em que conversam e têm companhia. Para alguns é a única parte do dia em que estão com outras pessoas e continuam a estimular as suas capacidades. “É por saber que venho para aqui que me levanto, me arranjo e saio de casa. Se não fosse a universidade sénior não tinha vontade nem motivo para sair”, confessa uma aluna.
É por isso que o fecho de universidades como esta podem trazer consequências negativas para quem as frequentava. “As pessoas que frequentam as aulas são, por norma, bastante activas. No entanto, o isolamento imposto pela Covid-19 e a consequente falta de estimulação poderá levar a alguma perda de capacidades”, diz Emanuel Lemos, coordenador da Universidade Sénior do Entroncamento.
O receio é maior em relação àqueles que não regressaram mesmo após a retoma das aulas presenciais que aconteceu no início de Maio. Neste momento a universidade tem 60 inscritos, quando eram 72 em Outubro. Emanuel Lemos não tem dúvidas de que os que continuam sem aparecer fazem-no, em grande parte, pelo medo que sentem de sair de casa.
O convívio é uma terapia
As realidades vão variando entre universidades, mas o receio de que alguns alunos se deixem levar pelo isolamento é geral. Na Universidade Sénior de Tomar, onde o universo de alunos é bastante superior - tinha mais de 300 inscritos em Outubro -, a decisão passou por não retomarem as aulas presenciais.
Rosário Sousa, coordenadora, explicou que não lhes pareceu coerente recomeçar o ano lectivo a cerca de um mês de terminar. Esperam poder voltar em força em Outubro.
Devido aos insistentes pedidos dos idosos em voltarem a conviver o município de Tomar juntamente com a universidade decidiram promover reencontros semanais. Caminhadas, terapia do riso, meditação e muitas outras iniciativas vão fazendo as delícias dos que sentem falta do convívio das aulas.
Segundo a coordenadora, a maioria dos alunos continua interessada em regressar e prova disso é que os reencontros semanais, que têm inscrições limitadas, têm estado sempre cheios. Os alunos demonstram uma enorme necessidade em conviver e quebrar o isolamento que têm vivido nos últimos meses.
Ainda assim não descarta a possibilidade de alguns se terem isolado e desmotivado. O fecho da universidade foi encarado com bastante compreensão por todos mas também com amargura e tristeza. Sentimentos que a própria coordenadora e todos os professores vão tentando combater de cada vez que se cruzam com os seus alunos e lhes passam alguma esperança de que dias melhores estarão para chegar.