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O cantor e chocolateiro que promove o figo preto de Torres Novas
João Rosa é cantor profissional no Coro do Teatro Nacional São Carlos, em Lisboa, e produz bombons de chocolate à base do figo de Torres Novas

O cantor e chocolateiro que promove o figo preto de Torres Novas

João Rosa é um ribatejano, natural de Árgea, que migrou para Lisboa nos anos 80 para seguir o sonho de ser músico profissional.

Nunca esqueceu as origens nem perdeu a ligação à terra. Foi por isso que decidiu agarrar naquele que considera o melhor figo do mundo, o figo preto de Torres Novas, juntá-lo ao chocolate negro e produzir o “Beijo de Figo”, um produto e uma marca que não quer deixar morrer as tradições e a cultura de Torres Novas.

João Rosa é cantor profissional no Coro do Teatro Nacional de São Carlos e chocolateiro artesanal nas horas vagas. É barítono desde 1985 naquele que é o único coro de ópera profissional em Portugal e produz bombons há cerca de cinco anos na cozinha de sua casa.

Tinha 24 anos quando deixou a sua aldeia, Árgea, concelho de Torres Novas, para rumar à capital e dar continuidade ao sonho de ser músico. A família, na altura, não acreditava muito que a música fosse uma profissão a sério. “A música não dá dinheiro a ninguém”, dizia o pai de João Rosa. “E, de facto, talvez não dê. Mas dá uma satisfação enorme”, confessa o cantor lírico.

Recorda com emoção o seu primeiro emprego ligado à música. Tinha apenas 19 anos e foi dar aulas numa escola preparatória de Tomar. Foi a partir dessa altura que a família passou a acreditar que era possível seguir os sonhos. Continuou e entrou para o Conservatório de Lisboa. Desde essa altura nunca mais parou de cantar. Já fez centenas de espectáculos e encarnou as mais variadas personagens numa vida que, confessa, é movida por paixões.

As ligações à terra

João Rosa nunca esqueceu de onde veio. Continuou a visitar regularmente Árgea mantendo uma forte ligação às suas raízes. Foi numa das visitas à aldeia que sentiu enorme tristeza ao perceber que a cultura dos figos estava a morrer. “Passava nas terras e os figos estavam todos a estragar-se, as figueiras a morrer. E isso, para uma pessoa que cresceu no meio daquelas terras, custa muito”, conta de lágrima no olho.

Verdadeiro apaixonado pelo figo e um curioso das artes culinárias, começou a fazer uns doces, bolachas e bolos com figo que levava para os seus colegas do teatro. “Apercebi-me que eles gostavam bastante, eram as minhas cobaias”, diz, orgulhoso, assumindo que ainda hoje são capazes de pedir uns bombons para aquecer a voz.

De músico a chocolateiro

A ideia de se dedicar às artes culinárias não lhe saía da cabeça. Pensou em envolver um doce de figo em chocolate. “Mas sabia que precisava de conhecimentos que não tinha. É necessário aprender técnicas bastante complexas”, conta o chocolateiro. Por isso resolveu participar em cursos com os chefs Joaquim de Sousa e Fabian Nguyen e a sua vida ficou mais rica. João Rosa só queria contribuir para valorizar o figo da sua terra; criar um produto que unisse o figo preto ao chocolate. Assim nasceu a “Beijo de Figo”.

O figo preto de Torres Novas, a noz e a amêndoa formam a base dos bombons de João Rosa, que utiliza apenas produtos nacionais, à excepção do chocolate. Até a aguardente, que dá um toque especial a alguns dos bombons, é portuguesa e vem da Lourinhã. Apesar de a base ser sempre igual, todos os bombons são diferentes. Cada um tem a sua apresentação, a sua textura, as especiarias e a percentagem de álcool.

Chegaria a ser quase impossível fazer dois bombons iguais pois todo o processo é manual. Não há recurso a máquinas. É por isso que para produzir cada dose de bombons (cerca de 300) João Rosa demora entre cinco a seis horas. Mas garante que nem conta o tempo, de tão bem que se sente a fazê-lo.

Figo preto devia ser certificado

Em tom de brincadeira, João Rosa intitula-se “embaixador do figo preto de Torres Novas”, tal é o empenho em valorizar o produto. Sabe que não pode comprar grandes quantidades porque a sua produção também é reduzida, mas garante fazer tudo o que pode e às vezes mais que isso.

“Compro o figo apenas aos únicos dois produtores que continuam a existir em Árgea. Sei que o preço a que vendem, normalmente, ronda um euro o quilo. O ano passado paguei a dois euros, este ano já disse que lhes vou dar 2,5 euros o quilo”, afirma a O MIRANTE.

Sente quase uma revolta por ninguém se preocupar, de verdade, com os pequenos produtores daquela região. “Parece que ninguém quer saber. É um produto que deveria ser certificado, ter denominação de origem. Os produtores deveriam ser subsidiados e incentivados a aumentar a produção. Mas nada disto acontece. As entidades competentes não lhe dão o real valor que tem”, critica João Rosa que, apesar de tudo, diz manter uma atitude positiva e acreditar no futuro do figueiral de Torres Novas.

Internacionalização à vista

João Rosa nunca pensou tornar as suas criações num verdadeiro negócio. Ainda assim, a internacionalização do seu produto pode estar mais próxima do que alguma vez pensou. Quando conheceu Luís Rosello, director da Thalgo Portugal, e este o desafiou a criar um bombom com uma alga, João Rosa aceitou de imediato. Depois de algumas tentativas chegou até à spirulina, uma alga com elevado conteúdo de proteínas, à qual juntou a flor de sal e, claro, o figo preto de Torres Novas.

Foi um sucesso dentro da empresa que encomendou três mil bombons e depressa quis dar a conhecer a especialidade aos seus representantes de Espanha e França. Os espanhóis queriam duas mil embalagens em cinco dias, produção à qual João Rosa não conseguiu dar resposta. Mais tarde foi a vez dos franceses contactarem. “Temos mantido o contacto. Estou mesmo muito contente porque vou poder dar a conhecer um produto da minha terra”, revela, comovido.

O cantor e chocolateiro que promove o figo preto de Torres Novas

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