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Manuel Clemente vai levar o bailado equestre do Porto Alto para a Europa
Manuel Clemente com Zulmira, a égua que herdou do seu avô, o ganadeiro e criador de cavalos José Pereira Palha

Manuel Clemente vai levar o bailado equestre do Porto Alto para a Europa

Manuel Clemente, que vai a provas desde os 11 anos, prepara-se, aos 13, para pôr à prova a sua arte equestre no Campeonato da Europa de Dressage. O MIRANTE foi conhecer o percurso do menino tímido apaixonado por cavalos que não quer o Governo a decidir se pode ir a uma corrida de toiros.

Queria montar a cavalo, como o seu avô, como o seu pai e como os grandes cavaleiros que apareciam para avaliar os cavalos lusitanos das duas coudelarias da família. Coleccionou algumas quedas mas nunca deixou que o medo o vencesse e acabasse com a paixão e encanto que tem pelo mundo equestre. Aos 13 anos, o jovem cavaleiro do Porto Alto, Manuel Palha Clemente, vai representar Portugal no Campeonato da Europa de Dressage, que decorre em Valência, de 5 a 11 de Julho, depois de ter conquistado o apuramento e alcançado um segundo e terceiro lugar em campeonatos nacionais do seu escalão.

Os triunfos desportivos começaram em 2019, mas a descoberta da paixão pelos equinos começou muito antes na vida de Manuel Clemente. A primeira vez que o sentaram sozinho em cima de um cavalo tinha um ano e aos quatro já andava montado num pequeno ginete a percorrer as ruas da Golegã, na Feira Nacional do Cavalo. Mas o melhor chegava sempre no Verão depois do último dia de aulas. “Podia passar os dias a alimentar, limpar e fazer a cama aos cavalos e nada me deixava mais feliz”, conta.

É na herdade do Monte de Santo Isidro, no Porto Alto, concelho de Benavente, onde vive e recebe a reportagem de O MIRANTE, que dá o último passeio com Zulmira, a égua de 18 anos que herdou do seu avô, José Pereira Palha, antes de seguir para mais um treino. Faz quatro por semana, de hora e meia, na Academia Dressage Portugal, em Arruda dos Vinhos, montado no Gavião, o puro sangue lusitano de 10 anos que o acompanha nas provas.

“O meu cavalo é o meu melhor amigo”

Para ser bem sucedido na disciplina conhecida como o “ballet equestre” é preciso haver um entendimento profundo entre o cavalo e o cavaleiro. No caso de Manuel e Gavião criar esse laço estreito tem sido um autêntico desafio. “A primeira vez que o montei fugiu comigo às costas. A minha treinadora (Raquel Falcão) achava que era cavalo a mais para mim, mas como o adorei desde o primeiro momento tive que lutar para o conseguir acompanhar”.

Inegável é que entre os dois houve uma “empatia instantânea”, perceptível através do olhar, do toque e das brincadeiras no final de cada treino. “O meu cavalo é o meu melhor amigo, aquele que não me falha e está sempre lá para mim. Tenho muito orgulho nele e em tudo o que já conquistámos juntos”, diz emocionado, como fica sempre que fala do seu fiel companheiro.

Manuel Clemente é tímido e assume a “lentidão” típica de um alentejano, região onde nasceu e que deixou aos quatro anos. Mas a confiança e concentração têm-se desenvolvido desde que iniciou aos sete anos as aulas de equitação. “Decorar a sequência de exercícios põe à prova a minha concentração e os meus nervos”, diz, explicando que o Gavião também decora os movimentos naturais que tem que executar, antecipando-se por vezes ao seu comando. Algo que não deve acontecer e é penalizado em prova.

“Não quero que decidam por mim se devo ir a uma corrida de toiros”

O jovem cavaleiro diz-se um aficionado da festa brava. Criado entre cavalos e toiros de lide, desde tenra idade lembra-se de admirar a arte de tourear. Nunca o incomodaram os comentários dos colegas de escola ou conhecidos que são contra a tauromaquia. “Há que respeitar opiniões, foi isso que a minha família me ensinou”, diz explicando que a única atitude que toma passa por explicar a tradição. “Mas nem isso vale a pena. As pessoas estão formatadas para ser contra”, vinca.

O que Manuel Clemente não aceita é que venham um dia a impor a crianças e jovens a proibição de assistirem ou participarem em actividades tauromáquicas. “Não quero que decidam por mim. Se devo ou não ir a uma corrida de toiros é uma decisão que cabe aos meus pais e não ao Governo”, defende. Depois acrescenta: “Jogar demasiado playstation faz mal e o Governo não proíbe ninguém de o fazer”.

Um desporto que não é para todos os bolsos

Ter um cavalo obediente, esteticamente atraente e com uma passada comprida e elegante é fundamental para fazer funcionar o bailado da dressage. E neste aspecto o cavalo lusitano tem-se vindo a destacar e a somar pontos no desporto equestre. Manuel Clemente sabe a sorte que tem em ter o Gavião, comprado pelos seus pais, Pedro Clemente e Mariana Palha, por uns milhares de euros.

Na verdade, no mundo equestre quase tudo sai caro e os “apoios continuam a ser muito poucos”. Além das despesas em aulas, fixadas em 750 euros mensais, juntam-se as ferrações, o veterinário e o osteopata para o cavalo. Fazendo as contas, a mãe de Manuel Clemente estima que a despesa ultrapasse os mil euros nalguns meses.

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