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O activismo de sofá pelo aumento da ração e a enxurrada de candidatos a tachos

Rochoso Serafim das Neves

Está a chegar à política uma fornada de cidadãos ansiosos por acabar com tudo o que os aborrece. Pelo que vou lendo, se forem eleitos, vai tudo a eito até eles se sentirem realizados e felizes. E é para as pessoas se sentirem realizadas e felizes que existe a política e que existem os cargos políticos.

Ando a preparar-me para a sua chegada uma vez que não sou político nem candidato a nenhum cargo político. Como simples cidadão eleitor aguardo com serenidade a enxurrada e até já pensei amarrar-me a uma árvore para não ser arrastado.
Não costumo ser nostálgico mas de vez em quando dou por mim a recordar outras fornadas de gebos, que se anunciaram há uma décadas como salvadores da Pátria, da educação, da saúde, do ambiente, das finanças e de outras lambanças.

Ingenuamente não acreditei muito neles, nem no que diziam sobre a promoção do bem-estar e a criação de riqueza e de bons empregos, mas agora que os vejo prósperos e agarrados a bons tachos tenho que dar a mão à palmatória. Eles cumpriram as promessas feitas e são o retrato vivo do sucesso das suas políticas.

Não salvaram toda a gente mas salvaram-se a eles próprio. E isso basta-me. Como sabes sou contra o radicalismo igualitário. Aquela teoria que defende que, quando não podemos ser todos ricos, o mais justo é sermos todos pobres.

Sou contra e não estou sozinho. Se não chega para todos que, ao menos, chegue para alguns. Se não há bons cargos do Estado para todos, é bom que sejam distribuídos por quem faz por eles. Não reclamo porque reconheço que em matéria de caça ao tacho, como em tantas outras, sou um enorme preguiçoso.

Volto a falar-te das vacinas porque o andamento da vacinação está imparável. Por este andar acho que para a semana vão abrir as inscrições para crianças acima dos dois anos. E lá para o princípio de Agosto deverá começar a ser cumprido o sonho do senhor do camuflado, de ver os portugueses irem à vacina sem marcação. Uma coisa do tipo, vou ali abaixo beber a bica e, já agora, aproveito para levar a pica.

Já sei que se houver fila, ou bicha de pirilau, como se dizia na tropa, abrem-se mais centros de vacinação ou começa-se a vacinar na pastelaria, na cabeleireira, na loja do cidadão ou nos mercados municipais. E quem não tiver pernas para acompanhar esta aceleração que arreieporque isto não é para meninos, nem para coxos.

O Santana-Maia Leonardo escreveu aqui no jornal que o homem, para ter o prazer de comer belos bifes, uma das coisas que faz é cortar os tomates aos bois. E que, para ter o prazer de poder assistir a uma tourada, não faz isso aos toiros bravos, e até os deixa andar pelos campos em liberdade durante três ou quatro anos, em vez de os terem, como aos bois, nos estábulos, amarrados a uma manjedoira, quase sem espaço para se mexerem, engordando a toque de farinhas e hormonas.

E esta coisa de bois e toiros também pode ser aplicada aos homens. Há os que se deixam engordar, perdem os tomates e vivem mansos e há os que lutam na arena e têm tomates, embora alguns andem a vida toda a marrar nos sítios errados. E há ainda os que lutam apenas para reivindicar mais ração. Raios. Estou feito um filósofo de sofá. Será da ração?
Saudações tauromáquicas
Manuel Serra d’Aire

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