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O problema da política em Azambuja é verem-se as mesmas caras durante décadas
António Jorge Lopes foi vereador da oposição na Câmara de Azambuja durante 12 anos e é membro da assembleia municipal

O problema da política em Azambuja é verem-se as mesmas caras durante décadas

António Jorge Lopes foi vereador do PSD durante 12 anos fazendo oposição na Câmara de Azambuja.

Em 2017 foi para a assembleia municipal e agora põe um ponto final na vida autárquica. Nesta entrevista, no escritório onde exerce advocacia, diz que quem depende do dinheiro da política local não tem liberdade, que um dos problemas da vida autárquica é verem-se as mesmas caras durante décadas. Diz que o actual presidente da câmara às vezes nem percebe os documentos que está a ler, mas tem a mania que sabe tudo. Considera que os autarcas socialistas curvaram-se para ter o aterro e agora querem fechá-lo e que foram coniventes com a matança de animais na Torre Bela. O advogado, de 51 anos, está apreensivo com o futuro, caso continue o que considera a “monocultura” da logística no concelho prevendo que daqui por dez anos as empresas vão estar automatizadas e milhares de pessoas vão estar desempregadas.

Está cansado da política?

Quem depender do ordenado da política para tomar decisões tem a sua liberdade condicionada. Foi sempre assim que enquadrei a minha participação no partido e na vida autárquica. Para se exercer bem um cargo político a liberdade é essencial. Um dos grandes problemas da política local é que são sempre as mesmas caras. Há pessoas nos mesmos cargos há 20 ou 30 anos.

Daqui por um tempo vai voltar?

Não me estou a ver a voltar. Estive 12 anos como vereador e na altura disse: “Isto está mal, é tempo de virar a página”. O PSD precisava de virar a página. Estive vinte anos a participar na vida do PSD de Azambuja. Só mantenho o cargo de presidente do Conselho de Jurisdição Distrital do PSD, que termina em Dezembro, e não sei se me recandidato.

Está satisfeito com o que fez como vereador da oposição?

Sempre defendi aquilo em que acreditava. Em relação ao aterro estive muito tempo sozinho e era só eu que falava no problema. Tenho a consciência tranquila. Não estou dependente de favores e sempre vivi do meu trabalho como advogado.

Qual foi o momento mais difícil?

Foi quando a câmara levou à assembleia municipal o projecto da requalificação da praça de touros, que custava 600 mil euros, numa altura de início de crise. A bancada do PSD votou contra. Na altura as piscinas municipais estavam fechadas e não havia dinheiro para as arranjar. Nós preferíamos a requalificação das piscinas, que só foi feita quatro anos e meio depois.

As responsabilidades no aterro e a cumplicidade na matança da Torre Bela

Acredita que a câmara vai conseguir acabar com o aterro da Triaza?

O erro fatal foi a câmara ter viabilizado todas as decisões que deram origem ao aterro. Há responsabilidades da Agência Portuguesa do Ambiente, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo, mas também da câmara. Há documentação escrita da CCDR a dizer que, se a câmara não tomasse determinadas decisões, o processo de construção do aterro não avançava. O presidente da câmara e o vereador do Ambiente assinaram tudo o que havia para viabilizarem o aterro. As pessoas que trouxeram o aterro não conseguem ser as mesmas que vão dar um pontapé no aterro.

De quem é a culpa da matança de 540 animais na Torre Bela?

À cumplicidade do executivo, que aprovou a declaração de interesse público para a instalação da central fotovoltaica. O estudo já apontava que os animais fossem retirados. A câmara acabou por consentir a matança. Depois tentou emendar o erro. O projecto vai ser novamente discutido e a declaração de interesse público municipal vai ser aprovada outra vez porque o PS quer, à força toda, colocar as fotovoltaicas no concelho. Nunca vou conseguir perceber porque é que dois dirigentes em vez de defenderem os interesses do concelho acabam por se transformar quase em porta-vozes de estranhos. E por aqui me fico.

Plataformas logísticas vão ser um problema

As grandes empresas das plataformas logísticas deviam ter um papel mais activo?

É uma obrigação, mas também precisamos de um presidente de câmara que tenha uma equipa que saiba falar com essas empresas. Não podemos ter um presidente que fique deslumbrado por reunir com o doutor ou presidente do conselho de administração de uma empresa. Que almoce com eles num restaurante caro de Lisboa e que não peça nada porque fica deslumbrado com a comida. É preciso alguém que saiba ter pulso.

O que é que o concelho mais precisa neste momento?

Azambuja não pode ser apenas um concelho de festas e tem de conseguir discutir ideias, ter um projecto educativo… Precisa de mobilizar o sector público e o privado para existir mais habitação de modo a que os preços das casas baixem e as pessoas tenham mais dinheiro. Para a sustentabilidade de restaurantes, do comércio, é preciso as pessoas terem dinheiro. O concelho precisa de um projecto a 20 anos, que deve juntar todas as forças políticas.

As plataformas logísticas são um problema ou um benefício?

O tecido económico de Azambuja está dependente dos armazéns da logística que criam emprego, de facto, e dão emprego a muita gente de fora, mas a maior parte dos empregos é mal pago. Daqui a dez anos algumas unidades vão estar automatizadas com robôs e aquilo que é uma massa laboral de oito ou dez mil pessoas vai ficar reduzida a pouco mais de mil ou duas mil. O desemprego no concelho, mantendo esta “monocultura” da logística, vai ser enormíssima. Precisamos de emprego qualificado.

O PSD de Azambuja tem sido acusado de populista.

Agora tudo é populismo. Na minha altura, diziam que era demagogo. Era demagogo quando fui contra o aterro; quando fui contra o contrato de concessão das águas, que aumentou as facturas; era demagogo quando disse que o contrato de concessão dos lixos tinha problemas. Eles é que estavam certos. Têm-se visto as asneiras que o executivo tem feito.

Silvino Lúcio tem mais perfil de capataz de mini na mão do que de presidente

Silvino Lúcio tem perfil para presidente da câmara?

Se as pessoas quiserem um concelho governado por alguém que é uma espécie de capataz, tem todo o perfil. A câmara tem de ser gerida por um bom gestor, por alguém com capacidade, alguém do século XXI e que não tenha parado nos anos 80.

Silvino Lúcio é uma pessoa popular no concelho, que pode ganhar muitos votos...

Porque ele bebe uma mini ou duas no café da frente? Isso não faz dele uma pessoa com capacidade técnica. O Silvino e o presidente Luís de Sousa nem sequer percebem as propostas que lêem. Agora, claro que há um tipo de eleitorado que prefere o capataz com a mini na mão.

O que falta ao presidente Luís de Sousa?

Humildade. Ele parte do princípio que só ele é que sabe.

O vereador da Cultura, António José Matos, saiu do PSD em 2009 para o PS. A presidente da junta Inês Louro saiu do PS para ser candidata pelo Chega. O que acha das pessoas que mudam de partido?

Depende da motivação. As pessoas não são obrigadas a ficar num partido para sempre. O partido às vezes toma determinadas decisões e nós saímos. A probabilidade de Inês Louro ser eleita vereadora pelo Chega é praticamente nula. António José Matos saiu do partido depois de ter tido a atitude de destruir o PSD. Ele já estava no PS e continuava a exercer cargos no PSD. Quando finalmente saiu o PSD Azambuja estava desfeito.

E vê o PSD a eleger mais vereadores para a Câmara de Azambuja?

Não tenho dúvidas. Acho que o cenário será três vereadores do PSD, três do PS e um da CDU.

Um advogado que gosta de música

António Jorge Lopes, advogado, militante do PSD, 51 anos, pai de três filhos. A mais velha, Constança, seguiu as pisadas do pai e está a tirar Direito na mesma universidade, a Católica. É social-democrata desde os 14 anos e fundou o Núcleo de Estudantes Social-Democratas da Universidade Católica, que é actualmente liderado pela filha.

Foi vereador da Câmara de Azambuja durante 12 anos. Em 2017 não quis continuar no cargo e candidatou-se à assembleia municipal. Admite que preferiu trabalhar com o anterior presidente da câmara, Joaquim António Ramos, do que com Luís de Sousa. No entanto, diz que se dá bem com todos os políticos, porque “a vida política não se pode misturar com a vida pessoal”. Quando está a fechar algum prazo ou quando está a arrumar o escritório gosta de ouvir música. No escritório tem de tudo, desde Guns N’Roses a Edith Piaf, e a escolha é feita conforme o estado de espírito.

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