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“Trabalhar nas limpezas é duro e invisível a muitos olhos”
Rosa Patrício é a proprietária da empresa RosaLimpa, no Entroncamento

“Trabalhar nas limpezas é duro e invisível a muitos olhos”

Aos 11 anos deixou a pacata aldeia da Barroca, em Torres Novas, para fazer limpezas para Lisboa. Sonhava ser carteira, mas faltavam-lhe estudos. Rosa Patrício voltou à escola e gere há 19 anos a sua empresa de limpezas, no Entroncamento.


O telefone de Rosa Patrício não pára de tocar. É mais um cliente a agendar uma limpeza; depois uma funcionária a avisar que o serviço está concluído. Na loja RosaLimpa, no mercado do Entroncamento, as paredes estão revestidas de prateleiras com detergentes concentrados, cada um com a sua função e cheiro. “Fazer uma limpeza profissional não é o mesmo que limparmos a nossa casa. Tem que haver muita técnica e utilizar os produtos certos, que acabam por fazer 70 por cento do nosso trabalho”, começa por explicar a empresária, natural de Torres Novas.

A RosaLimpa, fundada há 19 anos, emprega actualmente 12 funcionárias, todas mulheres, com idades entre os 24 e os 47 anos. Distribuídas pelas cinco carrinhas da empresa, viajam até ao destino agendado para “deixar tudo a brilhar”, sejam condomínios, escritórios, fábricas, hipermercados, domicílios ou qualquer edifício em fim de obras. “Há quem entre ao serviço às quatro da manhã. É um trabalho duro e invisível a muitos olhos”, diz.

O mundo das limpezas surgiu na vida de Rosa Patrício muito antes de se tornar uma empresária bem sucedida. Recuando até aos seus tempos de infância não esquece o dia em que a foram buscar à aldeia da Barroca para ir trabalhar como doméstica para casa de um casal, em Lisboa. Tinha 11 anos e cinco irmãos. Chorou pelo caminho, embora soubesse que aquela era a sua sina. O pai estava reformado por invalidez e na casa, sem luz ou água canalizada, onde dormiam oito, também morava a miséria. “Nasci numa família pobre mas que me ensinou a manter a casa a brilhar. A loiça era areada com sabão clarim e as tábuas velhas, cheias de buracos, esfregadas até voltarem a brilhar”, conta.

“É um trabalho digno que merece ser valorizado”

Rosa Patrício considera que ser “empregada de limpeza é um trabalho digno que merece ser valorizado”, mas que está longe de o ser. Há quem olhe com desdém, ou se quisermos com um ar altivo, para um homem ou mulher que ande de aspirador e esfregona na mão. “Felizmente também há o oposto e a RosaLimpa tem clientes que valorizam não só o serviço como quem o faz”, sublinha, partilhando o caso caricato de uma cliente que “limpa a casa antes de receber o serviço”.

A mulher empreendedora, que viu uma oportunidade de negócio numa altura em que era chefe de secção num hipermercado, é também um exemplo de resiliência. Enfrentou dois tumores malignos sem que tivesse deixado de trabalhar, mesmo durante a quimioterapia. Chegou a pensar que “ia ser o fim de tudo, que não ia aguentar e teria que fechar a empresa”, mas deu a volta por cima preocupada em salvar o maior número possível de postos de trabalho.

Ser carteira por um dia foi sonho tornado realidade

Quando perguntavam a Rosa Patrício o que queria ser quando crescesse a resposta saía com convicção: “Ser carteira como o senhor Américo”, o homem que a levava na Vespa azul e a deixava distribuir correspondência. Quando já era mãe de dois rapazes tentou seguir esse sonho por concretizar. Foi fazer os testes, mas ficou pelo caminho por falta de habilitações literárias. Nesse mesmo dia regressou à escola e durante 13 anos completou o ensino básico e secundário e fez cursos de higiene e segurança no trabalho, condutora de obras e formadora.

A 8 de Março deste ano a mulher que sonhava ser carteira concretizou o sonho. O filho mais novo, carteiro de profissão, pediu e os Correios deixaram: “Andei uma manhã com o meu filho a distribuir correspondência. Acredite-se ou não, foi um dos dias mais felizes da minha vida”.

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