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Jennifer Marçalo perdeu a guarda dos filhos mas não desiste de os ter de volta
Jennifer Marçalo luta pela guarda do filho do meio, Rodrigo, de 6 anos, que está institucionalizado em França

Jennifer Marçalo perdeu a guarda dos filhos mas não desiste de os ter de volta

Jennifer Marçalo tem 31 anos e é mãe de três filhos. Era adolescente quando engravidou a primeira vez e a segunda gravidez também não foi planeada.

Criada numa família desestruturada e instável, viu os filhos serem-lhe retirados. Agora luta para provar que mudou e que pode ter os seus filhos de volta.

Jennifer Marçalo não tinha ainda o sonho de ser mãe quando engravidou a primeira vez, aos 17 anos. Hoje, com 31 anos, tem três filhos mas apenas pode ser mãe de um, uma vez que os mais velhos foram-lhe retirados.

Considera vir de uma família desestruturada e instável. Assume que o melhor pode mesmo ter sido a retirada das crianças. Ainda assim acredita que tudo deveria ter sido feito de uma forma menos dolorosa. A sua memória quer esquecer o drama que viveu no momento em que a Polícia entrou pela porta de casa e levou as crianças à força. Já passaram cinco anos desde que perdeu a guarda dos seus dois filhos.

“Arrancaram o meu filho do meu colo”

Aos 24 anos Jennifer Marçalo teve um segundo filho; apesar da gravidez também não ser planeada desta vez tinha o apoio do pai da criança. Estavam a trabalhar e sentiram segurança para criar um filho. “Tudo descambou quando ficamos desempregados. Vivíamos em casa da minha mãe, com o meu irmão, e tinha consciência de que ali não era o sítio ideal para criar os meus filhos”, conta.

Jennifer Marçalo relembra que não lhes faltava amor nem comida, andavam cuidados e bem tratados. No entanto o ambiente não era o melhor e o convívio com quatro gatos e três cães, também não era o mais indicado.

Foi contactada pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) do Entroncamento quando resolveu pedir ajuda à Segurança Social, pois os rendimentos eram cada vez mais escassos. “A visita das técnicas não correu muito bem. Eu era impulsiva. A minha mãe nem queria que elas entrassem em casa”, relembra com sentimento de culpa.

Propuseram-lhe entregar os seus filhos: Érica, a mais velha, tinha oito anos; Rodrigo apenas um ano e meio. Jennifer Marçalo não aceitou e apelou a que a ajudassem a recompor a sua vida, promessa que não cumpriram. “Foi um choque ver a polícia entrar pela casa uma semana depois. O mais novo foi literalmente arrancado do meu colo enquanto chorava e gritava. A minha filha mais velha percebia tudo o que se estava a passar e as últimas palavras dela foram prometer que ia tomar conta do mano. Mas nem isso deixaram porque os separaram de imediato”, recorda Jennifer Marçalo com tristeza.

Garante que não queria ser nenhuma subsídio-dependente. “Só queria que tivessem percebido que eu era uma miúda que não sabia o que era ter uma família. Precisava que tivessem feito as coisas de outra forma e que tivessem tido a noção que só queria alguém que me ajudasse e ensinasse o que era uma família equilibrada”, admite.

Refazer a vida e recuperar a família

Cinco anos depois Jennifer Marçalo garante que tem uma vida organizada. Apesar de estar novamente desempregada está a realizar uma formação remunerada e aguarda resposta a algumas entrevistas de emprego.

Tem a sua própria casa, onde vive com a sua filha mais nova, fruto do relacionamento que tem actualmente. O seu companheiro está a trabalhar no estrangeiro. “Todos os meses me envia o ordenado. Pagamos a renda, as contas e tudo o que é necessário. Tenho meses que consigo colocar algum dinheiro de lado”.

Neste momento já conseguiu recuperar, em parte, a filha mais velha. Continua a viver num colégio em Fátima, no entanto apenas para estudar, pois vem para casa quando não tem aulas. A decisão de continuar no colégio é para seu bem: “Ela tem objectivos de vida. Quer ir para a universidade e o colégio paga-lhe as propinas caso ela continue a estudar com aproveitamento. Vou ajudá-la em tudo o resto”, diz Jennifer Marçalo com orgulho.

Filho institucionalizado em França

A maior luta continua a ser o filho Rodrigo, hoje com seis anos. “Como era pequeno queriam que eu o entregasse para adopção. Nunca aceitei porque o meu objectivo era mudar de vida e ter os meus meninos comigo”. Assim a solução passou por dar a guarda à avó paterna que vive em França. “Ela pediu para ficar com o meu filho. Viram que ela tinha bons rendimentos e não quiseram saber de mais nada, deram-lhe logo a guarda”.

A relação de Jennifer Marçalo com a avó de Rodrigo nunca foi a melhor. Há cerca de um ano voltou a viver o pesadelo da retirada dos filhos. “A avó do meu filho foi para o ir buscar à escola e ele tinha sido levado. O Estado francês retirou-lhe a guarda por alegados maus tratos. Nunca foram fornecidos os meus dados e, por isso, é como se eu não existisse. Foi entregue a guarda ao pai, que está preso em Portugal. O meu filho voltou para uma instituição, longe de todos os que continuam aqui a lutar por ele”.

Jennifer Marçalo receia que a situação tenha piorado, com a criança a pensar que foi mesmo abandonada pela mãe. “Ele pede para o trazerem à mãe e pergunta porque é que não falo com ele, segundo me diz o pai. Só queria ter a oportunidade de lhe dizer o quanto o amo”, confessa.

Pediu apoio à CPCJ, à Segurança Social e até chegou a contactar a advogada que acompanhou o processo de retirada dos filhos. Ninguém a pode ajudar. “O único conselho que me deram foi para aguardar que o pai fosse libertado, o que só acontece no próximo ano. Nessa altura, se ele ficar realmente com a guarda do menino e o trouxer para Portugal, já posso pedir reabertura do processo. Até lá o Estado português diz que não pode fazer nada”.

Conseguiu provar que mudou e, por isso, tem a filha mais nova consigo. Continua a ter o acompanhamento de assistentes sociais que comprovam existir condições para a filha mais velha ir a casa sempre que pretende. “Mesmo assim, todos os dias, quando me deito, as minhas lágrimas são poucas para chorar a ausência do meu menino”, diz.

Jennifer Marçalo perdeu a guarda dos filhos mas não desiste de os ter de volta

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