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Os zingarelhos de meter na orelha para ouvir bem os políticos e a evaporação do povo

Epicurista Serafim das Neves

Não fui afectado pela greve dos carteiros e a minha correspondência tem chegado. Pelo menos a de quem mais me escreve. Tenho aqui ao lado, uma rima enorme de folhetos publicitários dos super mercados e de empresas que me querem vender milagrosos amplificadores auditivos a cinco euros cada um... e já com pilhas.

A propósito da publicidade aos aparelhos auditivos, acho que as empresas que os vendem deviam ser apoiadas e recompensadas pelo Governo. Se há tantos surdos como elas apregoam, como é que os políticos seriam ouvidos sem as tais geringonças que elas vendem ao desbarato?

Acredito que há muitos surdos. Não só por ver tanta gente com aqueles aparelhos atrás da orelha mas porque há outros indícios como, por exemplo, o facto de todas as artistas de telenovela, comentadores futebolísticos e deputados falarem aos gritos.

E a calamidade é tal que os telejornais, talvez por não acreditarem na eficácia dos aparelhinhos de meter atrás da orelhas, colocam rodapés, sub-rodapés e intra-rodapés de texto, durante as homílias noticiosas, que funcionam como as legendas dos filmes estrangeiros.

Resta saber se a enorme legião de surdos consegue ler os tais rodapés uma vez que são escritos naquele português moderno que transformou o Egipto em Egito e os espectadores em espetadores, e têm mais siglas e termos em inglês, do que palavras da nosso língua pátria.

Não estranhes eu mandar este meu e-mail sem o enfeitar, como está na moda, com as cores da bandeira LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero). Sei que corro o risco de passar por troglodita ou por amigo do presidente da Hungria, mas não gosto muito de garridices, nem de nacionalizações. E a nacionalização do arco-íris por aqueles cidadãos progressistas e por outros progressistas que não são gays, bissexuais ou transgénero, caiu-me mal. Caiu-me mesmo muito mal.

Será que agora, as nossas crianças, quando vêm no céu o arco-íris, já não pensam num fenómeno óptico ou meteorológico mas no dia do orgulho gay? Lembro-me de me falarem do arco íris, associando-o à arca de Noé e ao dia em que deixou de diluviar e ele pôde abrir as janelas para deixar entrar sol no estábulo flutuante para alegria de elefantes, camelos, leões, burros, pulgas e anacondas. Será que, se a coisa se passasse agora, o Noé também mudaria de...género, por exemplo?

Ando há carradas de tempo para te falar dos jornais e televisões como fonte da eterna juventude. Como estão sempre a mostrar imagens e fotos de arquivo como se fossem do próprio dia, as pessoas não envelhecem, não engordam, não mudam de roupa, não deixam crescer o cabelo nem o cortam e estão sempre a fazer a mesma coisa. Tanta gente à procura da tal fonte da eterna juventude e afinal ela estava ao alcance de qualquer editor. Que mundo maravilhoso este.

O que vai mudando é o número de pessoas recenseadas. No distrito de Santarém são menos dez mil, do que em 2017. Até parece que quanto mais os nossos autarcas apregoam a qualidade de vida das suas aldeias, as boas acessibilidades, os magníficos equipamentos e as maravilhosas festas de Verão mais os cidadãos desaparecem. Evaporaram-se? Pisgam-se? Se souberes alguma coisa, diz-me.

Saudações escamoteadoras

Manuel Serra d’Aire

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