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Bibliotecas da região preparadas para voltar a receber pessoas
Sónia Lourenço, Norberto Esperança. Ana Filipe. Carmen Ferreira

Bibliotecas da região preparadas para voltar a receber pessoas

O livro é um mestre que fala mas não responde. A frase é da autoria do filósofo Platão e serve de inspiração para a reportagem de O MIRANTE com os responsáveis pela rede de bibliotecas de quatro concelhos da região, nomeadamente Abrantes, Ourém, Coruche e Azambuja. Apesar do número de utilizadores ter vindo a baixar consideravelmente, por causa da pandemia e não só, as bibliotecas reinventaram-se e aguardam a chegada dos visitantes.

Bibliotecas mais próximas das pessoas

Continua a ter livros para todos os gostos mas longe vai o tempo em que a Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, era um espaço frio e silencioso, reduzido a um depósito de documentos. Quem a visita encontra agora um espaço remodelado e dinâmico, aberto à partilha, convívio, arte e cultura. Um modelo que, na opinião de Sónia Lourenço, coordenadora do serviço de bibliotecas do município de Abrantes, devia ser replicado numa tentativa de se despertar a comunidade para o prazer da leitura. “As bibliotecas públicas precisam de repensar a sua missão, redefinir-se e aproximar-se da comunidade. Não podem ser só espaços de leitura”, sublinha.

Nascida em Abrantes, Sónia Lourenço trabalha na biblioteca há 17 anos depois de uma curta passagem pelo ensino. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, com pós-graduação em Ciências Documentais na variante de biblioteca e documentação, diz-se uma devoradora de livros e insatisfeita por natureza.

O tempo é, afirma, a desculpa mais ingrata para se justificar o facto de não se pegar num livro, jornal ou revista durante meses ou anos. “O tempo é o que quisermos fazer com ele. Arranjamos sempre umas horas ou minutos para fazer aquilo que mais gostamos”, afirma, acrescentando que se tem registado um decréscimo brutal de leitores com o passar dos anos.

Considera que a Internet se tornou em parte a grande responsável pela perda dos hábitos de leitura. A pandemia, por outro lado, é uma página negra que é preciso virar. Falando em números, a bibliotecária revela que em 2020 houve 1.716 requisitantes, menos dois mil do que no ano anterior (3.770); e um decréscimo enorme de novos utilizadores com registo de apenas 171, quando em anos anteriores o normal era haver uma média de 400 novos utilizadores ao ano.

Relativamente aos empréstimos, houve mais de 50 mil em 2019 e apenas 19 mil em 2020. “Tentamos reinventar-nos implementando o serviço take-away, em que os utilizadores podiam através de uma janela receber o seu pedido e o serviço porta a porta”, explica.

Até 2011 o concelho de Abrantes tinha pólos da biblioteca em várias freguesias que encerraram à medida que abriam as bibliotecas escolares, agora também tuteladas pela Câmara de Abrantes. Além da António Botto continua em funcionamento a Biblioteca Lizardo Leitão, em Bemposta, e a Biblioteca Itinerária de Abrantes. Trabalham no serviço de bibliotecas 22 pessoas.

Coruche renova biblioteca

Incentivar a leitura e chegar a um maior número de pessoas continuam a ser os grandes objectivos da Biblioteca Municipal de Coruche. Uma das estratégias utilizadas é apostar na promoção da biblioteca móvel, que leva os livros às várias freguesias do concelho. O projecto, designado “Coruja do Saber”, já existe desde 2018 e ganhou ainda mais força com a pandemia permitindo que todas as pessoas tenham acesso à leitura de livros.

Norberto Esperança tem 62 anos e é técnico da biblioteca há cerca de 40. Diz, a O MIRANTE, que gostava de ter tempo para ler mais, mas compensa a falha com as várias horas que passa a organizar e arrumar livros nas prateleiras. Considera que ao longo dos anos o número de leitores reduziu, mas nunca como em 2020, uma vez que estiveram encerrados devido à Covid-19 e quando reabriram muitos dos utilizadores tinham receio de sair de casa. Feitas as contas, o ano passado requisitaram 1.661 livros, na maioria contos, romances e ficção. “Muitas pessoas procuram também as obras do Plano Nacional de Leitura”, salienta.

Actualmente a Biblioteca de Coruche continua de portas fechadas apesar de estar disponível para requisição de livros. “A biblioteca está a ser reconvertida. Vamos alterar a zona da recepção e também alterar alguns dos espaços no interior”, explicou Norberto Esperança. O espaço conta com cerca de 14 mil livros uma vez que recentemente retiraram das prateleiras muitas obras que estavam desactualizadas ou degradadas. Parte dos livros pertencem a escritores da região.
No concelho, para além da biblioteca municipal e da móvel, existe ainda um pólo na Sala Américo Durão e quatro bibliotecas escolares. Norberto Esperança é o único técnico da Biblioteca de Coruche partilhando o seu local de trabalho com mais duas colegas que entraram recentemente. “Não são formadas na área mas gostam deste trabalho e estão a aprender a arte de catalogar e organizar os livros”, vinca.

Estrangeiros mais requisitados em Azambuja

O concelho de Azambuja tem três bibliotecas que compõem a Rede de Bibliotecas Municipais de Azambuja (RBMA), em Alcoentre, Aveiras de Cima e na sede de concelho. Em 2019 o município inaugurou a Biblioteca Itinerante do Concelho de Azambuja que tem como objectivo promover a leitura nas localidades mais isoladas.

Em 2020, ano de pandemia, registaram-se cerca de cinco mil requisições nas bibliotecas do concelho, menos 30 mil do que em 2019. No entanto, as interacções, serviços e iniciativas digitais aumentaram exponencialmente. A rede de bibliotecas do concelho tem cerca de 50 mil livros para consulta, que estão ao cuidado de 13 funcionários.

Ana Filipe, responsável pela biblioteca Centro Cultural Grandella, em Aveiras de Cima, conta a O MIRANTE que o livro mais requisitado em 2020 foi ‘Nunca Digas Adeus’, da escritora britânica Lesley Pearse. Em segundo lugar surge ‘O Tatuador de Auschwitz’, de Heather Morris, e a terceira obra mais procurada foi ‘Águas Profundas’, de Robert Bryndza. Afirma que há também uma grande procura pelos romances de Nora Roberts. No que diz respeito a autores nacionais, o mais procurado é Raul Minh’Alma, acrescenta. As categorias com mais procura são os romances e os livros de auto-ajuda.
Ana Filipe, 48 anos, confessa que “adora ler” e leva todas as semanas livros para casa, sobretudo romances e literatura infanto-juvenil, para passar à filha Beatriz, de oito anos, bons hábitos de leitura.

Ourém aposta nos escritores da região

A leitura e a escrita são duas das grandes paixões de Carmen Ferreira, 46 anos, bibliotecária na Biblioteca Municipal de Ourém há mais de uma dezena de anos. O espaço tem cerca de 30 mil livros disponíveis para consulta, sem contar com as repetições ou as colecções. Carmen Ferreira diz que se tivesse mais tempo, ou os dias fossem maiores, já teria lido a maioria dos livros que estão nas prateleiras.

Dar espaço aos escritores da região, diz, é uma das preocupações da Biblioteca de Ourém, e sua, uma vez que também é escritora com vários livros publicados. “Tentamos ter pelo menos dois exemplares de escritores ligados ao concelho e também adquirimos vários escritores da região”, conta a bibliotecária, que assume gostar de ler de tudo um pouco embora prefira a literatura portuguesa. É bibliotecária por opção e não se arrepende de ter escolhido esse modo de vida porque vive rodeada do que mais gosta. “É muito gratificante trabalhar aqui; a única coisa que gostava que mudasse era ter mais pessoas a visitarem a biblioteca”, confessa a O MIRANTE.

O concelho de Ourém tem, para além da biblioteca municipal, a Biblioteca de Fátima e 14 bibliotecas escolares. Em relação aos utilizadores de Ourém, o número reduziu devido ao encerramento do espaço por causa da pandemia. Mesmo assim, registaram-se 3.840 empréstimos de livros no ano de 2020. Os leitores habituais procuram essencialmente literatura moderna e clássicos, contudo, os livros mais procurados pertencem à categoria infantil; logo a seguir foram os do autor David Williams, dirigidos ao público juvenil. Quanto ao público adulto, os títulos mais lidos foram a biografia de Michelle Obama e o Diário Gráfico de Anne Frank.

Carmen Ferreira diz que gosta de experimentar géneros literários novos e trabalhar numa biblioteca dá-lhe uma liberdade ainda maior nesse sentido. Afirma ser difícil escolher um escritor favorito, mas Ana Margarida de Carvalho, Afonso Cruz, Valter Hugo Mãe, José Saramago, Fernando Pessoa e Luísa Ducla Soares são alguns dos autores que mais gosta de ler.

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