Escolas de Mação querem alunos mais felizes
Estudar no interior do país pode ser considerado, por muitos, como uma adversidade.
O Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação, quer reverter essa ideia e provar que estudar num dos seus estabelecimentos de ensino pode ser uma oportunidade. Preocupados com o percurso académico dos alunos, professores e director apostam também na componente social.
Francisco Costa vive nas Mouriscas, concelho de Abrantes, mas escolheu Mação para estudar. Tem 12 anos e frequenta o 6.º ano de escolaridade. Vem de uma família numerosa, com nove irmãos, que vive com algumas dificuldades e por isso foi um dos seleccionados para integrar um dos mais recentes projectos de âmbito social do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação.
No início do ano lectivo recebeu um inquérito para responder em conjunto com os pais, tal como todos os alunos do agrupamento. Através das questões colocadas foram identificadas algumas das famílias com mais necessidades, assim como os alunos que podiam ajudar no projecto.
Foi assim que no início do terceiro período Francisco Costa recebeu a notícia de que iria ser apadrinhado por uma professora da sua escola. A iniciativa é recente mas já faz a diferença.
“Muita coisa mudou e isso reflectiu-se nas minhas notas, que eram uma das minhas maiores preocupações. Com os nossos encontros semanais tenho tido o apoio que precisava”, revela o aluno a O MIRANTE assumindo que está muito feliz com a madrinha que tem.
A madrinha é Sílvia Ramadas, professora de Inglês no agrupamento de Mação há cerca de 12 anos. Assumiu esta responsabilidade, aos 51 anos, por considerar que este é um projecto nobre. “Além da componente social confesso que foi até a realização de um sonho pessoal. Apesar de ser mãe e tia, nunca fui madrinha. O Francisco é o meu único e verdadeiro afilhado na vida”, diz comovida.
Apadrinhar um aluno
A ideia surgiu entre alguns professores do agrupamento que costumam realizar outros projectos de cariz social nas escolas de Mação. Cláudia Olhicas é a coordenadora do projecto “Apadrinhamento de Uma Criança” que surgiu com o objectivo de chegar ao coração das crianças e fazê-las mais felizes.
“O objectivo é ajudá-las a sentirem-se bem e proporcionar-lhes algumas actividades que, de outra forma, não teriam hipótese de realizar. O apadrinhamento foi pensado para os ajudar a crescer mais felizes na escola”, explica a também professora do agrupamento.
Todos os alunos do pré-escolar até ao final do 6.º ano podem ser apadrinhados. Já os padrinhos podem ser alunos a partir do 10.º ano ou professores, desde que não leccionem qualquer disciplina à criança que estão a apadrinhar. Actualmente a iniciativa conta com oito crianças envolvidas, duas do pré-escolar e seis do segundo ciclo.
Para ser madrinha ou padrinho existem algumas orientações dadas pelo agrupamento como, por exemplo, o garantir que têm tempo para encontros regulares (pelo menos uma vez por semana) com a criança que estão a apoiar.
Existe também o objectivo de realizar algumas actividades de grupo que a pandemia tem vindo a adiar. Ainda assim já conseguiram realizar uma: levar as crianças a andar a cavalo na Quinta do Cabrito foi um momento único que os professores garantem ter ficado na memória de todos.
E apesar de, oficialmente, o apadrinhamento terminar no final do 6.º ano a ideia principal é que padrinhos e afilhados continuem a manter ligação. “O Francisco será sempre o meu afilhado”, afirma Sílvia Ramadas sob o olhar atento do seu afilhado, que diz que sim com a cabeça.
Escola quer marcar a diferença
“Somos um agrupamento de afectos”, diz o director do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, José Almeida. Formar os alunos da forma mais global possível, nas diversas componentes para além da académica, é uma das preocupações. “Porque é importante formarmos estes jovens como homens e mulheres”, diz.
A questão da solidariedade é bastante acarinhada nas escolas de Mação, desde o pré-escolar ao ensino secundário. Foi por isso que surgiu o projecto “Horizonte Solidário”, dentro do qual se integra a iniciativa de apadrinhamento de uma criança. O intuito é encontrar fragilidades que por vezes não são muito visíveis. Depois de identificadas a ideia passa por serem criados projectos que as atenuem ou eliminem.
“O Horizonte Solidário é um projecto de felicidade. O que queremos é que os miúdos sejam felizes”, assume José Almeida explicando que a felicidade tanto pode passar por dar uns óculos a uma criança como levá-la a ter uma experiência que nunca tenha tido.
Estudar no interior não é uma adversidade
José Almeida assume que existem muitas diferenças entre estudar no interior do país, principalmente numa zona rural, e estudar numa escola da grande Lisboa, por exemplo. Contudo, assume que tudo tem feito para que estudar em Mação seja uma oportunidade e não uma fatalidade. Objectivo que, garante, tem conseguido atingir.
Os alunos que frequentem uma escola do agrupamento têm a garantia de encontrar um ensino de grande qualidade, com boas infra-estruturas e, acima de tudo, projectos diferenciadores. “O facto de estarmos localizados onde estamos faz com que o nosso ponto de partida seja mais baixo que outras escolas, por isso só com projectos diferenciadores podemos marcar a diferença. Se não dermos igualdade de oportunidades aos nossos alunos não estamos a fazer bem o nosso trabalho”, conclui o director que se orgulha de conhecer os seus alunos pelo nome e de os cumprimentar sempre que se cruzam nos corredores.