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Reconversão do antigo mercado de Abrantes avança em ambiente de acentuada divisão
Meia centena de pessoas manifestou-se contra a decisão do município de converter o mercado num multiusos

Reconversão do antigo mercado de Abrantes avança em ambiente de acentuada divisão

Populares e partidos da oposição manifestaram-se contra o projecto que descarta o regresso do mercado diário ao antigo edifício. Presidente do município reafirma que a cidade precisa é de um multiusos capaz de receber grandes eventos.

A reconversão do antigo mercado municipal de Abrantes num espaço multiusos não é um tema consensual entre a população da cidade e as diferentes forças políticas. Se o Partido Socialista, que governa a Câmara de Abrantes, está convicto que o projecto a executar nesse imóvel devoluto vai dar à cidade uma nova dinâmica, permitindo a recepção de eventos de grande dimensão, já a oposição à esquerda e à direita torce o nariz, defendendo o regresso do mercado diário às origens.

Foi para vincar esta última posição que o grupo informal de cidadãos os “Amigos do Mercado de Abrantes” organizou, a 1 de Julho, um protesto que reuniu cerca de duas dezenas de pessoas e teve espaço para debate. Em causa, referiu um dos promotores da iniciativa, José Nascimento, está “o destino do antigo mercado e o futuro do actual, envolvendo dois edifícios: um de onde o mercado nunca devia ter saído; e outro para onde o mercado nunca devia ter ido”.

As críticas ao estado de abandono do edifício foram muitas, mas também não faltaram palavras azedas para classificar o novo mercado. “Não havia necessidade de se ter construído um mercado completamente descaracterizado da arquitectura abrantina. É um atentado à nossa identidade cultural”, disse a O MIRANTE a manifestante Maria Albuquerque.

O projecto para a reconversão do mercado, fechado pela ASAE há uma década por falta de condições de higiene, é da autoria dos arquitectos José Maria Cumbre e Nuno Sousa Caetano e foi escolhido entre 52 propostas apresentadas em concurso internacional. Mantém a preservação das duas fachadas principais, mas deixa definitivamente de fora o regresso do mercado diário, que funciona desde 2017 num outro espaço construído no centro histórico por mais de um milhão de euros. Os valores ainda não estão fechados, mas a reconversão vai custar cerca de 2,7 milhões de euros.

A intenção da manifestação, explicou José Rafael Nascimento, era partilhar ideias e posições e que todas as forças políticas com representação em Abrantes assumissem um compromisso político relativamente ao futuro do edifício. À chamada faltaram o PS e a CDU tendo estado presentes representantes do PSD, Bloco de Esquerda e movimento independente ALTERNATIVAcom.

Armindo Silveira, vereador do Bloco de Esquerda, que tem sido uma das vozes críticas da decisão do executivo liderado por Manuel Valamatos, voltou a defender o regresso do mercado ao edifício datado de 1933 e reiterou a necessidade de se proceder à revisão do Plano de Urbanização de Abrantes para retirar a norma que estipula a demolição do edifício e iniciar o processo de classificação de imóvel como de interesse municipal.

Classificando a posição do executivo socialista de “autocrática, obsessiva e obstinada”, o candidato a presidente do município pelo ALTERNATIVAcom, Vasco Damas criticou a falta de um debate prévio com a população e defendeu que nenhuma parede deve ser demolida.

CDU fala em aproveitamento político e PS considera protesto desajustado

A CDU também defende que o antigo mercado deve ser reabilitado e devolvido aos comerciantes, agricultores e pescadores, mas declinou o convite dos “Amigos do Mercado de Abrantes” por o país estar “praticamente em pré-campanha eleitoral” e por “parecer estar a haver aproveitamento político da situação”.

O PS foi mais longe e classificou a acção como sendo “completamente desajustada, tendo em conta o processo que se encontra a decorrer” na câmara municipal e uma vez que cada partido criará os seus “manifestos eleitorais e fará a sua campanha eleitoral dentro dos moldes que entender conveniente”. O PS sublinhou ainda que a sua posição é a mesma que a da maioria do executivo camarário e que “Abrantes possui um mercado diário com todas as condições exigidas por lei”.

O que lhe falta, tem admitido o presidente do município, é dinâmica e mais vendedores e pessoas a comprar. Por isso, adiantou Manuel Valamatos na última reunião do executivo, nas próximas semanas vai ser apresentado um programa para a nova dinâmica do mercado, em parceria com a TAGUS.

PSD diverge da posição do seu vereador

A grande surpresa do debate que aconteceu junto ao degradado imóvel veio do social-democrata e candidato à Câmara de Abrantes, Vítor Moura. Assumindo uma posição contrária à do actual vereador do PSD no executivo, Rui Santos, também defendeu o retorno dos comerciantes ao edifício.“É vergonhoso que a câmara tenha assistido ao encerramento do mercado sem o requalificar em tempo útil e fosse investir 1,5 milhões de euros num edifício que, para mercado, está muito mal”, afirmou a O MIRANTE.

Rui Santos tinha sido mais brando na última reunião do executivo, aquando da votação da homologação da escolha do projecto vencedor. “Este projecto é aquele que nos enche os olhos”, disse, ressalvando que o PSD “sempre foi contra a construção do novo mercado” mas que “não é agora que se vai meter uma bomba no actual mercado”.

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