O Colégio La Salle
Com o 25 de Abril o Colégio La Salle deu lugar à escola pública. E, quarenta anos depois, toda a gente sonha com uma escola pública à imagem do antigo Colégio. E, para lá chegar, ministros e secretários de Estado alteram e legislam todos os dias enquanto as escolas se entretêm a fazer e a desfazer, ao mesmo ritmo, os seus extensos regulamentos internos.
Ao olhar a esta distância para a obra do Colégio La Salle de Abrantes na sua curta existência (1959-75), não posso deixar de reconhecer os seus méritos, tanto mais que aquele Colégio representa hoje o modelo utópico da escola moderna: uma escola a tempo inteiro, empenhada na formação integral do aluno.
O Colégio La Salle, recordo, tinha dois campos de futebol, vários campos de basquetebol, rinque de patinagem, piscina de 25 metros de competição, ginásio, cine-teatro, salas de estudo, um laboratório moderníssimo, capela e igreja. Estes equipamentos permitiam aos seus alunos desenvolver as suas capacidades artísticas (teatro, tuna, poesia, conjunto musical, etc.) e participar em provas distritais, nacionais e regionais em quase todas as modalidades: basquetebol, futebol, voleibol, ténis de mesa, tiro ao alvo, natação, judo, hóquei em patins, etc. Sem esquecer os grupos de solidariedade social e as viagens de estudo ao estrangeiro.
Além disso, os seus alunos obtinham sistematicamente as melhores notas do distrito de Santarém nos exames dos antigos 2º, 5º e 7º anos dos liceus, sendo esta, aliás, a sua imagem de marca.
Com o 25 de Abril, o Colégio deu lugar à escola pública. E, quarenta anos depois, toda a gente sonha com uma escola pública à imagem do antigo Colégio La Salle. E, para lá chegar, ministros e secretários de Estado alteram e legislam todos os dias, enquanto as escolas se entretêm a fazer e a desfazer, ao mesmo ritmo, os seus extensos regulamentos internos.
Querem saber quantos artigos tinha o regulamento interno do Colégio La Salle? Tinha apenas dez que passo a transcrever: 1º) O espírito lassalista deverá estar presente em tudo o que fazemos. Nunca nos devemos esquecer da nossa identidade própria. 2º) Em tudo o que fazemos, devemos cultivar a justiça, a oração e o serviço aos outros. 3º) Todas as pessoas da nossa comunidade educativa, devem respeitar-se mutuamente tornando a nossa escola um lugar ideal para trabalhar. 4º) Todos devem ajudar a criar um ambiente de inter-ajuda, propiciando uma boa aprendizagem. 5º) Todos têm direito à diferença. Os dons especiais de cada um devem ser encorajados e valorizados para o bem de todos. Devemos trabalhar e partilhar juntos. 6º) Todos têm direito à segurança. Ninguém deve ter medo de ser ameaçado ou importunado. Ninguém deve ter receio de correr riscos, de ser diferente ou de ser sincero. 7º) O auto e hetero encorajamento para a rentabilização das nossas capacidades são essenciais. A existência de uma variedade de temas e de actividades é necessária à realização pessoal. 8º) A atenção vigilante é importante para que nos momentos de crise nos sintamos confiantes a partilhar as angústias ou problemas com uma pessoa de confiança. 9º) Todos devemos saber perdoar e esquecer. Todos merecemos uma segunda oportunidade. 10º) Na nossa escola, as pessoas deverão aprender tanto com os seus êxitos como com os fracassos. Isto permite o crescimento pessoal.
Públio Cornélio Tácito, político, orador e historiador romano, bem sabia do que falava quando proclamou: “quanto mais corrupta é a República, maior é número das leis”. Consequentemente, se querem uma escola empenhada na formação integral do aluno, comecem por aqui. Rasguem os regulamentos internos e os estatutos do aluno... E resumam tudo a dez artigos. Segundo me dizem, Deus é perfeito (quem sou eu para duvidar disso, apesar de não ser crente?). Ora, se a Lei de Deus tem apenas dez artigos, por alguma razão deve ser.
Santana-Maia Leonardo.