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Coopribatejo: a cooperativa de consumidores que enfrentou hipermercados e foi tramada pela banca
José Luís Cabrita era o presidente da Fenacoop (Federação Nacional das Cooperativas de Consumidores) quando esta fechou portas em 2017

Coopribatejo: a cooperativa de consumidores que enfrentou hipermercados e foi tramada pela banca

Havia muitos planos para o crescimento da Coopribatejo, que estava a apostar na imagem e na modernização, enfrentando os hipermercados.

Mas a crise, o crédito e sobretudo a Caixa Geral de Depósitos a cortar as pernas às aspirações desta, e de outras cooperativas, precipitaram o encerramento de lojas e supermercados há oito ou dez anos até ao desaparecimento total com a insolvência em 2015.

Em 2008 os supermercados da Coopribatejo, a maior cooperativa de consumo da região, estava a investir na modernização das lojas e no crescimento de uma cadeia com uma lógica mais social que comercial. Para acompanhar a evolução e ter uma imagem moderna, a Coopribatejo, tal como tantas outras no país, recorreram ao crédito bancário, que teria sido um bom negócio não fosse ter rebentado a bolha imobiliária nos Estados Unidos da América e falido o banco Lehman Brothers, que precipitou uma crise mundial. Algumas cooperativas como a Coopribatejo, que não tinha outro património além das lojas e do recheio, começaram a ser pressionadas e foram asfixiadas pela banca, sobretudo a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o banco do Estado que não deu espaço para a cooperativa tentar respirar.

Os hipermercados dos grandes grupos de distribuição, que iam estendendo os tentáculos às pequenas localidades, não estavam a preocupar os dirigentes da entidade que tinha resultado da fusão das cooperativas de Benavente, Aveiras de Cima, Santarém e Almeirim. Podia ter sido um erro sustentar a modernização da cooperativa num crédito do tipo de saldo a descoberto, em que a cooperativa tinha um plafond para ir gastando e ia amortizando a dívida do que levantava conforme podia. José Luís Cabrita, há muitos anos ligado ao cooperativismo, era presidente da assembleia geral da Confecoop - Confederação Cooperativa Portuguesa e foi presidente e secretário-geral da Fenacoop, Federação Nacional das Cooperativas de Consumidores, lembra-se que a CGD fechou a torneira, começou a exigir o pagamento da totalidade dos montantes que tinham sido retirados do plafond, mas o pior ainda estava para vir.

A banca começou a reter o dinheiro que entrava nas contas da cooperativa. Sem acesso às contas cria-se uma bola de neve que depressa engoliu a Coopribatejo sem capacidade de pagar a fornecedores e a funcionários. A machadada final foi quando a caixa recusou renegociar a dívida. José Luís Cabrita, que foi eleito na Assembleia Municipal de Santarém, não tem dúvidas que a CGD foi o carrasco das cooperativas, até porque, como banco do Estado, devia ter tido mais abertura. Lembra que havia uma cooperativa que tinha 150 mil euros de dívida e tinha dado como garantia ao banco um imóvel que valia um milhão de euros e não conseguiu salvar-se. Só quem tinha outros rendimentos e não precisou de recorrer ao crédito conseguiu safar-se, como a Scafa no Entroncamento.

Os espanhóis e a ligação aos seguros

Quando a Coopribatejo e outras, que entretanto tinham adoptado a marca comum de Coop, começaram a definhar, havia projectos para solidificar a presença das cooperativas no país combatendo os hipermercados nos preços e sobretudo com a aposta de produtos locais e regionais. Tinham entrado numa cooperativa de seguros que envolvia entidades holandesas, belgas e francesas. Havia a perspectiva, que se desfez, de associação a uma cooperativa espanhola para ganhar dimensão. O modelo tem “enormes potencialidades”, garante José Luís Cabrita, realçando que no país vizinho a terceira maior cadeia de distribuição é uma cooperativa. A Coviran, uma cooperativa de supermercados espanhola, tem vindo a conquistar posições em Portugal estando a abastecer cada vez mais mercearias e a crescer a influência no distrito de Santarém.

Hoje é praticamente impossível recuperar as cooperativas e as lojas que existiam. O renascimento da força das cooperativas de consumidores tem de começar do zero e só é possível em aliança com os espanhóis. Das cerca de duas centenas que existiam em Portugal nacional, estarão em actividade umas três dezenas. Eram um grande veículo de escoamento da produção nacional, vinca José Luís Cabrita. A Coopribatejo tinha 60 funcionários e lojas em Santarém, Alcanena, Aveiras de Cima, Cartaxo, Almeirim, Benavente e Alcanhões, que foram fechando anos antes de se ter pedido a insolvência. Há dois meses foi vendida a loja de Santarém, em S. Domingos. A de Alcanena está para vender.

As insolvências da quarta maior cadeia e da central de abastecimento

A Pluricoop, de Setúbal, com mais de 300 trabalhadores, era a quarta maior cadeia de distribuição no país. A Cooplisboa - União de Cooperativas de Consumo, com ligações a uma central de compras europeia, abastecia mais de uma centena de lojas e cooperativas agrícolas, instituições de solidariedade, Cerci’s Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidades e três dezenas de Misericórdias e associações, entrou em insolvência em 2016, um ano depois da Coopribatejo. Coube a José Luís Cabrita, ao fim de meio século de trabalho, fechar a porta da Fenacoop, que entrou em insolvência em 2017.

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