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Polícia que agrediu ao murro mulher e filho bebé apanha pena suspensa
Salomé Santiago com os filhos gémeos fruto da relação que teve com o agressor (foto DR)

Polícia que agrediu ao murro mulher e filho bebé apanha pena suspensa

Salomé Santiago, o filho bebé e os seus pais foram agredidos com violência pelo ex-companheiro em Samora Correia. O tribunal condenou o agente da PSP a quatro anos de prisão, com pena suspensa. O MIRANTE falou com as vitimas que esperavam pena mais pesada.

Passaram quase dois anos desde o dia em que Salomé Santiago, os seus pais e um dos seus filhos de nove meses foram violentamente agredidos, numa pastelaria em Samora Correia, pelo ex-companheiro e pai dos bebés, um agente da PSP, na altura residente na Póvoa de Santa Iria. O caso conheceu agora o seu desfecho em tribunal com a condenação do arguido a quatro anos e dois meses de prisão, com pena suspensa por igual período.

O agente da polícia, de 35 anos, ficou ainda proibido de se aproximar de Salomé Santiago e dos dois filhos gémeos, privado de exercer o exercício do poder paternal e sujeito ao pagamento de uma indemnização. Estava acusado pelo Ministério Público (MP) de um crime de violência doméstica contra a ex-companheira, dois crimes de violência doméstica contra os filhos e de ofensa à integridade física simples aos pais de Salomé Santiago, avós maternos das crianças.

Para a família, cujo “foco sempre foi assegurar a segurança das crianças”, a pena é insuficiente e “não faz esquecer” o episódio, mas segundo João Correia, avô materno dos meninos, não deverão recorrer da decisão. A defesa do condenado também poderá fazê-lo uma vez que a decisão do tribunal de júri não transitou ainda em julgado.

Só uma pena de prisão efectiva garantiria, na opinião da família, a segurança plena de que o ex-companheiro não voltaria, durante esse tempo, a aproximar-se das crianças. Mesmo com a proibição de aproximação e contacto, persiste o medo de sair à rua e de frequentar espaços públicos.

Vítimas não esquecem dia da agressão

A 31 de Agosto de 2019, pelas 10h00, Salomé Santiago encontrou-se com o ex-companheiro na pastelaria O Forno, em Samora Correia, uma vez que este estava obrigado a visitar os bebés em local público. A visita decorria com normalidade até o agente da PSP receber um telefonema que o deixou alterado. Ameaçando fugir com os meninos agrediu todos os que se puseram no seu caminho.

As imagens de videovigilância do estabelecimento, que fizeram prova no processo judicial e às quais O MIRANTE teve acesso, são chocantes. Salomé Correia é a primeira a ser agredida com socos e empurrões pelo ex-companheiro enquanto este segurava um dos filhos ao colo. A avó materna, que se encontrava no estabelecimento, tentou, em desespero, socorrer a filha, acabando por levar um murro tão forte na cara que a fez cair ao chão. O mesmo sucedeu com Salomé segundos depois.

Já em plena avenida O Século, em frente à pastelaria e ainda com um dos bebés ao colo que lhe servia de escudo para que ninguém o agredisse, o agressor bateu em João Correia. Desferiu-lhe murros e pontapés na cabeça e pelo resto do corpo quando já estava estendido no chão.

O bebé que esteve sempre ao colo do pai, em choro e aflição, acabou por sofrer ferimentos ligeiros na cabeça e pescoço. Para o MP, o arguido, agora condenado, agiu “com intenção de maltratar física e psicologicamente os seus filhos e de lhes infligir maus tratos com grande crueldade e desprezo”.

Agressões começaram durante a gravidez

Salomé Correia contou em tribunal que as agressões psicológicas e ameaças começaram durante a gravidez. “Quando nascerem vais ficar sem eles” e “quando acordares no hospital já não os vais ter”, eram algumas das frases que a vítima se recorda de ouvir.

Por duas vezes Salomé saiu de casa com os bebés tendo-se refugiado em casa dos seus pais, em Samora Correia. Da primeira acabou por regressar com a promessa que tudo ia correr bem. Em Março de 2019, durante uma visita às crianças, o agressor agarrou, segundo consta da acusação, Salomé pelo pescoço ordenando-lhe que largasse o filho que levava ao colo. Depois, esbofeteou-a na face. Em Junho, numa outra visita que decorreu no Largo da Igreja, em Samora Correia, o progenitor tentou fugir com os filhos.

Agressor estava de baixa por problemas psicológicos

Aquando das agressões o agente encontrava-se de baixa médica por problemas do foro psicológico. Já nessa altura era obrigado pelo tribunal a contactar com os filhos exclusivamente em locais públicos e na presença da mulher devido a queixas de violência doméstica de parte a parte. Até ao julgamento permaneceu em liberdade.

Acompanhou filho que agrediu ao hospital

Quando a GNR chegou ao local o agressor identificou-se como sendo polícia e pai dos meninos. Acompanhou o bebé que o próprio maltratou na viagem de ambulância ao hospital.

Teste acusa alterações psicopatológicas

O exame médico-legal, realizado por um especialista solicitado pela Comarca de Santarém - Secção de Família e Menores, aferiu que o condenado apresentava “alterações psicopatológicas ao nível da psicopatia relacionadas com dificuldades em lidar com as normas e padrões sociais”. No mesmo teste de personalidade, a que O MIRANTE teve acesso, foram ainda observadas alterações ao nível da mentira.

CPCJ permitiu visitas

Depois da agressão a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) determinou que o pai dos gémeos poderia visitá-los desde que os encontros ocorressem na creche e sob vigilância de uma auxiliar. A decisão deixou incrédula a família materna dos bebés.

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