Viajar é um dos actos humanos mais completos e desafiantes. Exige coragem, curiosidade e uma infinita liberdade. Mais ainda naqueles casos de insólitas e desassombradas jornadas onde tudo é inaudito e nos exige a nudez absoluta dos sentidos.

É assim que se imagina a entrada no Iron Train, um dos comboios mais compridos do mundo (2,5 km de carruagens), que ao longo de 24 horas atravessa o deserto do Sahara, na Mauritânia, perfazendo 652 km de areias e céu.

Uma viagem que nos é apresentada pelo fotógrafo Daniel Rodrigues na exposição de fotografia de viagem “Comboio de Ferro” patente no Museu Nacional Ferroviário no Entroncamento, no âmbito do Railfest.

Trata-se de um conjunto de fotografias que narra a vida ao seu nível mais cru: o embarque dos nómadas com os seus rebanhos de animais esquálidos; os viajantes em carruagens a céu aberto cobertos com mantas e panos procurando proteger-se das nuvens de poeira e das enormes amplitudes térmicas; a poeira dos minerais de ferro, carregados nas minas de Zouérat, que cobre tudo com um película de mistério; viajantes sentados em cima dos montículos negros; homens como mercadoria a partilhar o chá e o pão sob um sol tórrido – gestos de profunda resiliência e autenticidade.

Em papel mate a preto e branco estamos perante uma fascinante e severa viagem, que quase nos seduz a comprarmos o bilhete na estação de Nouadhibouh a caminho do imponente carril.

Enquanto não é possível poderemos fruir a experiência no Museu Nacional Ferroviário do Entroncamento até 15 de Agosto, que viajará, de seguida, também ela para outros lugares: Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga (22 de Agosto a 30 de Setembro) e Casa de Artes e Cultura do Tejo (15 de Outubro a 30 de Novembro).