uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Perda de população é preocupante e autarcas queixam-se da inacção de sucessivos governos
Francisco Oliveira, Manuel Valamatos, Ricardo Gonçalves e Miguel Borges

Perda de população é preocupante e autarcas queixam-se da inacção de sucessivos governos

Os municípios só por si não conseguem implementar medidas que garantam a inversão da sangria demográfica que se tem verificado nas últimas décadas no interior do país. Autarcas ribatejanos gostavam de ver o país mais desperto para uma realidade que se está a tornar dramática e geradora de graves assimetrias.

Abrantes foi o quarto concelho do país que mais população perdeu na última década, quase cinco mil habitantes, e não é de estranhar que o presidente do município, Manuel Valamatos, admita uma “grande preocupação” pelos resultados preliminares dos Censos 2021, que no entanto não o surpreendem.

O autarca declara a O MIRANTE que este não é um assunto novo lembrando que o interior do país tem vindo a perder população para o litoral nas últimas décadas sem que se consiga inverter o cenário. “Fala-se muito em discriminação positiva e acessibilidades para o interior mas, de facto, as medidas têm sido muito pouco robustas e incapazes de contrariar esta tendência”, afirma, acrescentando que as autarquias têm estado sozinhas e os sucessivos governos não acompanham essa preocupação com medidas eficazes.

“Se não fosse a autarquia a construir zonas industriais, a criar pólos de desenvolvimento tecnológico, a captar empresas e a investir em incubadoras então que resultados teríamos... Podemos falar de outras medidas que tomamos, mas pouco importa ter um parque habitacional, um parque da saúde ou escolar excelentes se não tivermos desenvolvimento económico e emprego para oferecer às pessoas”, vinca o autarca socialista de Abrantes, sublinhando que a perda de população não é um problema só de Abrantes, mas do Médio Tejo e de toda a região. “Temos que perceber de uma vez por todas que não podemos andar isoladamente a tomar medidas e que precisamos, todos juntos, de desenvolver um plano para a região”, afirma.

“Os sucessivos governos têm aprofundado as diferenças”

O presidente da Câmara de Santarém também não ficou surpreendido com os dados disponíveis dos Censos mas sublinha que se está a verificar uma inflexão na perda de população no seu concelho: “Em 2019 tínhamos 57.421 habitantes e, hoje, com os Censos de 2021, temos 58.770”. Ricardo Gonçalves refere ainda que o número de licenças de construção está a subir de forma sustentada, tal como a instalação de empresas.

Isso, no entanto, não ilude uma questão estrutural. “Infelizmente há décadas que se está a assistir à litoralização do nosso país e com estes Censos percebemos que 50% da população portuguesa reside somente em 31 concelhos”, diz. E a razão, para o autarca do PSD, é simples: “Os sucessivos governos têm infelizmente aprofundado as diferenças. Muitos analistas têm alertado para este problema demográfico, que trará dificuldades sociais e económicas a Portugal se nada for feito. Somos o quinto país mais envelhecido do mundo, o que só por si já diz muito da nossa realidade demográfica. Os sucessivos Governos sabem deste problema, mas continuam a colocar sempre mais dinheiro e investimento nas zonas mais urbanas e densamente povoadas”.

A situação tem também implicações noutros campos. Ricardo Gonçalves defende que também deve ser repensado o facto de o número de deputados estar indexado à população. Porque, na sua opinião, o actual modelo “é pernicioso e beneficia as grandes áreas metropolitanas”.

O autarca escalabitano diz que o município tem trabalhado para atrair mais população e investimento, com políticas de redução de impostos municipais e de apoio aos investidores, articuladas com boas respostas nas áreas da educação, da saúde, das acessibilidades. Por isso acredita que Santarém será dos concelhos que mais vai crescer nas duas próximas décadas.

“Não há uma estratégia para inverter a situação”

Francisco Oliveira, líder do município de Coruche, lembra que a perda de população e a concentração demográfica junto das áreas metropolitanas é transversal a toda a Europa. O autarca socialista diz que sem infra-estruturas, como transportes públicos rodoviários e ferroviários de qualidade, o interior não se torna competitivo e é difícil atrair ou fixar população para territórios periféricos, mesmo que não sejam do interior profundo, como é o caso de Coruche.

E de pouco vale haver equipamentos de excelência nas áreas do desporto, educação ou outras, porque aos poucos as salas vão sobrando por falta de crianças, tal como vai faltando mão-de-obra para o tecido empresarial, sem que os municípios possam fazer grande coisa. Francisco Oliveira considera que os sucessivos governos não têm conseguido lidar eficazmente com o problema, apesar de terem sido tomadas algumas medidas avulsas e até criadas pastas governativas específicas.

“Não há uma estratégia para inverter esta situação. Tem que haver uma estratégia para o desenvolvimento sustentado e equilibrado do país que acabe com esta quase guerra entre o mundo urbano e o mundo rural. Tem que ser feita alguma coisa para inverter esta situação, que é uma responsabilidade de todos”, conclui Francisco Oliveira.

Municípios têm pouca margem de manobra

O presidente da Câmara do Sardoal, Miguel Borges, sublinhou na última reunião do executivo que a redução da população é um problema nacional preocupante e que os municípios, só por si, têm pouca margem de manobra no que respeita à tomada de medidas para atrair população.

O autarca referiu, no entanto, que há indicadores que mostram uma ligeira inversão, de forma lenta, da tendência de perda de população no Sardoal desde 2017/2018. “Estamos num caminho lento mas estamos no bom caminho”, disse Miguel Borges dando o exemplo do aumento do número de crianças matriculadas no jardim-de-infância do concelho. Acrescentou que o facto da zona industrial estar esgotada é outro sinal da tendência de crescimento populacional do concelho que, actualmente, é o menos populoso do distrito de Santarém, com cerca de 3.500 habitantes.

Perda de população é preocupante e autarcas queixam-se da inacção de sucessivos governos

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido