Líder da JS de Almeirim escapa a julgamento por burla a idosas com manobra jurídica
Prestes a começar o julgamento de Joaquim Rafael Gomes, que usou um esquema para passar as casas de duas idosas para os nomes do tio, o advogado Joaquim Pisco e da mulher deste, também acusados de burla, o processo caiu. O advogado conseguiu arranjar um acordo para que os três evitassem uma possível condenação.
O líder da JS de Almeirim, Joaquim Rafael Gomes, e o tio dele, o advogado Joaquim Pisco, tiraram um coelho da cartola antes do início do julgamento em que eram acusados de burlarem duas idosas, e conseguiram fugir ao julgamento. A pouco tempo da primeira audiência no Tribunal de Santarém, o advogado apresentou um acordo em que se comprometia a devolver a casa e a pagar uma indemnização a uma das idosas, uma vez que a outra já tinha sido ressarcida. Como o crime é semi-público, dependendo de queixa, o acordo fez cair o processo e os arguidos evitam assim uma possível condenação.
Joaquim Rafael Gomes e Joaquim Pisco já tinham estado perante o juiz numa audiência de tentativa de conciliação com a queixosa, mas esta tinha dito na altura que queria que o advogado fosse para a prisão. Como a comunicação por vídeo-conferência não foi completamente clara para deixar o juiz sem dúvidas, este deu um prazo para que a advogada da idosa juntasse ao processo a vontade expressa de que pretendia prosseguir com o caso. O julgamento foi marcado, mas entretanto a vítima mudou de ideias atendendo à idade e ao tempo, com os recursos, que o processo podia demorar.
No processo era também arguida a mulher de Joaquim Pisco. Os três estavam acusados pelo Ministério Público de terem elaborado um esquema para se apropriarem das casas das duas idosas, irmãs, debilitadas e acamadas. A investigação tinha concluído que o advogado aproveitou a proximidade com as idosas, dizendo-lhes que ia tratar de as colocar num lar, fazendo-as assinar procurações que elas acreditavam serem documentos para entrarem numa instituição, quando na verdade eram procurações que davam poderes ao líder da JS para vender os bens. Pretendiam assim apropriarem-se de dois apartamentos na cidade de Almeirim.
A CONIVÊNCIA DA JS E A ÉTICA POLÍTICA
Joaquim Rafael Gomes foi então ao Registo Predial de Alpiarça fazer escrituras da venda dos imóveis, por valores fictícios, ao advogado e à mulher deste. O socialista declarou ter recebido o pagamento de 20 mil e trinta mil euros pelos imóveis, para entregar às idosas, o que era mentira. Quando o caso foi divulgado por O MIRANTE, o presidente da distrital da Juventude Socialista, Francisco Dinis, desculpou o colega, dizendo que se tratava de uma questão do foro privado. E apesar de Joaquim Rafael Gomes ser figura pública, lamentava que ele tenha visto a sua vida privada exposta.
Sérgio Guerreiro, autor do blogue “Melhor Política” e cronista em publicações nacionais, licenciado em Direito, disse num artigo de opinião publicado por O MIRANTE, que há uma linha muito ténue entre Joaquim Rafael Gomes - político e Joaquim Rafael Gomes - cidadão no anonimato, que designou de ética política “que hoje é nada mais que uma utopia”. O autor referia ainda que qualquer líder político quando “é indiciado em processo jurídico/criminal deve sempre ter a humildade suficiente de pôr o seu lugar à disposição”, coisa que o líder da JS não fez com a conivência das estruturas socialistas. “A política deve ser levada a sério e ser demonstrativa de carácter político, de humildade, bem como de muitas outras que todos sabemos não são valências que se adquirem no Partido Socialista”, acrescentou Sérgio Guerreiro.