Baixo caudal do Tejo afecta culturas entre Abrantes e Constância
Barragem de Alcântara (Espanha) está com 44% da sua capacidade e não tem libertado água. Dirigentes associativos pedem medidas urgentes ao Governo e criticam falta de diálogo e de interesse pelos problemas que afectam as populações e os seus interesses económicos.
O presidente da Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação diz que os fracos caudais do rio Tejo, controlados na barragem de Alcântara, em Espanha, continuam a afectar culturas e a provocar elevadas perdas. No troço entre Abrantes e Constância os agricultores têm tido graves problemas para regar o milho e têm tido quebras de produção muito elevadas, esclarece o presidente da associação, Luís Damas, salientando que a barragem está com 44% da sua capacidade e não tem libertado água.
Luís Damas explica que a falta de água está a afectar cerca de 1.200 hectares, com perdas da ordem dos 30 a 40%, sobretudo na produção de milho, embora culturas de trigo e girassol e zonas de olival, amendoal e macieira também tenham sido atingidas. “Um hectare que tenha capacidade para produzir 15 ou 16 toneladas está a produzir apenas 10”, quantificou Luís Damas, acrescentando que a falta de água traz outros problemas graves, como o facto de as bombas de água ficarem danificadas por puxarem areia e detritos e terem de ser substituídas.
O líder da associação acrescenta que o Tejo “está um regato, uma autêntica ribeira”, e sublinha que o vento e o calor dos últimos dias agravaram a situação, “porque os terrenos têm secado muito”. Luís Damas reafirmou que o problema prende-se com a irregularidade do volume de água libertado a partir da barragem de Alcântara, explorada pela espanhola Iberdrola, que, na sua opinião, “gere os caudais economicamente e não olha para a parte ecológica e tudo o que envolve o rio, nomeadamente a necessidade de ter um caudal com estabilidade, não só por causa da rega, mas também por toda a fauna e flora envolvente”.
“Há um protocolo que define um caudal semanal, mas eles retêm a água e num dia ou dois libertam tudo. Queríamos um caudal mínimo diário, mas a solução de fundo era fazer uma barragem no rio Ocreza (afluente do Tejo), que seria um reservatório para não estarmos dependentes de Espanha”, reclama Luís Damas, que já comunicou a situação à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e à ministra da Agricultura. Recebeu uma resposta do gabinete de Maria do Céu Antunes dizendo que o Governo está atento e a tentar negociar. “Mas, até agora, nada de concreto”, salienta.