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Efeitos nocivos na saúde obrigam a uma terceira alteração ao projecto na central fotovoltaica da Torre Bela
População de Casais das Boiças e Câmara de Azambuja temem efeitos para a saúde com a instalação de linhas de muito alta tensão junto às habitações

Efeitos nocivos na saúde obrigam a uma terceira alteração ao projecto na central fotovoltaica da Torre Bela

Moradores de Casais das Boiças temem perigo da radiação devido à proximidade com habitações. A Câmara de Azambuja coloca-se ao lado da população e exige a alteração do traçado que já está a ser trabalhada pelos promotores do projecto e pela APA.

O traçado das linhas de muito alta tensão do projecto da central fotovoltaica prevista para a Torre Bela, em Alcoentre, concelho de Azambuja, vai ser alterado pela terceira vez. Em causa estão reclamações da população de Casais das Boiças e da câmara municipal, que temem efeitos para a saúde, agravados pelo facto de a localidade já ter muito próximo das habitações outras duas linhas eléctricas do mesmo género.

Já tinham sido elaborados dois traçados distintos, ambos a passar próximos de habitações e os moradores não se conformam temendo as radiações das linhas. O medo das cerca de duas centenas de habitantes da aldeia é confirmado a O MIRANTE por António Loureiro. “Querem encurralar-nos num triângulo de linhas de muito alta tensão”, diz o morador, sublinhando que a aldeia “já está suficientemente castigada” e que as pessoas temem morrer de cancro ou electrocutadas.

O projecto da mega central fotovoltaica da Torre Bela, que já deu muito que falar por causa da matança de cinco centenas de animais, prevê a edificação de dois traçados, com cerca de 20 quilómetros, para transportar a energia produzida até à Subestação Eléctrica de Rio Maior.

A preocupação com a segurança e saúde pública da população da aldeia tem sido assunto nas reuniões de câmara de Azambuja. O vice-presidente do município e vereador do Ambiente, Silvino Lúcio, já deixou em aberto a possibilidade de ser exigido um “seguro para protecção das pessoas” que residem próximo de linhas de muito alta tensão.

O autarca socialista garante que o projecto está a ser revisto de modo a que o traçado passe o mais afastado possível de habitações. “Estamos neste momento a ver com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) a possibilidade de criar um novo corredor”, afirmou, explicando que nem a primeira versão nem a segunda, já apresentadas pelo promotor, agradaram à população da freguesia de Alcoentre.

A população já apresentou ao município uma alternativa, que passa por um olival intensivo que existe a leste, longe de casas”, explica António Loureiro, ex-autarca e presidente dos Bombeiros de Alcoentre. Esta proposta, garante, tem o apoio dos presidentes da Câmara de Azambuja e Junta de Alcoentre, Luís de Sousa e Francisco Morgado, respectivamente.

O que não se compreende, reforça, é como é que uma entidade como a APA deu parecer favorável ao projecto inicial. “Mesmo que seja de interesse público”, António Loureiro realça que este tipo de equipamento deve obedecer a regras que acautelem os aspectos ambientais e de saúde.

População queixa-se de décadas com casos de cancro e zumbido eléctrico

A primeira linha de muito alta tensão a passar em Casais das Boiças foi instalada pouco antes da revolução de 25 de Abril de 1974, a escassos metros de habitações. Na altura, a José Falcão, hoje com 71 anos, deram cerca de 600 euros em troca da instalação de um poste de muito alta tensão no terreno onde tem casa. “Nem me perguntaram se queria ou deixava. Não gosto disto aqui, mas não tenho outro remédio”, lamenta a O MIRANTE. Os promotores do projecto da Quinta da Torre Bela também já abordaram alguns moradores oferecendo uma quantia em troca da instalação dos postes.

Os estudos internacionais sobre os efeitos das linhas de alta e muito alta tensão não são unânimes nas conclusões, mas nesta aldeia os moradores vivem assustados com as mortes por cancro que ascendem às duas dezenas. António Loureiro lembra o caso de uma moradora que viveu décadas com um poste de muito alta tensão encostado às paredes de casa e faleceu de cancro no abdómen. E conta que em períodos de humidade se conseguem ver chamas e que há um ruído contínuo.

Zélia Nobre não esquece a noite de tempestade ocorrida há cerca de uma década que derrubou sete postes. “Vivemos com medo que volte a acontecer algo assim”, diz. Depois acrescenta: “Não sabemos o mal que estas radiações nos estão a fazer. Estes já ninguém os tira, mas não ponham cá mais”.

Os moradores, caso não seja encontrada uma alternativa, estão dispostos a meterem uma providência cautelar em tribunal para travar a construção das linhas.

Efeitos nocivos na saúde obrigam a uma terceira alteração ao projecto na central fotovoltaica da Torre Bela

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