A praia fluvial de Alverangel, no concelho de Tomar, tem servido de depósito de lixo para algumas das centenas de pessoas que frequentam diariamente a zona balnear situada na albufeira de Castelo de Bode. Um grupo de seis voluntários deslocou-se ao local e perdeu algum do seu tempo livre a limpar a lixeira que os outros fazem, num espaço que é cada vez mais um atentado à saúde pública. Dois dias depois, o espaço voltou a ficar repleto de lixo, como contou um dos voluntários a O MIRANTE. “Não há palavras para a falta de vergonha e de civismo de algumas pessoas. Alguém tem de colocar mão nisto”, lamentou João Veras.

A praia de Alverangel, também conhecida como praia fluvial de Chãs da Conheira, na zona da aldeia do Casalinho, é há vários anos tema de polémica porque os caminhos que dão acesso à praia são privados, tendo a Junta de São Pedro de Tomar sido condenada pelo Tribunal a pagar uma indemnização de 200 mil euros à família proprietária.

Na última reunião de câmara de Tomar, na segunda-feira, 16 de Agosto, o vereador do PSD, Luís Ramos, alertou para o problema sublinhando a necessidade de alguma entidade actuar na recolha do lixo. “Sabemos que o caminho é privado e que não é competência directa do município fazer a recolha dos resíduos mas uma vez que o problema existe deveria intervir. Todos os anos a situação se repete”, acrescentou.

Anabela Freitas (PS), presidente da Câmara de Tomar, concorda com o autarca da oposição, mas ressalva que nada pode fazer uma vez que os terrenos são privados. “É uma situação triste e que dura há décadas, mas não há nada que o município possa fazer para a reverter. Ou os donos dos terrenos aceitam que as pessoas lá vão e assumem a necessidade e o pagamento da limpeza do que é seu, ou então têm que vedar o espaço e impedir que as pessoas lá vão”, diz.

O caminho da discórdia que condenou a junta em 200 mil euros

Em Setembro de 2019 O MIRANTE percorreu o caminho que dá acesso à praia fluvial de Alverangel, vulgo Caminho do Zorro. A placa perdida no meio das ervas não torna fácil de perceber que se está a entrar numa propriedade particular que pertence à Quinta do Zorro. O mau estado do pavimento impede que as famílias se aventurem com os veículos a descer, ainda assim há quem não tema pelas consequências.

A discórdia entre a família Duarte Ferreira e a Junta de Freguesia de São Pedro dura há mais de três dezenas de anos e começou quando a autarquia interpôs uma acção em tribunal contra a família, por impedirem o acesso das pessoas à praia fluvial. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria (TAFL) deu razão à família que, posteriormente, avançou com um processo contra a autarquia, que terminou em 2016, com o tribunal a condenar a junta a indemnizar os donos da Quinta do Zorro em 200 mil euros. No entanto, foram interpostos recursos que decorrem em tribunal.

A presidente da junta, Lurdes Ferromau, tem criticado a falta de actuação dos vários executivos municipais que passaram pela Câmara de Tomar e considera este um processo incompreensível. A autarca já tinha explicado a O MIRANTE que defende a expropriação do caminho, algo que só pode ser realizado pelo município. “No Plano Nacional de Ordenamento da Barragem de Castelo de Bode, que se sobrepõe ao Plano Director Municipal naquela área, sempre esteve descrito que existe a marcação de uma praia fluvial naquele local”, argumenta.