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Um homem do Tramagal que sabe explicar o que se passa no Afeganistão
Bruno Neto, natural do Tramagal, lidera um projecto humanitário no Afeganistão (foto DR)

Um homem do Tramagal que sabe explicar o que se passa no Afeganistão

Bruno Neto lidera um projecto humanitário no Afeganistão. De férias em Portugal, foi impedido de regressar mas garante que vai voltar para terminar o que começou. A O MIRANTE diz que não ficou surpreendido com a ocupação do país pelo movimento fundamentalista Talibã e confessa que gostava de voltar às origens, mas não para já.

Bruno Neto vive em Kandahar, no Afeganistão, desde Maio de 2020, onde coordena um projecto humanitário de uma Organização Não Governamental (ONG) italiana. Gere uma equipa com mais de quatro centenas de pessoas que trabalha na área da saúde, nomeadamente na coordenação de vários postos de saúde e clínicas móveis que dão apoio sanitário e psicológico.

Natural do Tramagal, concelho de Abrantes, onde ainda diz ter as suas raízes apesar de se considerar um cidadão do mundo há mais de duas décadas, afirma que não ficou surpreendido com a ocupação do país pelo movimento fundamentalista Talibã. A O MIRANTE refere que duas semanas antes de sair do país percebeu que o avanço dos talibãs era previsível uma vez que já controlavam mais de 80 por cento de todo o território. “Nos territórios que eles controlam têm uma máquina que sempre continuou a gerir vários sectores, como a saúde ou a educação. É como se fosse um Governo, mas que não está eleito”, revela. Na sua opinião há uma boa parte da população do Afeganistão que está contente com a ocupação dos talibãs, sobretudo as que vivem em zonas mais rurais, porque há duas décadas que vivem num sistema corrupto e que não consegue contrariar a pobreza extrema.

Bruno Neto acrescenta que a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que tem como aliados vários países da Europa e da América do Norte, tem cometido vários erros nos últimos 20 anos. “Não tenho dúvidas de que foram esses erros que abriram caminho para o regresso em força dos talibãs”, vinca.

“NUNCA TEMI PELA MINHA VIDA”

O voluntário, que já fez serviço em mais de 20 países, garante que apesar do clima de medo e incerteza que se vive no Afeganistão, nunca temeu pela vida. “Estive cerca de um mês com a cidade de Kandahar cercada, com trocas diárias de tiros e bombardeamentos constantes, sobretudo por parte do Governo e da NATO com um dos grupos talibã”, conta, acrescentando que a sua organização tem várias equipas de segurança no terreno para perceberem em que momentos se podem deslocar. “Tem que ser tudo estudado ao pormenor uma vez que não utilizamos armas nem carros blindados”, salienta.

Bruno Neto diz que viver num país onde há pobreza extrema mas com várias culturas, religiões e tão rico em história tem sido uma aprendizagem para a vida. O facto de trabalhar com pessoas de várias nacionalidades e de poder fazer a diferença e contribuir de forma activa para ajudar pessoas são factores determinantes para se sentir realizado.

Embora passe menos tempo no Tramagal do que gostava, não hesita em afirmar que volta sempre que pode por ser a terra que tem cravada no peito. “É a minha base, onde me sinto em paz e onde venho renovar as minhas forças”, confessa, afirmando, no entanto, que o regresso permanente está fora de questão porque ainda tem muitas culturas e ensinamentos para adquirir.

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