O bode dos mil cornos e a quarentona que deu de frosques sem pedir licença à aldeia
Luminescente Serafim das Neves
Ando baralhado de todo por causa dos cornos de bode assassino do Pego. Esse mesmo, o que matou uma senhora lá da terra. Nuns jornais o bode ostenta chifres pequenos, noutros aparece com uns médios e noutros ainda, ostenta uma cornadura de alto lá com ela. Tão grande, tão grande, que faria corar de vergonha qualquer rena do Pai Natal ou boi das chegas das terras do Barroso, se eles tivessem vergonha.
E há a pelagem do animal. Numas fotos o bode é preto com malhas brancas, noutras é branco com malhas pretas e noutras as malhas são brancas, cor de laranja, castanhas e grisalhas.
Cada jornal publicou uma foto diferente da diabólica besta, o que só abona a favor da versatilidade artística do animal e da criatividade dos fotógrafos. Graças a isso, os leitores podem escolher o bode que mais lhes agradar. A cada um o seu bode, digamos assim.
Há quem acredite que a imagem verdadeira do bode é aquela que foi desenhada em alguns calhaus do Vale de Ocreza, em Mação, pelos homens das cavernas, mas eu sou como o S. Tomé. Para acreditar tenho que ver a ornamentação do bicho. Tenho que sentir nos lombos a fantástica cornadura mediática.
Vou deixar as fotos do bode em paz e falar-te da quarentona de Benavente que abalou para férias sem avisar a aldeia. Mal ela sabia que era amada ao ponto de ter andado o povo e a GNR à sua procura, dias e dias por todo o lado imaginando-a raptada por marcianos.
E os jornais ajudaram à festa. Pespegaram-lhe com uma foto nas edições online, vestida com uma camisa tipo pele de leopardo. Um sucesso, como imaginas. Não se sabe onde andou a desaparecida e com quem, mas nunca ela imaginou ser mais famosa que algumas daquelas marmanjas que andam a mugir cabras, para conseguirem namorar com o agricultor.
O que te digo é que aprendi muito com o caso da quarentona de Benavente. Ir de férias sem avisar o pai, a mãe, a vizinha, o cão, o gato, o padre, o presidente da junta e todos os amigos do facebook, é coisa que nunca mais farei.
Alguns dirão que tenho direito à minha privacidade e, se calhar, foi isso que pensou a mulher leopardo. Mas uma coisa são os direitos e outra é a enternecedora solidariedade de vizinhos, guardas republicanos e familiares mais ou menos remotos.
Os activistas que, entre outras coisas, querem acabar com o prazer dos que gostam de touradas juntaram-se para os insultar. E como eles gritavam e abanavam cartazes à passagem de quem quer que fosse entrar na praça do Campo Pequeno. Estavam ainda mais possessos que os activistas anti-vacinas que chamaram assassino ao vice-almirante das vacinas e compreende-se porquê. Salvar toiros dá muito mais adrenalina do que salvar as incautas pessoas que querem levar a pica.
Termino com uma referência ao candidato independente à presidência da União Freguesias Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, António Inácio. Para desmentir quem o acusa de ter sido condenado por corrupção ou coisa que o valha, publicou no Facebook um certificado de registo criminal limpinho. Foi um gesto bonito mas que lhe deve ter arruinado a carreira política. Olhando para a realidade, quem é que, hoje em dia, vota num anjinho assim?!
Saudações diabólicas
Manuel Serra d’Aire