Foi com surpresa que Paulo Machado acordou numa das manhãs a seguir à Câmara do Entroncamento ter mandado encerrar a actividade industrial do estaleiro da Hidrobetão e constatou que a empresa continuava a laborar normalmente. Segundo explicou a O MIRANTE, o ruído causado pelas marretas e máquinas vibratórias, e o cheiro a combustível, mantêm-se, tornando-se insuportável para os moradores da Rua José Gomes Ferreira viverem naquelas condições. “Continua a ser um martírio viver aqui. Todos os dias, inclusive ao fim-de-semana, sentimo-nos a viver num inferno”, lamenta.

Recorde-se que O MIRANTE já tinha dado conta, na edição de 17 de Junho, da situação desconfortável que os moradores têm vivido por causa da actividade da empresa. Há residentes que têm as paredes com fissuras e azulejos partidos, resultado da alta vibração que se faz sentir.

No dia 19 de Agosto o presidente e a vice-presidente da autarquia, Jorge Faria e Ilda Joaquim (PS), utilizaram as páginas oficiais do município na internet para anunciarem, com direito a fotografia, que a actividade da empresa, que labora no antigo estaleiro da Silvério e Melro, situado na zona da Barroca, tinha sido encerrada por falta de licenciamento e após esgotado o prazo concedido para regularização da situação.

Para Paulo Machado foi mais uma forma de atirar areia para os olhos das pessoas e demonstra bem que o executivo de maioria socialista não quer resolver o assunto revelando “desrespeito e desconsideração pelos moradores”.

O morador, que tem dado a cara com o objectivo de repor a qualidade de vida dos residentes na zona, diz que a atitude do executivo municipal revela falta de proximidade com as pessoas. “Reuni mais de duas dezenas de moradores e enviei, há vários meses, um abaixo-assinado para o presidente que até agora não mereceu qualquer resposta. Tenho enviado vários emails a denunciar a situação, mas também nunca obtive resposta. É uma situação incompreensível, mas vou continuar a insistir”, garante.

OPOSIÇÃO DIZ QUE ENCERRAMENTO É UMA “FARSA”

O desassossego que os trabalhos industriais da Hidrobetão têm provocado nos moradores tem sido debatido frequentemente nas reuniões de executivo, desde Dezembro de 2020, por insistência dos vereadores do Bloco de Esquerda.

Só em Abril de 2021, depois de os moradores terem apresentado queixa na PSP (Polícia de Segurança Pública), o executivo municipal deliberou avançar com a notificação para que a laboração do estaleiro de construção civil fosse interrompida. Foi só nessa altura que o presidente da câmara assumiu ter consciência da gravidade do problema e garantiu que iria repor a legalidade da situação.

Os vereadores do Bloco de Esquerda, um dia depois de anunciado o encerramento da fábrica, emitiram um comunicado, afirmando que a medida foi “uma farsa” e “encenada para a fotografia em campanha pré-eleitoral”. Os autarcas referem ainda que os socialistas têm desprezado o bem-estar dos moradores e sido complacentes para com uma “actividade ilegal e fortemente perturbadora do ambiente”.
O MIRANTE pediu esclarecimentos à Câmara Municipal do Entroncamento mas até ao fecho desta edição não obteve qualquer resposta.