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Nuno ‘Pintas’ aprendeu a voar em cima de uma bicicleta
Nuno Barroso, mais conhecido por 'Pintas'", foi campeão nacional da modalidade de Dirt Jump oito anos consecutivos

Nuno ‘Pintas’ aprendeu a voar em cima de uma bicicleta

Nuno Barroso, mais conhecido por ‘Pintas’, foi campeão nacional da modalidade de “Dirt Jump” oito anos consecutivos. Natural do Arripiado, concelho da Chamusca, já percorreu o mundo a fazer acrobacias em cima de uma bicicleta. A O MIRANTE confessa que gosta de correr riscos e que aprendeu a vencer o medo enfrentando-o com o espírito aventureiro que o caracteriza.

Se fazer cambalhotas e piruetas partindo com os pés do chão exige muita perícia, o grau de dificuldade aumenta quando as acrobacias são realizadas em cima de uma bicicleta suspensa no ar; é assim para a generalidade das pessoas, menos para Nuno ‘Pintas’ Barroso, natural do Arripiado, aldeia do concelho da Chamusca.

A facilidade e a coragem com que executa saltos de bicicleta com mais de uma dezena de metros, ao mesmo tempo que faz piruetas e mortais, são dignas de um predestinado. No entanto, por trás do aparente à vontade está um jovem de 27 anos que já caiu centenas de vezes, colocando em risco a própria vida, e que aprendeu a vencer o medo através das muitas horas de entrega e dedicação à modalidade.

O MIRANTE encontra-se com Nuno Barroso na pista onde costuma treinar, num terreno privado no Arripiado, um mês depois de ter sido pai de uma menina. Com a paternidade sente que as responsabilidades e a noção de perigo aumentaram. Ainda assim, continua a sentir a necessidade de adrenalina e satisfação por se sentar em cima da sua bicicleta. “Se não andar de bicicleta e não der estes saltos não sou eu. Sou praticamente o único no país a praticar Dirt Jump e vou continuar a fazê-lo porque preciso de me sentir realizado”, confessa.

A aventura começou aos 11 anos em conjunto com uns amigos na escola. Rapidamente percebeu que tinha o dom de lidar com o medo e a perícia necessária para quase nunca cair da bicicleta. Aos 14 anos sagrou-se campeão nacional de Dirt Jump pela primeira vez e voltou a repetir o feito nos sete anos seguintes. Só deixou de o ser porque há cerca de cinco anos que não se pratica a modalidade em Portugal. A partir daí o número de praticantes caiu drasticamente, sendo que alguns dos “sobreviventes” ainda são convidados para demonstrações sobretudo em eventos camarários e festas privadas.

Nuno Barroso admite que o facto de ser um desporto que coloca em risco a saúde física também é um factor determinante para a queda do número de atletas. “O pessoal começa com uma grande pica, mas depois descobre que isto aleija e desiste. Aceito, mas custa-me ver as pessoas desistirem ao primeiro obstáculo”, afirma.

O DRAMA DAS LESÕES E A DEDICAÇÃO AO TRABALHO

Em cerca de quinze anos de carreira sofreu várias lesões graves; partiu as duas clavículas, quase todos os dedos das mãos, pés, braços e chegou a estar sem treinar dois meses. “Isto é a minha droga. Fazer um salto de oito metros em altura e 12 em comprimento dá-te uma sensação de poder e realização indescritível”, revela.

‘Pintas’ reconhece que uma das razões para não ter conquistado mais troféus internacionais foi a falta de tempo para treinar e o facto de o fazer quase sempre sozinho. Ainda assim, já percorreu o mundo em cima da bicicleta passando por países como Inglaterra, Rússia, Suíça, Espanha, Itália e Macedónia, por exemplo. Ganhou etapas do campeonato do mundo chegando a vencer prémios de milhares de euros.

No seu reportório, Nuno Barroso tem um conjunto de manobras em que foi o primeiro, a nível mundial, a executá-las. Numa, por exemplo, dá duas voltas com o corpo à bicicleta enquanto roda duas vezes o volante.

A humildade é o ingrediente principal dos campeões, diz. Nuno Barroso não esconde o orgulho de ter crescido numa família trabalhadora e de, também ele, ter sido ensinado a colocar o trabalho em primeiro lugar (ver caixa). Embora sinta alguma mágoa por não ter ido mais longe no Dirt Jump, nomeadamente ser campeão mundial, sabe que os valores e o carácter que desenvolveu são o mais importante para a construcção da sua família.

Questionado sobre se vê com bons olhos ter a filha como parceira de treino daqui por uns anos, não hesita na resposta: “Teria todo o gosto, embora saiba que o mais provável era o meu coração não aguentar”, afirma com um sorriso no rosto.

Um homem de família que tem o pai como referência

Nuno Barroso diz que começou a formar-se como homem a partir do momento em que, ainda criança, passou a ajudar o pai, também ele Nuno Barroso, no negócio de família. Uma carvoaria, de cariz mais artesanal e com cerca de sete fornos, é o sustento da sua família há mais de duas décadas.

“Pintas” gosta de ser o braço direito do pai e assume que, embora tenha pensado várias vezes em mudar de vida, nunca quis desiludir o pai. “Não é obrigatório que os filhos continuem o negócio dos pais, mas sempre senti essa responsabilidade. Sinto que lhe faço falta e ele merece a minha dedicação porque tem sido um exemplo para mim”, afirma com emoção.

O trabalho é duro e por isso nunca precisou de ir para um ginásio; conduz máquinas e tractores, racha lenha, tira cortiça, enche fornos, tira carvão, tudo isto com as ajudas do pai, do avô e de mais dois funcionários que também são amigos. “Sem dúvida que o trabalho e as responsabilidades impediram-me de ser um atleta melhor, mas tornaram-me numa melhor pessoa. Aprendi a sacrificar as coisas que menos interessam e a dar mais valor à família. É com base nestes princípios que vou educar a minha filha”, sublinha.

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