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Associação Abrigo acolhe mais de 150 animais sem dono
Adélia Oliveira, Michele Muñoz e Rita Santos cuidam dos mais de 150 animais da Abrigo

Associação Abrigo acolhe mais de 150 animais sem dono

Mais de 150 animais abandonados estão ao cuidado da Associação Abrigo, de Vale do Paraíso. Mal tratados por antigos donos, abandonados por outros, não lhes falta agora amor mas são poucas as mãos para dar conta do recado.

Tommy teve casa e família nos primeiros meses de vida. Até ao dia em que a vizinhança, incomodada com o ladrar desesperado do cachorro, alertou as autoridades. O pequeno rafeiro estava sujo, magro, sem água nem comida em casa, enquanto os seus donos gozavam férias. O caso seguiu para tribunal e Tommy, um dos 170 cães acolhidos pela Associação Abrigo, na Quinta do Sol, em Vale do Paraíso (Azambuja), conseguiu recentemente luz verde da justiça para poder ser adoptado.

O caso de Tommy, relatado pela responsável pelo abrigo de animais, Adélia Oliveira, não é único nem invulgar. A cadela Linda aguarda há nove anos por uma decisão do tribunal para poder entrar para a longa lista de espera por uma nova família, que aumenta de dia para dia. “Chega a ser assustador a quantidade de vezes que a GNR liga a pedir para aceitarmos mais um animal”, diz.

Muitos dos cães que ali chegam apresentam sinais de maus tratos, doenças e subnutrição. São quase sempre abandonados pela calada da noite, longe das casas onde já moraram. São disso exemplo os mais recentes hóspedes da Quinta do Sol: cinco cachorros que a Câmara de Azambuja encaminhou para a Abrigo, por falta de espaço no canil municipal.

Segundo Adélia Oliveira, a taxa de abandono no concelho de Azambuja não tem dado sinais de abrandamento. O motivo? A falta de consciencialização e sentido de responsabilidade das “pessoas que não sentem o animal de companhia como um membro da família”. E nesses casos, quando se cansam, “porque o cão ladra muito ou estraga os móveis”, a solução é a mais cruel: o abandono na berma da estrada, às escondidas ou à porta de associações como esta. Mas também há quem dê a cara e exija que lhe fiquem com o cão, “porque era de um familiar que faleceu”. O que demonstra, lamenta a responsável, que são vistos por muitos como companhias descartáveis.

“Neste país começou-se pelo fim. Deixa-se entrar animais em restaurantes antes de se apostar fortemente em campanhas de esterilização de animais, fiscalização para travar os mal-tratados e penalizações sérias para o abandonado”, afirma.

Com fadiga, muito amor e poucos recursos

Não há um dia em que Adélia Oliveira não vá à Abrigo. “Nem no Natal, nem em feriados”, porque o abrigo tem que ser higienizado, os animais têm que comer e beber e “receber amor”. Conta com mais quatro mãos voluntárias, manifestamente “insuficientes” para a quantidade de tarefas que se multiplicam pelas divisões ao ar livre demarcadas por muros e redes, onde agrupam os animais mediante o seu temperamento. É difícil encontrar voluntários ou mesmo quem queira fazer disto o seu emprego, como é o seu caso. Conta que há uns tempos apareceu uma interessada, que na mesma manhã foi embora. “É um trabalho duro, que só quem tem muito amor pelos animais é capaz de fazer”, diz.

São exemplos desse amor Rita Santos e Michele Muñoz, ambas de 22 anos. A primeira na qualidade de voluntária, a segunda como funcionária a meio tempo, que não olha para o relógio à hora de saída. “É assim quando se gosta do que se faz”, atira Michele, a jovem peruana que frequentou a licenciatura em veterinária no seu país de origem.

A Abrigo, fundada em 1995, está neste momento sobrelotada e não é, explicam, por falta de espaço, mas por não conseguirem cuidar de mais animais. É na alimentação e no acesso a cuidados veterinários que a Abrigo trava uma luta constante. Embora recebam donativos em alimentos e tenham uma parceria com uma clínica veterinária, a associação não tem actividade económica que consiga suportar os custos. Há quatro anos estabeleceram um protocolo com a Câmara de Azambuja e passaram a receber dois mil euros mensais, dos quais 1.800 vão para ração e os restantes 200 para a pagar a água, diz Adélia Oliveira, acrescentando que num mês as despesas veterinárias rondam os mil euros, entre vacinas, desparasitação e tratamentos a animais doentes ou acidentados.

Adopção com política rigorosa

Para prevenir decisões pouco reflectidas que podem acabar em devolução, nenhum animal é “escolhido” e sai com o novo dono no mesmo dia. A ideia é dar tempo e informação à pessoa sobre a responsabilidade, gastos, imprevistos e tempo que cuidar de um cão exige. Como em Portugal a taxa de adopção não iguala “nem de perto” a de abandono, a Abrigo criou um site para a adopção no estrangeiro. Em cinco anos conseguiram encontrar família para cinco animais, todos entregues em mãos por Adélia Oliveira.

Ser voluntário ou apadrinhar um animal

Quem quiser pode tornar-se parte da família da Abrigo como voluntário ou apadrinhando um animal, bastando para isso contactar a associação através da sua página de Facebook. Os padrinhos ajudam com cinco euros mensais para a compra de alimentação ou despesas veterinárias. Pode ainda fazer-se sócio ou doar ração. Os patudos agradecem e a Abrigo também.

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