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“Nunca me senti tratada de maneira diferente por ser mulher”
Maria Rodrigues é desde Janeiro de 2020 a comandante do destacamento da GNR de Vila Franca de Xira

“Nunca me senti tratada de maneira diferente por ser mulher”

O destacamento de Vila Franca de Xira da Guarda Nacional Republicana tem uma comandante, Maria Rodrigues, que se confessa viciada em trabalho e que gosta de ter a porta do gabinete sempre aberta para os seus militares. Preza o empenho, o respeito e a competência e diz que é impossível haver um guarda para cada cidadão. Não gosta de dar entrevistas mas abriu uma excepção a O MIRANTE para, entre outros assuntos, falar de como é ser mulher num meio ainda essencialmente masculino.

Por mais esforço e empenho diário que as forças de segurança apresentem nas ruas nunca será possível pensar-se que há um militar para cada cidadão. A convicção é de Maria Rodrigues, capitão que está ao comando do Destacamento de Vila Franca de Xira da Guarda Nacional Republicana (GNR).

Tem 35 anos, está no cargo desde Janeiro de 2020 e diz estar a gostar muito do desafio, que não passa apenas pelo patrulhamento em Vialonga, Castanheira do Ribatejo e na União de Freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, Loures e Arruda dos Vinhos, mas também pela segurança do Ministério das Finanças em Lisboa e do posto fiscal do Aeroporto de Lisboa, a que se soma o Núcleo de Investigação Criminal.

“Não conseguimos chegar a todos mas fazemos o máximo que podemos para transmitir e assegurar o máximo de segurança à população. Damos todos os dias o nosso melhor. Não me irrito quando ouço dizer que passamos a vida enfiados no posto. As pessoas pensam que temos um militar para cada uma e não temos”, nota.

A responsável reconhece que quando uma vítima está em aflição a percepção do tempo é acelerada e um minuto parece uma hora. “Mas temos de manter a calma para poder ajudar as pessoas. Às vezes há ocorrências graves e situações que podem esperar. É preciso ter prioridades. Mas tentamos sempre, ao máximo, fazer o nosso melhor. E recebemos muitos agradecimentos também”, confirma.

Maria Rodrigues é natural de Paredes de Coura e vive em Sobral de Monte Agraço mas já conhecia Vila Franca de Xira pelos seus passeios ribeirinhos, que usa com regularidade nas suas caminhadas. No destacamento é uma das dez mulheres num universo superior a 170 militares.

“Não vejo a profissão como masculina ou feminina. Nunca senti que fosse tratada de maneira diferente por ser uma mulher”, garante a comandante, considerando que o trabalho, dedicação e competência fazem a diferença na profissão. Quando chegou ao cargo reconhece que alguns elementos mais velhos do posto a tratavam de forma protectora mas com o tempo isso foi mudando. “Temos uma grande camaradagem e tenho um grande orgulho nos meus militares”, confirma, avisando que há uma barreira que nunca pode ser ultrapassada: o respeito.

“Apesar de ser uma pessoa acessível e que tem sempre a porta do gabinete aberta, eles sabem que há limites e o principal é o respeito. É uma linha que não é ultrapassável”, avisa. Diz que a sua posição não afecta o conciliar da vida profissional com a vida familiar. É viciada em trabalho e por isso a missão vem sempre primeiro. “Em casa habituámo-nos ao nosso estilo de vida e às exigências da profissão”, confessa. Diz que não gosta de gerir com punho de ferro mas sim liderar pelo exemplo e consenso.

Menos crime graças à pandemia

Maria Rodrigues é uma capitão que gosta de ter os seus homens na rua e aposta num policiamento de proximidade e prevenção sempre que possível. Em particular em Vialonga, uma vila multicultural e com alguns bairros que requerem atenção, como a Icesa ou o Casal dos Estanques. Não gosta de ser pessimista e diz que a população pode sentir-se segura. “No primeiro confinamento a criminalidade foi praticamente inexistente mas chegámos ao final do ano com números praticamente semelhantes ao ano anterior”, explica. Este ano ainda não há números finais mas a tendência é para que a criminalidade desça. “Os números de 2021 vão ser ligeiramente abaixo do ano anterior, nada de significativo mas não temos tido registo de grandes incidentes graças ao patrulhamento e à proximidade que se tem criado. Temos conseguido reduzir a criminalidade violenta que traz alarmismo para a população”, explica.

Sem familiares ligados à vida militar, foi na escola, numa acção de sensibilização da GNR, que Maria Rodrigues decidiu seguir essa carreira. Hoje não se vê a fazer outra coisa. Já viveu situações complexas, nenhuma delas no concelho vilafranquense. Diz que o dever dos militares é fazer cessar um crime ou ilícito e por isso não tece comentários quando vê os tribunais, por vezes, libertarem quem foi detido para aguardar julgamento em liberdade.

“Não podemos tomar as decisões dos outros. O nosso sistema jurídico é dos mais protectores dos direitos das pessoas e separa bastante bem as diferentes áreas. Vivemos em sociedade e cada um tem de desempenhar as suas funções”, afirma.

Diz que todos os dias há novos desafios a superar e por isso tenta fazer sempre parte da solução e nunca do problema. “Temos de ficar com a consciência de que fizemos o melhor de nós com o que temos. Procurar fazer melhor a cada dia e nunca estarmos satisfeitos com o que temos. Não são as limitações que nos travam”, defende.

“Nunca me senti tratada de maneira diferente por ser mulher”

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