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Filarmónica Benaventense a dar música há 150 anos
Banda da Sociedade Filarmónica Benaventense vai assinalar o 150º aniversário com um concerto a 1 de Novembro

Filarmónica Benaventense a dar música há 150 anos

Banda de Benavente continua a ser um pólo de dinamização cultural onde cabem músicos de todas as gerações. O MIRANTE acompanhou o ensaio de preparação da banda principal para o grande concerto de aniversário que vai marcar o regresso aos palcos.

Tiram-se os instrumentos dos sacos, abrem-se as pautas e dividem-se os naipes. À indicação do maestro a sala enche-se de música. Toca-se o Hino à Alegria da nona sinfonia de Beethoven. À concentração dos músicos junta-se o entusiasmo e a ânsia de saber que dali a dias vão subir a palco e mostrar, em forma de melodia, o orgulho que sentem em pertencer à banda principal da Sociedade Filarmónica Benaventense, que está a celebrar 150 anos.

Santiago Mateus tem apenas nove anos. Toca na banda há dois e é o elemento mais novo entre as três dezenas de músicos que a compõem. No penúltimo ensaio antes do concerto de aniversário, com o “nervoso miudinho” em modo crescente, o jovem músico empenha-se em não falhar uma nota no clarinete que herdou da mãe.

O concerto de aniversário, que se realiza a 1 de Novembro no Cineteatro de Benavente, “era para ser o culminar de um ano cheio de eventos, que acabaram adiados por causa da pandemia”, explica o presidente da direcção empossada em 2020, Davide Lima. O repertório “é surpresa” avisa o maestro João Dias revelando que não vai faltar o pasodoble Spend Melody e o hino da colectividade.

O certo é que um concerto desta filarmónica nunca se faz apenas de música popular ou de grandes clássicos. Há uma transversalidade musical sem barreiras que vai das tradicionais rapsódias, ao rock e ao jazz. O motivo? Músicos de várias gerações tocam para públicos de todas as idades.

José Branco pertence à geração mais antiga. Tem 62 anos e está na banda há 52. O saxofone foi uma paixão tão grande que “nunca mais o quis largar”, desde o tempo em que a colectividade era o único contacto da população da vila com a cultura musical. “A alegria de tocar” é o seu vício e escape agora que está reformado.

A música continua a ser o parente pobre

Há uma década que o maestro João Dias, músico na Banda Sinfónica da PSP, dirige a banda da sociedade filarmónica. Já a viu atravessar diversas fases, ora harmoniosas, ora mais pobres musicalmente, devido à falta de músicos. “Felizmente, nos últimos anos temos vindo a crescer depois de uma perda significativa por causa da emigração que veio com a crise”, declara.

“Muitos aprendem a tocar na nossa escola, passam pela banda juvenil, entram na principal e depois abandonam quando vão para a faculdade”, completa Davide Lima, acrescentando que “são raros os músicos que ficam durante décadas”.

Nos tempos de juventude do saxofonista José Branco, e na altura em que o pai de Davide Lima integrava a banda, o cenário era outro. “Os jovens daquele tempo não tinham nada, até se atropelavam para vir para a banda”, conta o presidente da direcção notando que muitos vinham para poder ver televisão na sala de convívio da colectividade, porque em casa não tinham nenhuma.

“Hoje a primeira coisa que os miúdos aprendem a mexer é no telemóvel. Depois os pais põem-nos em tudo o que é actividade: futebol, natação, ginástica. E a música continua a ser o parente pobre, a quinta divisão quando deveria ser a primeira”, defende o maestro, considerando que a não valorização do ensino musical é um “problema cultural” em Portugal. E acrescenta, com convicção: “Um país mais culto é um país mais desenvolvido. Cabe a quem governa perceber isso”.

Para Anita Pereira “a música é tudo”. Começou ali, no edifício onde agora ensaia com a sua flauta transversal para o concerto de aniversário, a aprender piano aos quatro anos. Hoje, com 18, além de integrar a banda é professora na escola de música da colectividade e frequenta o curso superior de instrumentista de sopros e percussão na Academia Nacional Superior de Orquestra, em Lisboa.

“Não sei fazer mais nada a não ser música. As oportunidades são escassas, mas acho que há futuro para quem se empenha de corpo e alma”, diz a jovem, natural de Samora Correia, que nasceu no seio de uma família de músicos e sonha ser instrumentista da Orquestra Metropolitana de Lisboa.

Despertar os mais novos para a música

Em 150 anos a Sociedade Filarmónica Benaventense já organizou bailes, peças de teatro, arruadas, concertos e centenas de convívios. Em 2021 o seu foco principal continua a ser o ensino da música. São mais de 40 os alunos que estão a aprender canto ou a tocar um instrumento de sopro, percussão ou cordas na escola de música; e são cerca de uma dezena os que compõem a banda juvenil. O grande desafio é aumentar o número de aprendizes para que “pelo menos alguns possam vir a integrar a banda principal”, refere o presidente da direcção.

A Sociedade Filarmónica Benaventense desempenha ainda uma função social junto das crianças que frequentam o infantário e primeiro e segundo anos do ensino primário através do Centro de Apoio à Família, onde desenvolvem actividades.

Filarmónica Benaventense a dar música há 150 anos

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