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“Mulheres do Meu País” na sede do P.I.P.A. na Azinhaga
Ana Matos (à esquerda) e Raquel Freire (à direita)

“Mulheres do Meu País” na sede do P.I.P.A. na Azinhaga

A aldeia da Azinhaga, terra de José Saramago, ganhou uma associação (P.I.P.A.) que promete trazer para o interior o melhor que se faz na cidade ao nível da arte visual e da palavra.

Decorreu no dia 22 de Outubro, no espaço P.I.P.A., na Azinhaga, a sessão de cinema “Mulheres do Meu País”, seguida de uma conversa com a realizadora Raquel Freire. O filme é um magnífico documento sociológico e estético sobre a realidade das mulheres portuguesas atravessando os sete critérios clássicos da desigualdade: interioridade, discriminação de género, discriminação económica, discriminação étnica, o acesso a profissões tipicamente masculinas, a violência doméstica, a discriminação devido à incapacidade física ou à orientação sexual.

Encontramos 14 personagens a representar os diversos segmentos da exclusão e da resiliência e que nos mostram como a dignidade é a palavra-chave depois de um intenso trajecto da emancipação. Há no filme um manancial de ternura, força, nobreza e sensibilidade que consegue abrir o espectro de todas as nossas emoções insuflando-nos a sabedoria da coragem.

Como diz no filme a personagem (e mulher bem real) Ângela Pica: “Não devemos, nunca, permitir que nos reduzam ao ponto de cabermos no mundo de alguém”. Ângela foi, durante muitos anos, vítima de violência doméstica e reaprendeu o caminho da liberdade. Como ela, o fizeram também Leonor Freitas, empresária do sector dos vinhos; Maria José Neto, pescadora de alto mar; Lúcia Vaz, imigrante cabo-verdiana, empregada de limpeza; Adelaide Costa, engenheira do ambiente e bombeira; Alice Cunha, mulher transgénero, estudante de Artes; Maria do Mar Pereira, socióloga e investigadora sobre as questões de género; Mynda Guevara, rapper; Maria João Pereira, bailarina do grupo “Dançando pela Diferença”, Clara Queiroz, bióloga e investigadora, Maria Inácia e Perpétua Flores, artesãs; Márcia Sousa, pasteleira e Toya Prudêncio, cigana, activista e estudante universitária.

A acrescentar a estes 14 nomes, é também importante o nome de Maria Lamas (jornalista, nascida em Torres Novas em 1893) que publicou em 1948 a obra “Mulheres do Meu País”, em pleno regime fascista, como reacção ao encerramento do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Maria Lamas decidiu, então, percorrer o país até à mais recôndita interioridade para perceber como vivia a mulher portuguesa e quais as vulnerabilidades que se escondiam por trás dos discursos oficiais da época.

Este viria a ser o livro de cabeceira de Raquel Freire, que se apaixonou pelo testemunho e o procurou reeditar no Portugal de hoje dizendo-nos, em jeito de síntese, que o filme trata, no fundo, “do acesso das mulheres à educação, relatando o modo como a educação e o acesso à informação e à cultura lhes deram as ferramentas para lidarem com as opressões sistémicas”. Diz-nos, ainda, em termos de balanço: “Com este filme e com a história destas mulheres eu aprendi o amor; como é fundamental nas nossas vidas”. Maria do Mar Pereira, uma das mulheres no nosso país, confirma as palavras de Raquel: “Dá muito trabalho lembrarmo-nos do que é mais importante, mas ser feliz é, também, um acto político”.

O que é o PIPA

O P.I.P.A. - Programa da Imagem e da Palavra da Azinhaga é um projecto cultural na aldeia da Azinhaga que visa desenvolver um conjunto de iniciativas tendo como linhas de actuação as Artes Visuais e a Palavra. Este projecto, criado por Ana Matos e Cláudio Garrudo, articula-se com a Associação “Isto Não é um Cachimbo” (criada em 2013 com o objectivo de produção, promoção e divulgação de actividades culturais com enfoque na arte contemporânea) e conta com o apoio da Junta de Freguesia da Azinhaga e da Câmara Municipal da Golegã.

Com o pressuposto de que “Nem a arte nem a literatura têm de nos dar lições de moral. Somos nós que temos de nos salvar e isso só é possível com uma postura de cidadania ÉTICA, ainda que isto possa soar antigo e anacrónico” (José Saramago), o projecto P.I.P.A. augura uma boa caminhada de irreverência, inovação, partilha artística e produção estética.

“Mulheres do Meu País” na sede do P.I.P.A. na Azinhaga

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