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Os varapaus do poder, as infecções de gente bem e o absolutismo informativo

Poderoso Serafim das Neves

Na tomada de posse dos eleitos de Torres Novas lá apareceram eles de cajado nas unhas. Dizem que aquelas varas simbolizam o poder, embora o poder actual seja exercido com outros argumentos. Que o diga o homem das barbas de Abrantes, Jorge Dias de seu nome, que foi, no ano passado, a uma reunião do executivo municipal lá da terra, com um varapau daquele género e acabou por passar o Natal na prisão.

Noutros municípios também houve símbolos de poder nas tomadas de posse, mas não foram varas. Na Barquinha os eleitos levavam ao pescoço uns colares parecidos com os dos escansões e das confrarias vínicas. Em Ourém também eram colares mas de outro género.

Espero que este gostinho por artefactos de outras épocas em que ainda não se tinham inventado eleições livres, não faça alguns sonharem com reuniões autárquicas medievais, por exemplo. E que não passe a ser obrigatório o uso de trajes históricos, nem seja aberto qualquer concurso para aquisição de mulas e de carroças para transporte municipal, só porque é ecológico.

Na tomada de posse dos autarcas de Azambuja não houve peste negra, mas houve Covid-19 e na primeira reunião de câmara faltaram logo três vereadores. Foram testados novos e antigos autarcas mas, desta vez, há menos alarido do que na altura em que houve um surto num bairro social lá da terra, o que se compreende. Uma coisa são pessoas irresponsáveis que, para além de terem rendas em atraso, não respeitam as regras sanitárias, e outra são cidadãos cumpridores que tiveram azar. E um azar acontece a qualquer um, não é verdade?!

E continuo este e-mail com mais matéria autárquica. Depois da frase “O Estado Sou eu” do rei francês Luís XIV e da famosa declaração: “Eu é que sou o presidente da junta”, do Herman José, já vai sendo tempo do omnipotente e omnipresente, presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro, proclamar no seu Facebook: “A câmara municipal sou eu”.

A proclamação do seu estatuto de Rei Sol da terra da caralhota e da sopa da pedra contribuirá definitivamente para que os seus súbditos percebam que se quiserem saber a quantas andam e a quantas anda a sua terra não devem perder tempo a consultar os, cronicamente desactualizados, canais informativos da autarquia.

No Facebook do monarca...perdão...do autarca, está lá tudo e em primeira mão, sejam festivais, inaugurações, obras, concursos, espectáculos, decisões, opiniões, rescisões, infecções, conferências, vacinações, esterilizações, cavaquinhos, guitarras ou acordeões.

O absolutismo informativo é avassalador, torrencial, vulcânico. E para além de publicar, ele comenta, responde, repreende, aplaude e aplaude-se e limpa diligentemente, qual pai atento e zeloso, tudo o que possa causar azia, seja a ele ou aos que o incensam.

Os críticos dirão que ele ainda não faz os relatos dos jogos de futebol das equipas do concelho ou dos jogos de hóquei em patins do Tigres. A esses aconselho calma. Não me admirava nada se um dia destes, das entranhas do Facebook, emanasse o seu glorioso grito de....gooolllooo!!!

Nas autárquicas de Setembro ele ganhou com mais de 68 por cento. Foram 5.644 votos. Podes pensar que foi muito, mas não foi. No facebook ele tem mais. Muito mais. São 6.971 seguidores. E se na câmara tem um vereador da CDU para o melgar, no facebook não tem oposição.

Saudações democráticas

Manuel Serra d’Aire

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